Quando chega o momento em que a música de Rossini começa a soar, também as balas começam a voar e os cavalos a percorrer o topo de comboios em andamento. Segue-se meia hora do exagero aventuroso, cartoonesco e implausível que se esperava deste filme e da sua reinvenção das memórias que muitos de nós formaram através da televisão. Problemático é que para chegar lá passaram duas horas, repleta de elementos em excesso para uma história linear e pouco original (compare-se a The Mask of Zorro) e repleta de referências cinematográficas (de Once Upon a Time in the West a The Wild Bunch, de The General a Indiana Jones and the Temple of Doom, só para lembrar alguns) que tentam engalanar a tradição em que se inscrever mas só reforçam a excessiva seriedade e a falta de ideias que um filme (ou, pelo menos, este filme) de aventuras não pode ter. Com uma dupla de heróis sem verdadeira química e sendo o único protagonista (e nome "de peso" do elenco central) aquele que deveria ser o sidekick de serviço, este nunca poderia ser o Mascarilha que queríamos ver. Carlos Antunes
Não é com certeza o melhor ou o mais original filme que estreará nos cinemas este ano, mas não é também o pior (ou sequer dos piores) como muitos parecem fazer crer. Na verdade, este The Lone Ranger, que recupera as memórias da série televisiva para uma versão sobretudo mais vistosa do tema e das personagens, permite ainda uma revisitação do western, com muita ironia à mistura e do american dream e da sua expansão para o Oeste. Repleto de maiores ou menos percalços, aquilo que mais atraiçoa o filme é sobretudo a sua duração. Tem efectivamente bons momentos, divertidos quanto baste, mas por vezes prolonga-se para além das suas quase duas horas e meia, tornando-se repetitivo e até maçador. A química entre os actores não é a melhor, mas também não envergonham ninguém. Mesmo Johnny Depp que para muitos terá o maior destaque do filme, mas que acaba por estar reduzido à mesma monotonia e marasmo a que se tem reduzido a sua carreira nos últimos anos. Tiago Ramos
Bling Ring: O Gangue de Hollywood (2013), de Sofia Coppola
Aquilo que muitos consideram uma exercício fútil de Sofia Coppola é precisamente um ensaio sobre a futilidade, vista por dentro. Em Bling Ring filma o aborrecimento, o vazio, o fascínio pela fama e pelas celebridades e a opulência. Temas transversais à sua carreira que se conecta de uma forma ou de outra e que encontra até semelhança com Spring Breakers (2013) pela forma como olha a juventude. Aqui não se fazem concessões para moralizar o tema, justificar ou penalizar as acções das personagens, nem há sequer efeitos redentores para as mesmas. E tudo é filmado com a sua elegância característica e sobretudo com um olhar atento à situação contemporânea e com uma intenção muito menos inócua do que pode parecer à primeira vista - há muito para se observar nas entrelinhas. Tiago Ramos
A sequela de Red tinha de ser exactamente assim. E assim significa, não só melhor, mas também mais exagerada mas mais luxuosa. A escalas e qualidades distintas, Red é como a saga Ocean's de Soderbergh, que de sequela em sequela ia cada vez mais longe nas ideias impossíveis e nos nomes sonantes chamados ao elenco. Todos estes excelentes actores que, apesar da sua idade, ainda vão sendo dos que têm sorte de conseguir papéis de qualidade, mostram que ainda podem, querem e devem ser colocados em papéis de menor exigência dramática mas que permitam - a eles e ao público - uma enorme diversão. Não se trata somente da qualidade acrescida que trazem a figuras de acção, trata-se de mostrar que essa qualidade adicionada à experiência podem valer mais do que um corpo melhor moldado (até porque com tantos efeitos digitais e duplos, que diferença faz a idade do protagonista?). Anthony Hopkins a fazer a transição entre maluquinho e vilão sádico ou Helen Mirren a parodiar o seu mais recente papel Oscarizado são momentos que valem a pena ser vistos. Carlos Antunes
Möbius - Laço Mortal (2013), de Eric Rochant
Möbius tem como maior suporte o seu elenco: Jean Dujardin, Cécile De France e Tim Roth. Carismáticos e talentosos, com certeza. Mas o filme não se aguenta por si só para além disso, já que na sua maioria e apesar de tentar revisitar o thriller de espionagem a que a carreira de Eric Rochant não é alheia (Les patriotes, por exemplo), tende a complicar a sua narrativa, num esforço de parecer inteligente. Ora nessa intenção falsa e forçada, o filme acaba por se baralhar a si mesmo e ao espectador, nunca atingindo o fim para o qual se propõe, perdendo-se num romance sem força e num olhar pouco inspirado sobre a situação económica actual. Tiago Ramos
O problema de Möbius é a sua indefinição sobre que filme quer ser, o que dura mesmo até aos momentos do desfecho final, em que o filme revela aquela que deveria ser a sua faceta mais explorada logo desde início, os jogos duplos e triplos do mundo de espionagem já impossíveis de discernir a partir de certo ponto, ou não fosse a banda de Möbius a grande evocação do título. Como até lá o filme também passa por ser um romance apenas semi-cálido e uma denúncia pouco efectiva da actualidade financeira, nunca se chega a saber exactamente que filme estamos a ver. Jean Dujardin e Cécile De France são protagonistas sempre agradáveis de ver em acção, mas num filme desconjuntado e com uma realização que mistura o academismo com ideias modernaças, não conseguem fazer mais do que boa figura. Carlos Antunes
Miúdas a Abrir (2012), de Regan Hall
Já vimos - sobretudo nos horários esquecidos de domingo à tarde - os estúdios americanos fazerem estes filmes em que o mundo do desporto serve para o confronto (primeiro) e a união (depois) de mundo socialmente antagónicos. Os Britânicos aproveitaram os Jogos Olímpicos que iam albergar e escolheram um desporto pouco provável para mostrarem que sabem fazer o mesmo tipo de filme mas com mais qualidade e mais dignidade. Um filme feito de estofo dramático pouco denso mas sincero que não se esquiva a mostrar os mesmos ambientes que o realismo britânico nos foi trazendo, de algumas ideias novas para cenas que dão uma inesperada frescura ao género e de uma posta muito grande na transmissão da energia que se tem de sentir no desporto. Dificilmente veríamos algo de excepcional a nascer daqui, mas o resultado não embaraça ninguém. Carlos Antunes
Típico filme com o desporto como tema principal - aqui pelo menos beneficia pela originalidade de abordar o atletismo - Miúdas é Abrir é uma experiência simpática, mas não menos previsível. A ideia do triunfo da figura marginalizada faz sobretudo o espectador torcer pelas personagens (e por isso permite-se a inúmeras evocações, desde Chariots of Fire a StreetDance 2), mas não se isenta de um argumento por vezes sexista e rotineiro, assim como uma realização desinspirada e limitada a uma quase formatação televisiva. Tiago Ramos
Apesar das óbvias limitações técnicas a nível visual (a animação é sobretudo muito rudimentar e faltam-lhe subtilezas nas texturas e design das personagens), não é esse o principal inimigo do filme. O problema é tudo o resto, a começar e a acabar no argumento absolutamente previsível, muito pouco divertido e até demasiado tolo. Quer me parecer que mesmo as crianças mais pequenas - na verdade cada vez mais exigentes e cada vez mais inteligentes - vão encontrar as mesmas limitações neste produto. Tiago Ramos
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