Título original: AmeliaRealização: Mira NairArgumento: Ronald Bass e
Anna Hamilton PhelanElenco: Hilary Swank,
Richard Gere,
Ewan McGregor,
Christopher Eccleston e
Joe AndersonSeria de estranhar a presença de Mira Nair num projecto como este, mas a verdade é que se trata de um filme dedicado à força de de uma mulher singular, uma mulher disposta a arriscar a sua vida para conquistar um lugar que queriam fazer crer ser apenas dos homens.
A sensibilidade de Mira Nair serve no proveito que retira dos seus dois protagonistas, que reforçam o sentimento geral do filme.
Hilary Swank, naturalmente, dona de um talento que se supera quando tem de representar mulheres obrigadas a serem (tragicamente) forte.
Richard Gere, não mero estereótipo do homem servindo a mulher forte, mas a contraparte que permite a Swank ser eficaz.

A história, muito focada no percurso pessoal de Amelia, tem muitos contornos que são mais fonte de uma vida romanceada do que de uma vida inspiradora.
Não que uma vida deva ser ou ser reduzida à sua componente exemplar, mas convinha não se alongar no acessório, as escolhas sentimentais de uma mulher que conquistou os céus completamente sozinha.

Para se alongar em tais momentos mais próprios à exploração mediática de uma vida era necessário depois demonstrar a sua absoluta inutilidade para descrever uma mulher assim. E isso far-se-ia com uma força dos momentos de aviação.
A aviação não é, no entanto, essencial cinematograficamente. Mira Nair não encontra a forma certa para as fazerem suplantar tudo o resto, com elas arrastando a mulher que vimos descarnada anteriormente.
Podemos considerar sintomático que as cenas mais fortes sejam aquelas em que Amelia atravessa - a pé - os locais pobres mas belos onde aterra.

Amelia foi, sem dúvida, uma mulher capaz de alterar a sua época, mas não o vemos bem assim.
Vemos os enganos e as forças que ela demonstrou quase sempre isoladas num filme que é afinal um romance de sentimentos sem novidade.
Mas se a estranheza de encontrar Mira Nair neste projecto não acontecesse, daria-se o caso deste filme ser o romance sem interesse em que, com mais facilidade do que o desejável, teria caído.
A estranheza de uma escolha pode ser a decisão certa para concretizar um filme - e nada inesperada para quem a toma.
ExtrasCenas cortadas - Um longo e interessante conjunto de cenas cortadas que deixavam antever uma direcção de maior comentário social para o filme e que, infelizmente, não foram escolhidas.
Um útil extra para perceber a sensibilidade da realizadora para tratar a história.
Fica a dúvida se o filme não teria sido, então, melhor.