sábado, 26 de setembro de 2009

Fala com Ela, por Tiago Ramos



Título original: Hable con ella (2002)
Realização: Pedro Almodóvar
Argumento: Pedro Almodóvar
Elenco: Javier Cámara, Darío Grandinetti, Leonor Watling, Rosario Flores, Mariola Fuentes e Geraldine Chaplin

Fala com Ela é Dança, Música, Poesia e Cinema. Tudo simultaneamente. Todos os ramos da Arte ao mesmo tempo como se um só não fosse capaz de fazer jus à obra de Pedro Almodóvar. O Amor segundo Almodóvar é psicótico, dramático, auto-destrutivo e muito pouco sexual. O Amor aqui é um processo de transformação, uma espécie de renascimento. Em Fala com Ela o Amor é diferente, é uma aprendizagem. Afinal como se pode amar uma mulher unicamente fora do registo sexual? Como se pode amar um mulher para além da consciência?



Num espectáculo de Pina Bausch, Café Müller, ao som de The Fairy Queen, de Henry Purcell dá-se o início da aprendizagem do amor. E de imediato é-nos dado a conhecer um novo Almodóvar, que abandona o histerismo associado e aborda um melodrama riquíssimo e intimista, que reduz os elementos cómicos e os usa apenas quando o dramatismo está ao rubro. Um inteligente contrabalanço de estilos.

Em Fala com Ela, o realizador relega as mulheres para um plano secundário (feito raro na sua filmografia) e dá um maior destaque à figura masculina como protagonista. Obviamente que o Homem no filme tem sempre laivos femininos: afinal é o homem sensível, o homem que dedica, o homem que chora. É um argumento soberbo, uma construção exímia de um argumento sobre dedicação, sacrifício e redenção, como tão bem Almodóvar soube ir buscar inspiração a Carne trémula (1997) e Todo sobre mi madre (1999). É um filme que necessita de ser sentido, contemplado, simplificado... É um filme terno e rigoroso. É um filme que recebe a Arte das mãos de Pina Bausch, Caetano Veloso e cameos das suas musas Cecilia Roth e Marisa Paredes.

São encontros e desencontros, lições e aprendizagens contínuas vindas das mãos dos excelentes actores Javier Cámara e Darío Grandinetti. É a dança que conflui com a Vida e a Morte, é um filme dentro de um filme, uma homenagem ao cinema mudo e um pequeno trecho do sensacionalismo de Almodóvar, é uma contenção constante do exibicionismo almodovariano.



E é simultaneamente uma grande história de vida. Pedro Almodóvar é Benigno que ensina o princípio da metamorfose, do melhoramento, da construção, do rejuvenescimento, da redenção através da comunicação. Afinal há tantas formas de comunicar, há a dança, a cor, a arte, a música, o cinema. Mas há que, acima de tudo, falar. É o amor ensinado por um psicótico que rompeu a barreira do social, muito bem retratado por um eficaz jogo de espelhos. Se acabou por aprender a falar com ela quando era tarde demais, Marco aprendeu a comunicar, a viver e a amar. E essa lição, Almodóvar soube dá-la muito bem.

Classificação:





2 comentários:

  1. Fala com Ela é, provavelmente, a mais lírica das obras de Almodóvar: uma dança vibrante, imersa em sentimento, com sede de infinito.

    Cinema em grande! 5*

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD - A Estrada do Cinema

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  2. Roberto F. A. Simões,
    Concordo e compreendo o que dizes. Não é o meu preferido, mas é uma grande surpresa vinda de Pedro Almodóvar.

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