Título original: The Goldfinch (2019)
Realização: John Crowley
Argumento: Peter Straughan
Elenco: Oakes Fegley, Ansel Elgort, Nicole Kidman, Jeffrey Wright, Aimee Laurence, Ashleigh Cummings, Finn Wolfhard, Aneurin Barnard, Luke Wilson, Sarah Paulson, Willa Fitzgerald
Uma história vencedora de um Pulitzer, um bom elenco. Pareceriam os ingredientes suficientes para um filme de extrema competência e emoção. Mas um final que se destaca demasiado da restante história de crescimento de uma criança e deixa questões em aberto sobre o protagonista que atentamente acompanhamos, não fugindo no processo a vários dos clichés habituais, acaba por não destacar o suficiente esta de outras narrativas semelhantes, para lá da premissa que oferece o título.
Todos os eventos que vão ocorrendo surgem episódicos, desconexos entre si, interligados apenas pela sua ocorrência após o bombardeamento que emoldura a narrativa, influenciados por esse evento. Isto é a vida, refere Boris para o final, apontando o desconhecimento, a incerteza, o maior ou menor grau de aleatoriedade patente nos eventos que nos moldam e que levaram Theo a reencontrar Platt, Boris, ou mesmo Pippa. Mas da mesma forma parece querer apontar o destino, uma desconhecida razão das coisas acontecerem.
Até então, o quadro é meramente símbolo, representável de um legado, fosse do seu autor, fosse da mãe de Theo, sendo o objecto sinal do seu trauma mas também do seu passado, única memória a que se agarra, como o demonstra literalmente quando se deita abraçado a ele. Se o pintassilgo do quadro está representado preso, também o protagonista se sente assim ao passado que o moldou.
Mas é no final que a forma como o filme é inicialmente enquadrado, misteriosamente apontando Theo numa situação potencialmente perigosa, caminhando o filme até aí, que informa uma certa contrariedade. No final, o quadro torna-se o centro, enquanto objecto, vendo-se Theo envolvido em algo inesperado para reaver algo que perdeu.
Isto leva Theo numa espiral crescente de descontrolo, desespero, por encontrar algo que perdeu, literal, simbólica, emocionalmente. E encontrando a primeira, não parece encontrar as restantes. Talvez fosse esse o intuito, a vida não terminara no que ele perdera, e continuaria para lá disso, como se o rever de algo significasse o retorno à felicidade que ainda não encontrara.
Isto leva Theo numa espiral crescente de descontrolo, desespero, por encontrar algo que perdeu, literal, simbólica, emocionalmente. E encontrando a primeira, não parece encontrar as restantes. Talvez fosse esse o intuito, a vida não terminara no que ele perdera, e continuaria para lá disso, como se o rever de algo significasse o retorno à felicidade que ainda não encontrara.
Se entendemos o passado traumático que Theo em novo se tenta distanciar, por cada novo evento lhe trazer mais razões para escapar, em adulto fica a ambiguidade de um protagonista de quem gostamos mas comete vários erros, como qualquer ser humano. Mas não fica no final espaço para entender a resolução dos seus erros e atribulações. Talvez sinal da conversão de um livro de 700 páginas em duas horas e meia, fica ainda assim a carecer o filme de mais algum tempo para mostrar o crescimento para lá do quadro.
E talvez fosse o intuito, de manter o desconhecimento do futuro, mas ficando a sua situação relativa ao quadro resolvida, devessem também as relações em volta ter a mesma hipótese. Em que ponto fica o seu noivado com Kitsey? Dar-lhe-ia o destino do quadro a segurança suficiente para assegurar um possível futuro com Pippa? De que maneira os eventos finais permitem o perdão do seu mentor Hobie?
E talvez fosse o intuito, de manter o desconhecimento do futuro, mas ficando a sua situação relativa ao quadro resolvida, devessem também as relações em volta ter a mesma hipótese. Em que ponto fica o seu noivado com Kitsey? Dar-lhe-ia o destino do quadro a segurança suficiente para assegurar um possível futuro com Pippa? De que maneira os eventos finais permitem o perdão do seu mentor Hobie?
São estas questões que parecem ser substituídas nos últimos momentos do filme pela desnecessária revelação dos eventos ocorridos imediatamente antes do bombardeamento - incluindo a revelação da aparência da sua mãe, que sempre se mantivera como uma memória inalcançável senão pela presença do quadro. E isto faz com que uma história de forma geral cativante deixe um desgosto pelo filme não responder às perguntas que ficam retidas no nosso pensamento saídos da sala.
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