terça-feira, 9 de julho de 2013

Semana em Crítica - 4 de Julho

Post Tenebras Lux (2012)


Como algum do pior cinema moderno, Post Tenebras Lux satisfaz-se com o provocar de sensações que de serem tão baseadas nos sentidos se esgotam de imediato se é que chegam a fazer sentido - como a moldura difusa em que encerra algumas das suas imagens. Sem uma narrativa contínua para unir essas sensações, pouco coerentes entre si, o que fica é um espectáculo de observação cujos significados ficaram resguardados por detrás da consciência do próprio realizador. Resulta em mais uma demonstração categórica de Carlos Reygadas ser um observador-imitador de outros modelos cinematográficos. Se imitar Apichatpong Weerasethakul, Terrence Malick e Lars von Trier será difícil, mais difícil será combiná-los de forma funcional. Uma estrelaUma estrela Carlos Antunes

Introspectivo e sensorial, Post Tenebras Lux é uma quase-replicação de uma experiência pessoal de Carlos Reygadas que abdica da narrativa clássica ou de uma razão propriamente dita, criando uma das experiências mais intrigantes que poderemos ter no cinema este ano. Perturbador, incómodo e estranhamente belo, a câmara filma a Natureza como poucos, à medida que a acção se vai entranhando lentamente no espectador e em que este se vai deixando levar por um jogo de associação de imagens e sons, poderosamente incómodo. A única coisa que necessitamos é de flexibilidade para apreciar uma experiência assim tão singular. Uma estrelaUma estrelaUma estrelaUma estrela½ Tiago Ramos



3096 Dias (2013), de 


Um drama sem nada de cinematograficamente distintivo mas que beneficia de dois factores para superar o indistinto trabalho de Sherry Hormann. Por um lado três interpretações - Thure Lindhardt como Wolfgang Priklopil e Antonia Campbell-Hughes a par de Amelia Pidgeon como Natascha Kampusch - acima do expectável; por outro um realismo (inevitável, suponho) que não evita matizes morais para lá da mera exibição de um Síndrome de Estocolmo. Funcionaria bem numa sessão dupla com Michael, emboa o seu academismo não chegue a criar o impacto desse outro filme que se valoriza ainda mais pelo realismo que já atingira por via da ficção. Uma estrelaUma estrelaUma estrela Carlos Antunes



Redenção (2013), de 


Jason Statham chamado ao papel que melhor a ele se adapta - se não mesmo aquele com que ele se confunde - mas desta vez inserido na sensibilidade dramática de Steven Knight para olhar para os mundos escondidos ou ignorados de Londres, sobretudo quando habitados por emigrantes. Misto de filme de gangsters e de drama de renascimento, para que o filme sirva as qualidade de ambos os principais envolvidos, mas as coisas funcionam sempre melhor quando Statham pode dar vazão ao seu lado feroz. Não porque ele não saiba interpretar o que lhe pedem  mas porque Knight continua a mostrar-se um argumentista disperso dos dramas pessoais pela vontade de fazer uma panorâmica das causas para que se encontrem naquele submundo - a inclusão de um passado militar para Statham é apenas o exemplo mais óbvio disso. Fosse, como realizador, mais Cronenberg do que Frears e talvez o filme fosse melhor. Uma estrelaUma estrela Carlos Antunes

Surpreendentemente e apesar de relacionado com o estereótipo habitual das personagens de Jason Statham, Redenção consegue ser um pouco mais que o esperado filme de acção sem limites. Mais propenso à introspecção e a um ritmo mais sensível e compassado, a direcção delicada de Steven Knight, aqui na sua primeira longa-metragem, foca-se mais nos dilemas das personagens, que necessariamente na violência, acção e perseguições velozes. É porém, capaz de agradar aos dois mundos e apesar de não chegar a consolidar-se da forma que podia, é um esforço bastante elogiável e aprazível. Uma estrelaUma estrelaUma estrela Tiago Ramos


