terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Eva, por Tiago Ramos


Título original: Eva (2011)
Realização: Kike Maíllo

Verdade que muito do que nos costuma chegar deve ser precisamente o melhor de uma larga selecção, mas não deixamos de nos sentir interessados por aquela que, ano após ano, aparenta ser uma das grandes indústrias cinematográficas em expansão: a espanhola. Aquele que nos parece ser grande parte do segredo é precisamente a criatividade de uma indústria que não parece agarrada ao cliché do drama ou melodrama, popularizado por Pedro Almodóvar, mas que começa apostar também em outros géneros, como o caso do fantástico ou terror, o qual o Fantasporto tem sido excelente em promover. Tanto que esta produção espanhola de ficção-científica nos deixa surpreendidos precisamente por imaginarmos que uma proposta do género em português parece longe da realidade.

A história de Eva não é precisamente original e é isso que mais a prejudica. A narrativa assemelha-se bastante a uma revisitação de Artificial Intelligence (2001), de Steven Spielberg, sendo por isso bastante previsível e cliché. Uma maior irreverência no argumento teria contribuído para um filme superior ao conseguido, a começar pelo título que denuncia de imediato a intenção da história e pelo sem número de referências que surgem do já referido A.I. ou de Bicentennial Man (1999), Minority Report (2002) e o recente Splice (2009). Curiosa nota ainda para a referência à história de 1001 Noites. Contudo, Kike Maíllo e a sua realização segura e inteligente, consegue fazer o espectador esquecer-se dessa fraca originalidade, deixando o espectador mais interessado no lado emocional e daí melodramático da trama, criando uma série de personagens bem construídas e pelo qual nos sentimos imediatamente atraídos. Especialmente porque grande parte desse trabalho é bem complementado pelas competentes interpretações de todo o elenco, de onde se destacam obviamente a estreia de Claudia Vega e que tem com certeza muito potencial a explorar em outras produções e o desempenho do veterano Lluis Homar (Los abrazos rotos), excelente a recriar um andróide com todas as suas nuances.

Mas é também a nível técnico que Eva surpreende. A começar pela excelente direcção de fotografia de Arnau Valls Colomer e pelos brilhantes, mas não invasivos, efeitos especiais de uma competentíssima e vasta equipa técnica. Curiosa ainda a forma como a trama explora a sociedade em 2041 de uma forma menos vistosa e aparatosa, longe de toda a parafernália esperada, deixando-a bastante mais próxima da realidade actual, utilizando até uns curiosos apontamentos vintage a nível de guarda-roupa (María Gil) ou na utilização numa cena da música Space Oddity, de David Bowie. Ou destaque ainda para os fabulosos créditos iniciais.

Eva não é original, mas é uma produção que merece verdadeiro destaque, nem que seja para verificar a vitalidade do cinema espanhol e a ascensão do cinema catalão, que ainda recentemente nos trouxe o excelente Pa Negre (2010).


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