segunda-feira, 23 de março de 2009
The Spirit, por Carlos Antunes
Título Original: The Spirit
Realização: Frank Miller
Argumento: Frank Miller
Escrevi recentemente a propósito de Watchmen que tinha dificuldades em conjungar o gosto pela BD e pelo Cinema quando se tratavam das respectivas adaptações.
Ora, The Spirit vem contrariar o que eu havia escrito.
Quer como retrato da BD que lhe dá origem, quer como filme, The Spirit é uma absoluta nulidade.
The Spirit é um filme em permanente convulsão, incoerentemente tentando conciliar todos os géneros de que Miller se consegue lembrar.
Visualmente, varia entre Sin City revisto à luz do absurdo - alguém percebe porque é que as solas do ténis do The Spirit são relevantes? - e a inutilidade (no filme) Manga, sem esquecer a triste revisitação do noir na sua composição mais básica, contrapondo insensatamente tons escuros com o vermelho "infernal".
Se há planos e sequências cinematográficas pensadas no filme, elas são tão absolutamente caóticas que não conseguimos discerni-las.
Confundir frenesim com fluidez é um erro de palmatória.
Claro que isso é de somenos importância quando tentamos fazer sentido da bizarra história.
Aqui se cruza mitologia com super-vilania, misticismo com "porrada sem contenção" e a história de amor com o policial, numa dislexia narrativa que fará sentido - talvez e somente - na mente de Miller
Os diálogos afundam-se no ridículo da ineficácia de não serem citáveis nem pela sua força nem pela sua farsa.
As piadas permanentes e ininteligíveis em torno de ovos ou a reinvenção camp da ironia burlesca quando vestem Samuel L. Jackson (The Octupus) de nazi com The Spirit preso a uma cadeira de dentista são sinais da total inoperância narrativa.
Os actores variam entre o "desprovido de personalidade" - Gabriel Match, o péssimo protagonista - e o "estou aqui a fazer de mim mesmo até ao ridículo" de Samuel L. Jackson, sem esquecer o "vamos lá activar a tua líbido" que tem em Scarlett Johansson o seu pico mas que passa por todas as mulheres do filme (a quem aplicaram a misoginia mas não a ironia da obra original).
The Spirit (a banda desenhada) era irónica, burlesca, cómica, aventurosa, poética, inteligente e inovadora.
Frank Miller despojou-a de quase todas estas qualidades e tentou apostar no humor, potenciando o atribulado ridículo, tão completamente absurdo que deixa de fazer sentido rir.
Em The Spirit salva-se - e ao dizê-lo quase me surpreendo- Eva Mendes que aplica a deliciosa verve que o seu papel de femme fatale exige.
A cena com a fotocopiadora ou a sua tirada "Do I look like a good girl?" ficam bem impressas na mente.
Infelizmente ela não consegue salvar nada mais.
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