sexta-feira, 30 de março de 2012

GfK e a polémica das audiências - A novela continua


Depois do nosso artigo que contextualizava a polémica da nova medição de audiências televisivas pela GfK há quase um mês atrás, parece que a novela está para continuar. Tal como no início, o Conselho de Redacção da RTP tem exigido durante semanas uma «clarificação imediata das audiências», algo a que o CAEM parece continuar a desconsiderar, mesmo que tente transmitir sempre um parecer idóneo e que não ponha em causa a sua escolha.

A RTP tem insistido, já que parece ser o canal português mais "prejudicado" pelos recentes dados estatísticos. Entre os já anunciados no início do mês mais casos altamente improváveis se seguiram, juntamente com uma sucessiva série de atrasos na publicação das audiências por parte da GfK que têm contribuído para descredibilizar a empresa. O director de informação da RTP, Nuno Santos, entre vários outros elementos do canal, tem encetado uma jornada visivelmente irritada perante estes acontecimentos, onde esporadicamente destaca alguns casos mais flagrantes dos potenciais "erros" no registo de audiências e até têm sido divulgadas várias peças durante o Telejornal, relacionadas com o tema. Alguns dos casos mais flagrantes registados por Nuno Santos, remontam a "apagões" nas audiências: por exemplo, a 7 de Março, segundo dados da GfK, a RTP1 não foi vista por qualquer português entre as 17h24 e as 17h54; num jogo de futebol e também no programa "Portugal no Coração", de um minuto para outro passou-se de 200 mil espectadores para zero. O mesmo tem acontecido no canal por cabo, RTP Informação ou em outros como a RTP África ou Canal Hollywood. Ainda no plano dos exemplos, o programa Cuidado com Elas, na SIC, às 02:44 regista mais audiência que a Praça da Alegria; num fim-de-semana, o programa Domingo Espectacular da TV Record conseguiu, segundo a GfK, a liderança dos canais por cabo, com mais de 60 mil espectadores: o jogo Sporting-Manchester City, exibido na SIC a 15 de Março, teve mais espectadores que o jogo do Benfica-Zenit, para a Champions League, emitido pela RTP1 duas antes antes (normalmente o Benfica é lider de audiências, desta vez registou 1,8 milhões de espectadores contra os 2,2 milhões do Sporting).

Embora a SIC não se tenha manifestado contra este novo sistema de medições (já que parece ser dos canais mais "beneficiados"), houve também alguns casos estranhos. Por exemplo, o Jornal das Nove na SIC Notícias tem num determinado dia 5.500 espectadores, quando duas semanas antes registou 42 mil, colocando o canal em valores mínimos. Em casos mais inusitados, temos por exemplo o canal angolano TPA a liderar audiências por cabo no Algarve ou cerca de 90% da amostragem de maiores de 75 anos a serem registadas no item Outros, que corresponde a outra utilização do aparelho televisivo, como jogos, gravações ou canais espanhóis na fronteira.

Curiosamente, depois de ter aparentemente ter ignorado parte desta polémica, ontem a TVI surpreende ao lançar em comunicado que iria iniciar contactos com a Marktest, antigo provedor de audiências, para a medição de audiências, já que considera que este novo sistema de medições da GfK constitui uma fonte de instabilidade, visto que labora há um mês sem funcionar correctamente. A Media Capital confirmou que ainda não assinou novo contrato com a Marktest, mas que estará para breve, já que pretende um painel mais fiável - uma das críticas da RTP tem sido a sub-representatividade da classe idosa. Do lado da TVI coloca-se a RTP que já exigiu uma auditoria externa ao novo sistema - que entretanto a CAEM já validou. Mediante estes novos dados, a Markest retirou do seu site os dados de audiências que continuamente publicava mesmo após a GfK ter vencido o concurso da CAEM. Embora a Marktest diga que esta decisão seja para evitar comparações e polémicas, não deixa de ser curiosa esta decisão que poderá reflectir um puro jogo comercial, agora que tem a Media Capital do seu lado.

Este anúncio da TVI veio gerar tomadas públicas de decisão, colocando o canal de Queluz lado a lado com a RTP1 e do lado oposto a APAN (Associação Portuguesa de Anunciantes), a SIC e agora a APAME (Associação Portuguesa de Agências e Meios) que defendem a GfK, salientado que não é aceitável a existência de dois sistemas de medição de audiências de um mesmo meio no mercado e que respeitarão o sistema aprovado pela CAEM (Comissão de Análise de Estudos e Meio), entidade que representa o sector. A ZON e a PT têm permanecido em silêncio.


De recordar que, segundo um artigo do jornal SOL, neste mês primeiro mês, a RTP1 perdeu 29% de share e a TVI 11%. Também a SIC apresenta menos 1% de share médio mensal do que tinha nos dados da Marktest. Esperam-se novidades.

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