domingo, 15 de maio de 2011

Cannes 2011: Dia 4 e 5



Muitos filmes passaram por Cannes ao quarto e quinto dia do mais importante evento cinematográfico do ano. Fora de competição, mas um agregador de estrelas na passadeira vermelha, a estreia de Pirates of the Caribbean: On Stranger Tides aconteceu debaixo de grande aparato, especialmente com a presença dos protagonistas Johnny Depp e Penélope Cruz. Embora todo esse mediatismo, o filme não convenceu. A crítica considerou o filme «aborrecido e repetitivo», com uma «história linear», que parece «desprezar o espectador», não contando com qualquer momento de tensão.



Já no que diz respeito à competição oficial pela Palma de Ouro, Joseph Cedar apresentou Footnote. A comédia israelita esteve longe de agradar toda a crítica, havendo quem se demonstre «com dificuldade em encontrar algo positivo», num filme com «pouca ambição formal», mas também que a tempos revela «diálogos engenhosos» e com um «tom adequado a um brilhante retrato da competição entre intelectuais».



Mas a grande surpresa pelo seu choque veio de Markus Schleinzer, habitual colaborador de Michael Haneke como director de casting, que apresenta a sua estreia na realização e argumento com Michael. Inteiramente filmado do ponto de vista de um pedófilo (com semelhanças ao caso do austríaco Josef Fritzl), capta a realidade com «fidelidade apavorante», «reduzindo a narrativa a duas personagens» e «explorando a maldade», «ensinando o antes e o depois, mas nunca o durante». Ao mesmo tempo, o realizador evitou propositadamente o julgamento e explicação moral, tendo como consequência reacções distintas: aplausos e vaias. À parte da polémica, há quem afirme que o filme «movimenta-se pela inércia».



O quinto dia foi marcado pela estreia da nova longa-metragem dos irmãos Dardenne (que já venceram a Palma de Ouro por duas vezes). Le gamin au vélo é a quinta participação dos dois cineastas no Festival de Cannes, com protagonismo da francesa Cécile De France. Há quem afirme que esta é o início de uma «subtil incursão ao mundo mainstream», havendo quem tivesse a certeza de estar a ver «algo muito especial», com uma fórmula que «produz resultados frescos e produtivos». O trabalho de Cécile De France é descrito como «assombroso» e o de Thomas Doret como profundamente «energético», numa rara combinação estável enquanto a narrativa abraça simultaneamente «o naturalismo e algo mais mítico ou até bíblico».



Também The Artist foi uma das grandes surpresas do dia. Descrito como o «crowd pleaser do festival», o filme de Michel Hazanavicius cativou toda a audiência pelo arrojo de apresentar um filme mudo, filmado a preto e branco. Considerado «inteligente, repleto de humor e solidário» foi uma das obras mais aplaudidas até ao momento, havendo quem se arrisque a considerá-lo um sério candidato à Palma de Ouro. Foi considerado um filme que «emprega todos os truques e tiques do cinema mudo com prudência» e todo o «ritmo emocionante e musical dos melhores», sendo «carinhosamente divertido, sentimental, bonito e respeitoso». Comprado para distribuição nos Estados Unidos por Harvey Weinstein, há quem afirme que é possível que o filme consiga chegar aos Óscares 2012.

Destaque ainda para o novo filme do iraniano Mohammad Rasoulof, apresentado na secção Un Certain Regard: Goodbye. O cineasta encontra-se preso no seu país e impedido de filmar, pelo que este é um filme clandestino «influenciado pela política e tensão social», versando sobre uma temática polémica no Irão: o aborto. O filme é sobre uma advogada que tenta obter permissão para deixar o país, mas precisa da autorização do marido que não se encontra presente. Aqui «não há espaço para o optimismo», numa «narrativa lenta e linear» feita de cenas «longas e estáticas».



Na secção Semana da Crítica, destaque para a primeira longa-metragem de Pablo Giorgelli: Las acacias, descrito como «uma grande promessa argentina», um «road movie deslumbrante» ou o segundo trabalho de Jeff Nichols (Shotgun Stories), Take Shelter, tido como a confirmação de um cineasta da nova geração americana a ter em conta. Já a sensação indie do Festival de Sundance, Martha Marcy May Marlene foi considerado «subtil, horrorífico e sufocante», mas sem se conseguir perceber qual o seu objectivo, dada a sua «pose e afectação», enquanto que Les neiges du Kilimandjaro é tido como um filme «com grandes ideias, mas com respostas fáceis». Ambos os filmes competem na secção Un Certain Regard.

Fora de competição, o filme Wu xia, de Peter Chan, é um remake de The One-Armed Swordsman (1967) com uma «fascinante história e excelentes sequências de acção», que peca porém pela excessiva duração de algumas cenas e pelas «pontas soltas do argumento».

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