sábado, 27 de agosto de 2011

A Conspiradora, por Carlos Antunes


Título original: The Conspirator

Em 2007 Redford assinou Lions for Lambs com uma intenção política que chegava na altura certa e agora, ainda que tenha filmado uma reconstrução histórica, o seu objectivo discursivo é o mesmo mas o tempo está completamente errado.
Se este filme tivesse surgido há quatro ou cinco anos, durante o mandato de George W. Bush, seria compreensível que Robert Redford estivesse a demonstrar como a História Americana se repete e, apesar disso, os seus políticos nada aprendem com ela.
Quase 150 anos depois dos eventos filmados por Redford,os EUA voltavam a alienar os direitos humanos dos seus cidadãos em nome de desígnios maiores. Desígnios a que deram sempre o nome de Justiça mas que eram uma mistura de desnorte, vingança e medo.
Perseguiram terroristas e, na altura como recentemente, confundiram inocentes com culpados à conta do envolvimento social e comunitário que tinham.
A destruição dos valores e a perda da inocência. Esses são os temas que Redford quer filmar, abusando do simbolismo até ao ponto em que este simplesmente toma conta do ecrã - o pássaro levantando voo, o crucifixo embrulhado nas mãos e o olhar da criança que interrompem o caminho para o enforcamento.
Pior só a luz que persiste em inundar em claustrofobia as imagens dentro da prisão Sempre entrando a 45º não importa que horas sejam, sempre tão intensa que fere os olhos, sempre a meio caminho entre a acusação mundana e a redenção divina.
Desde logo a luz é todo um programa de Redford para este filme e, tanto física como intelectualmente, afasta o público do filme.
Até porque o caso que Robert Redford para filmar tais conceitos, a acusação de uma mãe de família que mantém uma pensão onde se reunem os colaboradores de John Wilkes Booth, é quase uma abstração teórica.
Há duas figuras que, melhor ou pior, se mantém em primeiro plano, a acusada e o seu advogado que luta por ela contra as suas convicções.
Nem o advogado nem a vítima são figuras de interesse. A sua condenação ao fracasso e à morte, respectivamente, é evidente desde o início do julgamento.
Nenhum deles se revelará importante senão como engrenagem da realidade violenta da justiça em tempos terríficos.
Compare-se este filme a Young Mr. Lincoln - um exemplo em que a figura política dominante é a mesma e o tribunal joga um papel central - e percebe-se bem que falta a A Conpiradora um propósito que eleve o humano e o extraordinário de uma das suas figuras.
A Conspiradora é meramente ilustrativo, perde o seu significado porque o procura afirmar em demasia com as armas erradas e já tarde demais.

 

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