O décimo dia de festival foi especial, principalmente pela marcante presença de Manoel de Oliveira (patrono da secção Semana dos Realizadores) junto com a actriz Fernanda Matos (a eterna Teresinha, na altura com cerca de dez anos), em comemoração dos 70 anos da estreia de Aniki Bóbó. Mal se deu a entrada do cineasta no edifício de Rivoli e uma acalorada salva de palmas fez-se sentir e a presença da imprensa foi a maior que já vi até agora no Fantasporto. A homenagem feita foi sentida, com uma sessão cheia e emocionada.
O mais interessante em 10th Day é a forma como o realizador filma grande parte deste drama social como se de uma produção de terror se tratasse: a música, a tensão, a direcção de fotografia, contribuem para um sentimento de urgência acerca da actual situação na Europa, abordando o european dream como um grande equívoco. A ideia é boa e o seu valor cresce precisamente pela consciência política, mas a narrativa não tem força suficiente grande parte do tempo, até porque torna-se preguiçoso ao abusar do uso da voz off para descrever a história. Híbrido entre documentário e ficção, ganha destaque precisamente quando se limita a documentar a realidade, em vez de a ficcionar.
The Grand Heist (2012), de Joo-ho Kim
Produção sul-coreana que emula o género heist movie, de uma forma bastante dinâmica e divertida, especialmente porque o objecto de assalto é invulgar, especialmente aos olhos ocidentais: gelo, que no século 18 na Coreia do Sul era uma comodidade mais valiosa que o ouro. O filme entretém bastante, mas também abusa demasiadas vezes no tom do seu humor, frequentemente vulgar e excessivamente físico.
Uma dos melhores filmes a concurso deste ano e com força suficiente para ganhar a secção Semana dos Realizadores (a par de Aglaja). De uma história bastante simples, com reminiscências de thriller político de espionagem, o filme não precisa de sequências intensas de acção, para manter uma tensão constante do início ao fim. Com uma realização bastante inteligente e elegante, um bom uso da banda sonora e uma direcção de fotografia que complementa o tom tenso da história, o filme destaca-se ainda pelo excelente elenco (especialmente János Kulka). Um jogo tenso, moral e psicológico, de uma grande simplicidade, mas com uma incrível pujança.
Vanishing Waves (2012), de Kristina Buozyte
Arrisco-me a dizer que este é provavelmente um dos melhores filmes que já passaram no Fantasporto, integrado na competição de Cinema Fantástico. Visualmente assombroso, o filme inicia-nos numa viagem arrebatadora e hipnótica pelos meandros da mente humana, com uma inteligência incrível, num belo romance de ficção-científica e frequentemente psicossexual. Desde a incrível banda sonora, à direcção de fotografia magistral, passando pela realização, actores e até pelo uso dos efeitos visuais, Vanishing Waves é a prova que para se fazer um excelente filme não se precisa de um orçamento muito elevado, mas sim criatividade e originalidade. São duas horas hipnóticas e incríveis, de um filme extremamente sensorial e muito belo.
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