segunda-feira, 31 de março de 2014

Semana em Crítica - 6 de Março

Lições de Harmonia (2013), de 


História de desadequação de um rapaz à sua escola, da perseguição de que é alvo e da resposta violenta que lhe dá. Retrato de um Cazaquistão dividido em duas realidades que ali se tocam. A escola é a fronteira onde alunos vindos da vida dura das quintas se juntam aos que já sonham com a vida burguesa da cidade. Tal como é a fronteira entre as partidas infantis e a violência adulta de uma máfia organizada. Um inevitável ponto de eclosão de acções e consequências, todas gravosas e todas colocando em causa a estratificação mais óbvia - a inteligência como resultado dos meios de origem - daqueles jovens personagens. O último terço do filme, por isolar o protagonista num mundo exclusivamente adulto, não mantém a força do que foi o filme até aí, acabando por recorrer a alegorias para uma afirmação final que não lhe parece pertencer. Mas o resultado deste primeiro filme de Emir Baigazin merece ser visto. Uma estrelaUma estrelaUma estrela½ Carlos Antunes



Primária (2013), de Hugo Pedro


Uma observação dos últimos momentos de descontração e dos primeiros vislumbres de adversidade na vida de crianças portuguesas que se preparam para os exames da quarta classe. O filme é feito de um acompanhamento silencioso, uma presença que não afecta o jorrar de emoções. A capacidade de escolha dos "protagonistas" mais emotivos e de presença impositiva é o trunfo de Hugo Pedro para resgatar a curta à sua falta de noção de como intervir - sobre o material e não no contexto filmado - para além de esperar que a turma filmada faça acontecer algo relevante e, logo, cinematográfico. A curta tem um contraponto interessante para a feroz transição para a idade adulta de Lições de Harmonia, acabando por funcionar melhor assim apresentada do que aconteceria a solo. Uma estrelaUma estrelaUma estrela½ Carlos Antunes



Fim-de-semana em Paris (2013), de 


A ideia de comédia romântica com um casal rabugento vem do trailer e não prepara o público para a mudança de tom com que o filme aborda o drama da transformação do casamento numa formça de ressentimento não silenciado. A profundidade não filtrada do olhar sobre a vida tardia deste casal mostra uma seriedade no tratamento de um tema que costuma estar afastado do ecrã e que neste caso particular se encontra pequenos laivos de esperança na memória do próprio cinema: Paris como o palco de correrias e danças pertencentes a uma outra geração e uma outra mentalidade com que sonharam mas nunca alcançaram, as de Bande à part. Só a necessidade de tornar evidente a citação, passando o filme de Godard num televisor de hotel, esmorece de forma ligeira o entusiamo com que se vê esta complexa forma de elementos ganhar vida através das magníficas interpretações de Jim Broadbent e Lindsay Duncan. Uma estrelaUma estrelaUma estrelaUma estrela Carlos Antunes



Um Novo Fôlego (2013), de 


A adolescente que entra na vida estável de uma família dos subúrbios para a perturbar é uma história vista e revista que exige alguma novidade para que a estreia de mais uma versão. O mais perto que o filme chega de tal novidade é a utilização da música como substituto de um trabalho mais profundo de escrita sobre os personagens e as ramificações das suas acções. Mas sem a coragem de levar a música a ser o corpo central das relações e de como estas se expressam, parece apenas que ela está lá a encher os muitos tempos vazios. Ficam apenas notas positivas para Guy Pearce e Amy Ryan, que dão uma interpretação respeitosa apesar dos defeitos do filme, bem como para uma Felicity Jones que parece ser capaz de dar muito mais quando lhe derem um papel devidamente exigente. Uma estrelaUma estrela Carlos Antunes



300: O Início de um Império (2014), de 


A apreciação de 300: Rise of an Empire depende em grande parte da satisfação com o original pois principais elementos visuais são os mesmos nesta história que se passa em paralelo com a dos 300 Espartanos. Não havendo o carisma que Gerard Butler impôs há as cenas entre Sullivan Stapleton e Eva Green que são o melhor deste filme (e de ambos). Não havendo as lutas corpo a corpo há os variados confrontos tácticos. Se este fica a perder para o outro é por ter uma história menos focada (Frank Miller ainda não concluiu a BD dedicada a Xerxes...) e alguns efeitos especiais - as cenas de barcos - de qualidade menor. Material para satisfazer que já estava convencido com 300Uma estrelaUma estrela Carlos Antunes



O Céu Sobre os Ombros (2011), de Sérgio Borges


O acompanhamento da câmara a pessoas com vidas bipolarizadas - uma prostituta transexual e ensaísta académica, um membro do Hare Krishna que também é membro de uma claque de futebol e um artista suicida que quer dar um futuro ao seu filho deficiente - acabará sempre por encontrar momentos de uma pungente intimidade. Sobretudo se esses momentos forem orientados por uma intrusão de ficção no documentário. Sem saber onde está a fronteira entre documentário e ficção, todo o filme acaba por se parecer com uma farsa da qual porque essa intimidade não se sabe se é real ou projectada, acabando-se por rejeitá-la. Sobretudo porque o acompanhamento da câmara aos personagens não corre qualquer risco e o filme não consegue demonstrar que a mescla de documentário e ficção possa alcançar um todo representativo de algo mais do que o próprio grupo de pessoas a braços com problemas "existenciais". Uma estrelaUma estrela Carlos Antunes

Sem comentários:

Enviar um comentário