domingo, 22 de outubro de 2017

Thor: Ragnarok, por Eduardo Antunes

https://splitscreen-blog.blogspot.com/2017/10/thor-ragnarok-por-eduardo-antunes.html

Título originalThor: Ragnarok (2017)
RealizaçãoTaika Waititi

No momento em que nos foi anunciado que Taika Waititi iria realizar esta longa metragem, apesar do meu reconhecimento do brilhantismo do seu mais conhecido e recente filme, What We Do in the Shadows, não pude deixar de elevar a minha sobrancelha em dúvida, por estar à espera de algo mais sério, dado a temática subjacente ao subtítulo do filme. E apesar dos erros nesse sentido, não posso ter qualquer dúvida de que ele foi a pessoa certa para almejar este projecto.

Como seria de esperar, o maior ponto forte deste filme, e na sequência de outros projectos da Marvel, é o humor, o qual leva, à semelhança de Guardians of the Galaxy, uma actualização. Ao contrário dos dois anteriores filmes dedicados exclusivamente ao deus nórdico, em que a comédia era forçadamente introduzida em raros pontos específicos de um filme com um tom necessariamente sério e dramático, aqui ela é justificadamente integrada, desde a primeira cena, no próprio comportamento das personagens face aos acontecimentos em causa, levando, indiscutivelmente, a momentos hilariantes. Apesar deste facto, na cena final nota-se já que se tentam continuar as piadas numa cena em que é suposto sentirmos algum peso pelos acontecimentos que acabaram de ocorrer.

Para além disso, também a divisão clara da narrativa em duas estórias que funcionam em paralelo (uma no planeta Sakaar, outra em Asgard) faz com que a primeira retire alguma da urgência da segunda, apesar de tudo se desenvolver em prol da (suposta) estória principal que dá o título ao filme. Fica, assim, a parecer que o subtítulo refere mais um pano de fundo para eventos que estão por vir do que o verdadeiro enfoque da narrativa.

Ainda assim, Sakaar é de facto o cenário que vendia o filme e onde o argumento demonstra as suas mais valias. Não só era a oportunidade de explorar em grande forma a riqueza de outros mundos que uma personagem mítica como Thor permite, como de afastar as demasiado desinteressantes sequências que tomavam parte em cenários terráqueos, que em nada acrescentavam realmente às personagens desta mitologia.
Este cenário deve obviamente muito ao sucesso de Guardians of the Galaxy, notando-se a influência nas cores e design geral, assim como numa banda sonora carregada de variados tons electrónicos que parecem sair dos anos 1980.


É precisamente nesse cenário que a dinâmica entre as personagens acontece e vai fortalecendo o filme à medida que avança. Não apenas a dinâmica entre os irmãos Thor e Loki, cuja relação cresce e é constantemente reforçada a partir do carácter de ambas as personagens fundado no primeiro filme, como a dinâmica com o Hulk de Mark Ruffalo, que nunca teve tanto tempo de ecrã (merecido) como aqui, e com a Valkyrie de Tessa Thompson, de longe das mais interessantes inclusões. A participação desta última em ambas as narrativas faz-nos querer ver mais da sua história e ver as guerreiras homónimas em acção em maior pormenor nalgum tipo de estória paralela.

Para essa dinâmica, como sempre, contribuem em grande parte as interpretações que lhes dão vida, ficando o maior destaque (para além de Thompson, e na sequência dos filmes anteriores) para Tom Hiddleston. Já conhecemos esta escolha de elenco como sendo uma das melhores (dentro de um excelente leque) neste universo cinemático da Marvel, mas Hiddleston continua a deixar-nos na dúvida sobre a confiança que podemos depositar numa personagem tão carismática quando traiçoeira.
Também merece louvor Cate Blanchett que toma o ecrã sempre que entra em cena e faz-se sentir como uma verdadeira ameaça para os protagonistas (ao contrário de Malekith na sequela anterior), ainda que não seja explorado a possibilidade de um drama familiar mais intenso, na sequência do que tinha sido feito no primeiro filme. Ainda damos destaque a Jeff Goldblum a interpretar-se a si próprio, num papel quase tão meta quanto cómico.

No final, o facto de provavelmente esta ser a última excursão a solo desta personagem da Marvel é o que mais pena deixa, pois com o crescimento deste universo é que finalmente se começava a tornar interessante acompanhar a mitologia de Thor Odinson como um rei relutante e inquieto pelo seu dever enquanto protector de dois planetas natais. E agora que se denotava um tão grande prazer em interpretar a personagem por parte de Chris Hemsworth, com certeza também ele terá pena do final do seu contrato se aproximar. Só podemos esperar que o eventual fecho do seu arco em Avengers: Infinity War faça jus a uma personagem que se tornou aqui de enorme interesse e entretenimento.




1 comentário:

  1. Muito ansioso por este filme. Confesso que também fiquei na dúvida com a escolha do Taika Waititi para a realização, mesmo tendo muita fé nele. "What We Do in the Shadows" e "Hunt for the Wilderpeople" são ótimos!

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