quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Yuki e Nina, por Carlos Antunes



Título original: Yuki & Nina
Realização: Hippolyte Girardot e Nobuhiro Suwa
Argumento: Hippolyte Girardot e Nobuhiro Suwa
Elenco: Noë Sampy e Arielle Moutel

Nada há de infantil em observar a forma como as crianças lidam com o divórcio dos pais.
Os seus recursos são menos desenvolvidos mas a frontalidade e a imaginação com que os aplicam são
As crianças reagem como crianças, com a intensidade madura que também tem qualquer adulto limitada apenas pelas ferramentas imberbes que têm.


Esse é o belo filme que nos é apresentado, da visão das crianças sobre os conflitos do amor. As perguntas secas e radicais que nenhum adulto tem o despudor de colocar e que para as crianças são as únicas que interessam.
A incompreensão delas é enorme, mas não maior do que a dos próprios pais.
A mãe de Yuki chora à sua frente e o pai confessa-se a ela. Ela não é um bem do qual se disputa a custódia, é alguém de quem esperam que prossiga com a sua nova vida, tal como eles.
As crianças ficam ao nível dos adultos nos sentimentos e na preponderência.


Mas esse não é todo o filme que vemos. Há outro que se lhe segue, uma segunda metade mais contemplativa, mais
As crianças em fuga pela floresta, esquecendo a realidade e sendo felizes. A simbologia da ausência dos adultos e das suas racionalizações sobre as coisas escrita naquele espaço intocado pelo homem desvirtua a evidência de força que recaía sobre aquelas crianças.
A sua fuga acaba por ser vista como a expressão máxima da birra.
Até porque esse espaço - geográfico e narrativo - do filme não está devidamente delineado.
Os acontecimentos que ocorrem durante esse périplo pela floresta não são justificados. Parecem pensados como contemplação, como se de o destino de Yuki - o Japão - justificasse aqueles pequenos desencontros.


As crianças serão crianças mas os adultos, nos seus silêncios e amuos, serão mais crianças do que elas.
Essa é a mensagem que o filme melhor deixa ao espectador. Um filme que são afinal dois, desencontrados.
Se o filme fosse só a sua primeira parte, seria um dos filmes mais singelos e fortes do ano que terminou. Mas no seu conjunto, é uma viagem que perde o rumo.


1 comentário:

  1. Gostei bastante do filme. Acheo que o filme se vai desenvolvendo conforme a racionalidade das crianças (da Yuki, mais precisamente) entendem a separação dos pais. Como se tudo deixasse de fazer sentido e com isso entramos numa fase mais onírica (a segunda parte do filme). Achei um filme de uma candura arrebatadora.
    8/10 - Muito bom

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