Título Orginal: Michael Clayton
Realização: Tony Gilroy
Argumento: Tony Gilroy
Uma questão de genealogia.
A presença de Sidney Pollack – como actor e produtor – é a evidência maior de que Michael Clayton descende da genealogia de filmes políticos que se firmavam na década de 1970 como comentários políticos de enorme acutilância.
Reclamando para o “combate” o espaço de relação entre as grandes corporações e os gabinetes jurídicos que os servem, Michael Clayton reclama um espaço em que, tanto as movimentações globais como as motivações individuais estão expostas.
Um campo singelo e exigente.
Daí que valha a pena destacar o argumento que manobra e une com grande agilidade e coerência as relações e as matrizes individuais com as vontades e os mecanismos económicos.
Agilidade e coerência porque todos os traços originados desembocam e influenciam os restantes.
Se os indivíduos se movem por necessidades que – directa ou indirectamente – têm origem nas necessidades dos grupos que os comandam, são as relações entre eles – por mais ténues ou ilusórias que sejam – que, no limite, definem o que eles fazem e, por extensão, como serão vistos.
Dito de outra forma, a par do conteúdo interventivo liberal, há uma dedicação sincera às personagens.
Daí resultam três interpretações de enorme fulgor e qualidade.George Clooney (Michael Clayton), Tilda Swinton (Karen Crowder) e Tom Wilkinson (Arthur Edens).
Cada um deles é um elemento que compreende que está envolvido – mesmo imbuído – de um poder que não lhes deviam estar tão acessível. Mais do que isso, compreendem que esse poder atribui à vida humana um valor e é essa consciência que os leva a agir e a decidir.
Afinal, o valor do indivíduo é também o deles.
Por isso Karen Crowder decidirá por salvar o seu valor em sacrifício do de Michael Clayton e Arthur Edens.
Arthur decidirá salvar o valor dos que devia “destruir” em sacrifício do seu.
E Michael decidirá sacrificar o seu valor pelo valor de uma amigo mas para também afrontar o poder que lhe definiu o valor.
Em tudo isto nota-se a evocação do melhor de Frank Capra enquanto reaccionário social.
Michael Clayton é um Mr. Smith goes to Washington. Sem a inocência, pelo contrário, com boa dose de cinismo. Mas, ainda assim, o sujeito anónimo a minar o perpétuo esquema por dentro, a reivindicação de um poder individual capaz de afrontar o poder instituído.
Com uma tal genealogia – directa a um génio, convenhamos – e com um thriller dinâmico como fundo, Michael Clayton é um dos filmes que ainda exige de nós tanto quanto nos proporciona, um dos filmes que ainda exige ser visto.
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