sexta-feira, 20 de setembro de 2013

MOTELx - Tobe Hooper, por Carlos Antunes



Na sessão de Eggshells havia dois conjuntos de pessoas. Um era composto por aqueles que se dispunham a descobrir aquele que é, verdadeiramente, o primeiro de Tobe Hooper.
O outro era composto pelas pessoas que tinham a sala 3 do São Jorge como única alternativa perante a sessão de abertura já há muito esgotada.
Haveriam de sair da sala várias das pessoas desse segundo grupo, perante um filme que não tem nada de aterrorizante e apenas um pouco de Paranormal envolvido.
Os outros, mais avisados, esperavam para ver um filme psicadélico sobre a comunidade de Hippies de Austin ao aproximar-se o final da década de 1960.
Da mistura de naturalismo, não só do estilo - "documental" - associado ao realizador mas dos próprios métodos de rodagem, e experimentação resulta um filme sem história que se possa resumir mas que mostra aquela que sempre foi uma das melhores qualidades de Tobe Hooper, a sua capacidade de artesão em sintonia com outras cinefilias.
Duas referências de enquadramento saltam à vista neste caso. A mais evidente será a dos filmes que Kenneth Anger vinha fazendo desde o início da década, pela combinação de temática e energia.
A outra é o filme Nerosubianco e surge mais por afinidade - até porque o filme de Tinto Brass só seria feito no ano seguinte - perante a experimentação feita com a montagem, ainda que Tobe Hooper não tenha estado perto da revolução que o realizador italiano poderia ter conseguido.
Não deixa de ser um filme com várias falhas, mas tem igualmente o mérito de uma certa revelação do momento em que foi feito e dos primórdios de algumas das ferramentas que Tobe Hooper viria a usar logo depois em The Texas Chain Saw Massacre.
O se visionamento será mais acertada quando feito num contexto de conhecimento do percurso de Hooper, em vez do de um festival de terror.




The Texas Chain Saw Massacre será sempre um dos (pouquíssimos) filmes indispensáveis do realizador, bem como da revolucionária vaga de terror que nascia naquela primeira metade da década de 1970.
Memorável é todo aquele humor da primeira metade do filme, que nasce das personagens mas também do quotidiano repetido até ao nonsense, e que cria um estado de perturbação que leva a que o terror se afinque mais profundamente.
Tobe Hooper realizou o filme num momento de inventividade que só se compara ao que também conseguiu em Poltergeist - cujos méritos lhe são muitas vezes retirados e passados ao produtor Steven Spielberg - e introduziu nele surpresas do argumento que o elevaram acima da limitação da categoria de exploitation.
Nunca foi um filme perfeito, mas é das mais bem executadas visões de terror em que a quallidade de artesão de Hooper mantem intocadas qualidades até aos dias de hoje.
Um filme que continuar a precisar de ser visto - sobretudo por quem o vai ver pela primeira vez, pois o seu efeito surpresa deve continuar mesmo com quarenta anos de influência (e imitação) - e que mostra ser um verdadeiro clássico mostrando que é numa sala de cinema que melhor funciona.




Eaten Alive mostra que Tobe Hooper não só tem as melhores referências de terror - Mario Bava e EC Comics - como sabe reproduzir o melhor do estilo que cada um produziu, criando uma atmosfera de assombração com cores deliciosamente excessivas.
O problema está no argumento, repetitivo num esquema de uma nota só: o dono da pensão decide-se a matar cada novo cliente por qualquer motivo que o incomode (e há sempre algum).
Ainda para mais um esquema sem originalidade na sucessão de mortes e com uma mistura de elementos pouco convincente. A foice da "Senhora Morte" parece uma imitação secular das motosserras e o crocodilo (muito mal conseguido) parece querer fazer um Jaws do bayou.
A culpa maior poderá ser dos produtores, sobretudo se tivermos em consideração aquela exibição desnecessária de corpos femininos a que Tobe Hooper não tinha recorrido antes, mas não se lhes pode imputar todos os problemas do filme.
É verdade que se tornou num filme de culto - com direito a referência em Kill Bill - mas nunca foi um bom filme e tem envelhecido ainda pior. Precisa de ser visto ou com sentido de humor numa perspectiva de "tão mau que é bom".




Um filme que foi adiado pelos estúdios por tempo demais e que acabou transformado numa aglomeração de elementos.
Parte deles são óptimos, com Tobe Hooper a explorar possibilidades mais sugestivas para o objecto que está no centro do filme e para Leatherface.
Parte deles são péssimos, como tudo o que tem a ver com a componente de investigação liderada por um Dennis Hopper numa das suas interpretações menos relevantes.
A parte que sobra consegue fazer as delícias do público mas parecem pertencer a um outro filme nascido a meio do trabalho, como todo o humor irónico (dirigida aos estúdios, em parte) que se torna mais visível no último terço do filme e que produz algumas tiradas memoráveis; mas igualmente as muitas referências que se encontram no estúdio de rádio.
Na verdade, pode ser que os elementos não sejam tão disjuntos assim, mas Tobe Hooper fez um filme para o qual parece ter perdido a mão.
Filma cenas sem qualquer sentido de ritmo até que elas se tornam exasperantes e no seu (suposto) clímax usa as motosserras (notoriamente desligadas) como lâminas de combate e nada mais.
The Texas Chainsaw Massacre 2 dá a ideia de ser um filme já sem sentido de urgência, durante o qual o realizador quereria ter apostado mais no elemento irónico do que de terror.




O melhor trabalho de Tobe Hooper nas duas décadas que se seguiram a Poltergeist é um remake de um filme dos anos 1970, o que nos diz bastante da evolução de Hooper.
Muito embora os componentes sobrenaturais de Toolbox Murders lhe retirem alguma da força, sobretudo ao nível do suspense, as suas cenas voltam a revelar aquela qualidade de realismo artesanal que existia em The Texas Chain Saw Massacre.
Será verdade que não é um filme que merecesse atenção significativa se não fosse pelo nome do seu realizador, mas também será verdade que a presença de Angela Bettis como protagonista ajuda a que se crie uma ligação mais forte com o que sucede, visto que ela se figura como uma das mais interessantes e distintas das novas scream queen com domínio de uma posição de poder feminino.




Eggshells (1969)   Uma estrelaUma estrela


Eaten Alive (1977)   Uma estrela½


Toolbox Murders (2004)   Uma estrelaUma estrela½

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