sexta-feira, 30 de março de 2012

Um Amor de Juventude, por Carlos Antunes


Título original: Un amour de jeunesse
Realização: Mia Hansen-Løve
Argumento: Mia Hansen-Løve
Elenco: Lola Créton, Sebastian Urzendowsky e Magne-Håvard Brekke

O amor é um tema imenso que serve por si só de tema a uma obra. Quando vem da adolescência, em que tudo se vive mais intensamente, acaba mesmo por preencher tal obra sem deixar espaço a muito mais.
Esse é o problema de Un amour de jeunesse, filme em que o amor está sempre em foco para uma protagonista que vive um primeiro amor tão intensamente que, quando se vê abandonada, só muitos anos depois conseguirá recuperar à custa de um outro amor com um homem mais velho e que é também seu mentor.
Um segundo amor tão real e forte como o primeiro mas tão diferente desse que quando ele ressurge nem a nova identidade encontrada impede que ela se envolva com o rapaz que a tinha deixado.
É amor a mais para uma mulher que evolui mas que parece sempre sujeita aos caprichos do amor. A sua identidade é sempre consequência da sua submissão aos sentimentos.
Como personagem, Camille é pobre porque está afogada em amor. A sua afirmação como mulher independente não acontece.
A sua formação em arquitectura, a obra de que se encarrega e o casamento que está em marcha, nenhum desses elementos que deveriam servir para a tornar
Isso dá cabo da interpretação de Lola Créton que tem mostra intuição para sugerir um pouco mais do que o é pouco sensível no argumento.
A actriz tem, certamente, um promissor futuro (e que já trabalhou com Catherine Breillat sem que tenhamos tido oportunidade de ver essa colaboração), mas não lhe fazem justiça neste filme.
Afinal - e é a mesma ideia a voltar sempre - tudo o que o filme tem para lá do amor parecem acrescentos pouco substanciais que quase nem servem de contexto à história.
Como o périplo pela beleza arquitectónica que não tem figuração simbólica de nenhum traço de personalidade da protagonista ou do progresso narrativo que ela enfrenta.
Trata-se apenas de um prolongamento da construção visual do filme - que, com isso, se torna um pouco longo demais - que assim tem mais atenção à execução do que à substância.
Ainda que, no final, um significado maior para a história seja sugerido pela metáfora do rio que corre levando um chapéu com importância para a protagonista. Mas também isso a destrói mais um pouco como personagem pois nega-lhe a oportunidade final de se afirmar como mulher forte e, finalmente, independente.


Sem comentários:

Enviar um comentário