quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Capitalismo - Uma História de Amor, por Carlos Antunes



Título original: Capitalism: A Love Story
Realização: Michael Moore
Argumento: Michael Moore

Michael Moore está claramente cansado, não só de ser a única voz de esquerda a peito aberto nos E.U.A., mas sobretudo por ter vezes demais exposto-se nos seus filmes, tornando-se quase numa personagem e sempre sujeito a ataques.
Este é, provavelmente, o filme que ele pretende que sirva de passagem de testemunho, que sirva de pacificação com a generalidade do público que ainda vive com medo do "monstro vermelho".


Provavelmente é isso mesmo que o torna num dos filmes menos interessantes de Michael Moore.
Ele abdica aqui de diversos dos seus habituais truques - não todos, claro - e tenta ser mais documentarista do que manipulador de cinema.
Só que nem isso lhe apaga o génio que ele tem para a montagem e para a argumentação lúdica, como fica plenamente evidente na cena de abertura que justapõe o Império Romano ao Capitalismo Americano.


Um capitalismo que corre fora de controlo, que se assume como o bastião da democracia que engoliu à conta de um medo paranóico que devia ter acabado com o fim da URSS.
É abismal vermos que as companhias podem, sem conhecimento de ninguém, fazer seguros de vida aos seus empregados, lucrando até mesmo com a morte dos mesmos.
É abismal tentar perceber até que ponto os esquemas funcionam para justificar as atitudes dos patrões e minimizar as condições dos empregados, ou de forma mais abrangente, para beneficiar os que já têm dinheiro e influência e roubar a voz ao povo.
Mais simplesmente, o capitalismo é a forma de roubar o direito do povo ao seu poder democrático.


Há então algo de comum entre esta abordagem ao capitalismo e naquela que Moore fez à política em Fahrenheit 9/11, uma revelação do funcionamento de base do país de Michael Moore.
Continua a existir uma cultura do terror nos EUA que facilmente manipula a opinião pública e que permite depois concretizar qualquer decisão por mais errada ou tendenciosa que possa ser ou que permite usar o Estado como motor dos interesses privados.


Não é, no fundo, nada de surpreendente, mas é sempre mais impactante ao vê-lo evidenciado à dimensão que aqui acontece.
Michael Moore tem, no entanto, o bom senso de não fazer campanha evidente pelo seu socialismo, mas demonstra que já há laivos de recuperação dos direitos que na Europa tomamos como certos mas que nos E.U.A. parecem esquecidos, sejam o da greve, o da indemnização quando uma fábrica encerra ou o direito à habitação.
O filme é o aviso sobre a revolução popular em curso e o incentivo a que ela aconteça por completo.
Mesmo sendo o menos interessante filme de Michael Moore é o mais empenhado e, provavelmente, o mais lúcido e perspicaz!



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