Gru - O Maldisposto 2 (2013), de  e 


As peripécias de Gru continuam a demonstrar ser um entretenimento ligeiro no universo da animação. E se esta sequela segue a linha do primeiro no que ao género de humor diz respeito tem como desvantagem o facto de abdicar do dilema vilão/herói com que Despicable Me (2010) tão bem brincava. Aqui, Gru já é um herói assumido o que por si só já tira grande parte da piada à história. Mas a doçura das personagens secundárias, encabeçada por Agnes e até da presença da nova personagem como interesse romântico do protagonista, contribui para que Gru - O Maldisposto seja tão acessível e simpático como pretendia ser. O problema: o sucesso dos Minions fez com que nesta sequela eles tivessem aparições mais frequentes. E se já no primeiro e isso distraía do foco da história, neste segundo filme essa distracção ainda é mais exagerada, especialmente quando a dose de humor por eles proporcionada é tão desinspirada e previsível como muito pouco divertida. E se já aqui se torna quase insuportável, imaginemos como será quando tiverem direito ao seu próprio filme: Minions (2014). Uma estrelaUma estrelaUma estrela Tiago Ramos



Boas Vibrações (2011), de 


O título espertalhaço que Hysteria recebeu em Portugal dá uma ideia clara do que o filme é: uma comédia romântica em torno do início do vibrador. Em torno dessa origem está toda uma exposição de como o mundo e a sexualidade eram dominados por uma visão masculina muito limitada e autoritária mas, igualmente, de como as mulheres encontravam maneira de contornar essa visão e satisfazer as suas necessidades deixando os homens na ilusão do seu próprio domínio. Considerando isso, é difícil compreender que o filme se vá reduzindo, cena a cena, à mesma narrativa limitada cuja mentalidade final é a de que nem o homem, mas e sobretudo, nem a mulher (muito independente, neste caso) conseguem viver sem a sua contraparte. Nem haver um vibrador envolvido muda algo na trama já usada até à exaustão! Uma estrelaUma estrela Carlos Antunes

Comédia de costumes e retrato feminista da sexualidade, moral e bons costumes da Inglaterra Vitoriana. Nem sempre consegue manter o tom acertado ao longo da trama, mas é divertido o suficiente para entreter o espectador, mesmo quando sucumbe previsivelmente para o lado mais doce da comédia romântica. Hugh Dancy e Maggie Gyllenhaal lideram bem um elenco competente, mas cujas personagens rasas não permitem muito mais. Podia ser mais que um filme sobre o vibrador como instrumento de cura da "histeria", mas assume-se como o que é, nem tenta ser mais que isso e só por aí é capaz de assegurar o seu visionamento descomprometido e despreocupado. Uma estrelaUma estrelaUma estrela Tiago Ramos



Em Força Contra o Crime (2012), de 


Será difícil de acreditar que uma força policial de intervenção trabalhando sobre o limite da lei - usando tacos e troncos como armas, por exemplo - tenha de enfrentar um criminoso com um plano da complexidade de um vilão de Bond. Tirando isso, a execução deste drama policial tem as qualidades da boa escrita de guiões, um planeamento das cenas de acção emocionante e coerente com a realidade e um elenco que Ray Winstone lidera para patamares de qualidade significativa e onde apetece destacar Ben Drew que desde que "passou pelas mãos" de Noel Clarke que merece ser descoberto em larga escala. Com larga produção deste género, falta saber porque não se cria um hábito de estrear mais filmes do Reino Unido em vez de coisas como Olympus Has Fallen ou Seal Team Six: The Raid on Osama Bin LadenUma estrelaUma estrelaUma estrela Carlos Antunes

Com uma acção coerente, realista e emocionante, este Em Força Contra o Crime é de imediato bastante superior que muitos dos filmes de acção que estreiam anualmente nas nossas salas de cinema. A direcção segura, o argumento planeado e sensível, assim como um elenco constante, liderado por Ray Winstone, fazem deste um entretenimento possível bem mais do que apenas pelas cenas de acção (e só essas já são superiores à média). O argumento pode ser, de certo modo, previsível, mas a sensibilidade como trabalha o filme de género dá-lhe pontos. Uma estrelaUma estrelaUma estrela½ Tiago Ramos

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