sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O Centenário Que Fugiu Pela Janela e Desapareceu, por Carlos Antunes



Título original: Hundraåringen som klev ut genom fönstret och försvann
Realização: 
Argumento: Felix HerngrenHans Ingemansson
Elenco: 


Não sendo uma comédia que atinja patamares de elevada qualidade, é caso para se transformar num fenómeno de apreço fácil.
Um filme a merecer uma atenção redobrada por surgir como um oásis de originalidade no meio do padrão de estreias de filmes do género.
Esta é uma road trip de criminosos nascidos por engano em jeito de comédia negra onde quão mais absurdas as mortes melhor.
Acontece sempre com uma energia caótica que faz lembrar muitos dos melhores momentos de Emir Kusturica.
Só que a história de Allan Karlsson tem também tempo para uma viagem ao passado onde essa energia se estende a um percurso pelo lado mais obscuro da História em que o centenário se mostra um verdadeiro Forrest Gump predestinado ao falhanço que se torna sucesso de forma sempre imprevisível.
O filme demonstra que a História é uma farsa e que a história dos seus indivíduos é um ainda maior absurdo.
Um absurdo onde se cruzam um elefante, o irmão pateta de Einstein, 50 Milhões de Coroas, um gangue de motoqueiros, a bomba atómica, o General Franco, largas quantidades de vodka e ainda maiores quantidades de explosivos.
Entre uma série ainda maior de personagens históricas, o homem com três anos de estudos e um gosto anormal por explosivos vai aceitando a vida tal como ela é, sem se questionar acerca dos preconceitos e moralismos alheios.
A sátira intensa à realidade política do mundo ao longo do século XX faz pensar em Karlsson como uma versão bizarra do Chance de Peter Sellers.
Estamos perante uma verdadeira aventura onde a impossibilidade está muita vezes à espreita mas da qual o filme consegue ir afastando-se - e, com isso, prender o público - porque assume o seu aburdo como objectivo máximo em todos os momentos.
O público está sempre a ser levado aos limites do que parece disposto a aceitar do filme e a ser rechamado para ele, não sem que um afecto pelos personagem principal cresça até ao final.
O que também ajuda a que o cómico Robert Gustafsson fique na retina "safando" um personagem que poderia acabar no ridículo, sobretudo nas cenas da sua terceira idade.
De acordo com este filme, a vida é uma aventura, mesmo quando está prestes a acabar. Talvez até mais quando está prestes a acabar e nada mais há porque a adiar.
Como diz Allan quando o ameçam de morte, "É melhor despachar-se, já tenho 100 anos e não duro muito mais.".
Assim deve o público despachar-se a ir ao encontro deste filme, fresco porque arrisca várias vezes o falhanço - grandioso - para se safar com mais uma gargalhada.




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