quinta-feira, 23 de maio de 2019

Aladdin, por Eduardo Antunes


Título originalAladdin (2019)
RealizaçãoGuy Ritchie
ArgumentoJohn August, Guy Ritchie

As reimaginações da Disney dos seus próprios filmes clássicos de animação em imagem real sempre pareceram uma tarefa ingrata, principalmente no que toca aos mais amados pelo público e/ou fantasiosos, por não serem transpostos da melhor forma para um meio mais realista. Este Aladdin não prova o contrário, mas é bem vindo em muitos dos aspectos em que faz por diferir do original.

Logo à partida, o grande contributo desta adaptação é a dulpa de protagonistas, que não só funcionam optimamente em conjunto, como são extremamente empáticos, até com o maior tempo de desenvolvimento que lhes é oferecido. Aladdin (Mena Massoud) como um confiante ladrão, por passar a sua vida em constante fuga, que transpira insegurança quando lhe é dada a ribalta e a possibilidade de ter tudo o que sempre desejara. Jasmine (Naomi Scott) como a pretendente acertada ao trono, mas em quem ninguém reconhece as valências para governar, remetendo-se desconfortavelmente ao papel que é esperado dela.
Numa relação que se desenvolve desde o primeiro momento em que entram em ecrã, ambos encontram um no outro a confiança necessária para se fazerem valer ante o outro e o mundo que os renega, o que oferece à química entre os dois e ao desenvolvimento do seu romance uma nuance extra não existente antes.

Aliás, a diferenciação para com a caracterização anteriormente feita destas personagens não é mais evidente que na música "Prince Ali" e consequentes cenas. Onde Aladdin no original mostrava-se constantemente confiante e quase arrogante, aqui Massoud demonstra a cada olhar e fala uma total insegurança em si próprio.
Mesmo Jafar (Marwan Kenzari), apesar de não fugir do claro rótulo de vilão, oferece uma perspectiva mais astuta e manipuladora sobre o antagonista, através de uma (bem-vinda) actuação que foge do aspecto obviamente ameaçador do original. Tudo isto contribui para em grande parte da primeira metade do filme, e juntamente com a construção de todo a envolvente em que a narrativa decorre, sentirmos este como um cenário verdadeiramente realista, tão criativo quanto o original.

E é precisamente com a apresentação da parte mais fantasiosa (e famosa) desta estória, que esta diferenciação que o filme tenta criar relativamente ao seu homónimo, inevitavelmente recai sobre uma comparação directa. Felizmente, Will Smith demonstra-se uma óptima escolha para interpretar a personagem do Génio já que, tal como originalmente este tinha sido inventada com a extravagante personalidade de Robin Williams em mente, também aqui Smith tira partido do seu próprio carisma que em quase toda a sua filmografia demonstrou, nunca tentanto a impossível tarefa de copiar essa outra interpretação (apesar das suas cenas se basearem muito nas dinâmicas previamente criadas), mas criando a sua própria dinâmica com Massoud. A verdade é que essa dinâmica, tal como o romance, torna-se o ponto essencial para o desenvolvimento da personagem de Aladdin.


O problema maior aqui da parte fantasiosa desta estória é a demonstração de uma clara esquizofrenia da narrativa que, face a uma adaptação mais realista da estória, personagens e cenário, introduz elementos demasiado estranhos no contexto que o filme tenta criar, tal como já acontecera antes com Cinderela. Se é um prazer ver Will Smith a fazer o que tão bem faz, é estranho vê-lo demasiadas vezes numa caracterização azul que já desde o trailer estranhava. Se o própria Jafar parece mais humano que a sua iteracção original, no final quando pede os seus desejos, o exagero de efeitos torna todo o esforço anterior um pouco estranho.

Para essa estranheza contribui também o inerente aspecto musical, apesar de não ferir de todo o filme, por já no original estarem as músicas acertadamente delineadas na narrativa, e por a sua própria "modernização" ajudar nesta adaptação. No entanto, as músicas originais aqui acrescentadas, para além de serem desinspiradas e algo vulgares, retiram algum impacto emocional a cenas que, por si só, resultariam pela interpretação dos actores. Quando Naomi Scott canta "Speechless", apesar do sentimento ser o correcto, todo o momento está deslocado do restante filme, não apenas no estilo da música, como na própria encenação, que interrompe uma cena já dramática para expressar os pensamentos da protagonista que seguidamente se demonstrarão de outra forma.

Apesar destes aspectos, Aladdin aproxima-se de um maior cuidado que estas adaptações deveriam ter em se diferenciar do material original. Mas a sua dependência para com o factor nostálgico do filme que o precedeu não lhe permte ir suficientemente além do que já se gostava. Não deixei no entanto de esboçar um igual sorriso face a nostalgia patente nas músicas do original, tanto quanto a renovada relação destas personagens aqui criada.
Espero que Mulan, pelos rumores, consiga deixar de lado o recontar de uma estória "infantilizada" para simplesmente contar uma estória que valha por si só. Mas antes disso, teremos The Lion King. Preparemo-nos novamente para sentir a nostalgia.


3 comentários:

  1. um filme competente, mas sem brilho. eu esperava um pouquinho mais do guy ritche, mas esqueci que ele já não é mais o mesmo.

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    1. Nota-se, de facto, aqui uma estranheza acrescida pela escolha de um realizador tão peculiar e específico, já que durante todo o filme não se nota nada em particular que aponte para a razão da escolha de Guy Ritchie. Não sei se será tanto por culpa do próprio, ou do tipo de filme que era pretendido. O mais estranho será o próprio casamento de Ritchie com a Disney.

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