Nono dia de Fantasporto, continuam a suceder-se os filmes de competição e pergunto-me sempre se já terei visto os filmes vencedores do certame deste ano. As minhas apostas para os prémios até agora dividem-se maioritariamente entre Forgotten (Cinema Fantástico), Pieta (Secção Orient Express) e Aglaja (Semana dos Realizadores), mas há ainda muito para ver.
Mais uma grande surpresa na competição deste ano. O filme é um sólido drama, centrado na relação entre mãe e filha, artistas de circo fugidos da Roménia de Ceaușescu, para a Hungria. Entre uma fotografia fantástica, uma edição de som brilhante e uma realização segura, destacam-se ainda as excelentes interpretações femininas. A narrativa constante e dramaticamente poderosa oferece um brilhante retrato do crescimento e das alterações sociais na Europa do Leste.
AKP: Job 27 (2012), de Michael L. Suan
Interessante e invulgar produto, sem diálogos e de uma estética distinta, é de elogiar a forma como o jovem realizador permanece fiel ao seu estilo, sem concessões. Claro que essa fidelidade traz consequências graves para o filme, especialmente porque é longo demais (mais de duas horas) para a história que efectivamente conta, tornando-se arrastado em alguns momentos. É pouco convincente nas cenas de acção, soando a amadoras e de certo modo até ridículas, tornando-o pouco credível enquanto filme que se foca num Yakuza. Porém como drama romântico, é bastante competente, especialmente devido à química entre os actores protagonistas, bem como a forma estilizada e delicada com que o realizador dirige algumas das cenas. A banda sonora é de bom gosto e excelente, mas excessiva, tornando a narrativa demasiado fragmentada, assemelhando-se a uma série de videoclips musicais. Poético e bonito, é verdade, mas não é (só) isso que se procurava.
Forte e delicado drama, Terence Davies dirige a adaptação da peça de teatro homónima, de uma forma estilizada, com acentuação numa mise-en-scène segura e visualmente bela, com uma fotografia em tons escuros, um primor severo na direcção artística e vários detalhes sonoros que fazem a diferença. De narrativa pessimista e depressiva, prima por não seguir uma linha narrativa linear, mas torna-se também por vezes demasiado arrastada e excessiva. Mas o que faz realmente a diferença no filme é a presença de Rachel Weisz com aquela que é seguramente uma das melhores interpretações da sua carreira e que toma de assalto grande parte das cenas, com uma construção de personagem invejável e altamente complexa.
Thale (2012), de Aleksander Nordaas
O modo atmosférico como a narrativa se impõe é o maior destaque a fazer a este Thale. Além de um ambiente frequentemente tenso, a introdução de uma figura mitológica do folclore nórdico pouco conhecida do espectador garante grande parte do interesse do filme. Porém, tem graves problemas de estrutura, tornando a acção demasiado lenta e uma resolução não isenta de falhas. Já a realização é bastante segura e inteligente, dando a entender que colmatados os defeitos mais graves, este poderia ter sido um filme bastante melhor.
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