domingo, 3 de janeiro de 2010

Avatar, por Carlos Antunes

http://www.traileraddict.com/content/20th-century-fox/avatar.jpg

Título original:
Avatar
Realização: James Cameron
Argumento: James Cameron
Elenco: Sam Worthington, Zoe Saldana, Sigourney Weaver, Stephen Lang, Michelle Rodriguez e Giovanni Ribisi

Avatar é o mais avançado espectáculo visual que o cinema já viu. Visualmente não há nada que se compare.
A criação de um mundo de uma riqueza visual única tem de ser reconhecida, os métodos de filmagem e a tecnologia criada também, bem como as possibilidades que a partir dele se perspectivam.
Mas dizer que é revolucionário é minimizar os efeitos do que fomos vendo ao longo deste ano. Seja a profundidade de campo (e riqueza cinematográfica) do 3D demonstrada por Up, seja a riqueza cinética do 3D demonstrada por Ice Age: Dawn of Dinosaurs ou as possibilidades criativas do motion capture demonstradas por A Christmas Carol, já estávamos preparados para o passo lógico seguinte.
Subiu-se um degrau na qualidade de tudo isto, o que é admirável pela demonstração de capacidade, mas Avatar só seria absolutamente revolucionário se tivesse surgido sem predecessores, um filme que mesmo que fosse imperfeito não tivesse sequer um pequeno ponto de comparação com qualquer outro.
Aqui a surpresa dura pouco, o tempo de nos habituarmos à normalidade daquela construção imensa e começarmo-nos a cansar dela.


Cansaço de ser forçado a olhar sistematicamente para pouco mais do que uma execução precisa de um planeta imaginado de base.
A maior parte do filme é um olhar sem nada de distintivo por parte de James Cameron, sem ser capaz de dar um cunho distintivo à realização, atravessando a sua criação deslumbrado e satisfeito em olhar como o mais comum dos mortais.
Só chegando ao final do filme, para a enorme batalha que se desenrolará, encontramos um Cameron interessante, imaginativo e com o instinto ligado.
Cameron, com tanto à sua disposição, não soube sequer passar para lá da mera demonstração de possibilidades e criar algo de genuinamente cinematográfico.
Não se trata sequer de tentar compreender a obrigação de um 3D que torna mais realista a experiência de um mundo absolutamente virtual.
Trata-se antes de perceber porque é que Cameron passou da breve amostra da execução cinematográfica do 3D - a profundidade de campo e a consequente riqueza da tela - para o seu esquecimento. O filme não utiliza o 3D para enriquecer planos, ritmos ou movimentos.


Para um filme onde o olhar significava tudo, o falhanço nessa área acaba por reforçar as evidências do falhanço nas restantes.
A história esquemática e (mal) copiada do mito da Pocahontas vai-se denunciado cena a cena, o que coloca o espectador num estado letárgico de quem sabe o que irá ver ainda antes de surgir.
As personagens são peões de um propósito e têm direito a pouco mais do que maus chavões com pretensões a tiradas certeiras.
A filosofia é de mera pacotilha, nem que seja por não conter originalidade, colocando a natureza como uma imensa rede tecnológica - uma internet natural, se assim quiserem ver - onde todos estão interligados de forma muito mais real do que aquela que poderemos encarar na Terra.
As mensagens forçadas contra o espectador são nada menos do que irritantes, seja a ecológica contra a destruição do nosso próprio planeta - e nem valerá a pena discutir a ironia de isso sair de um filme que, directa e indirectamente, muito terá contribuído para esse efeito - ou a política contra a guerra baseada na cobiça - fora de tempo, para dizer o mínimo. Não é num filme como este que as pessoas pretendem ver tais mensagens e muito menos que as registarão.


O que o filme realmente precisava era de se ter dedicado ao dilema de identidade que Jake Sully parece sofrer.
Os breves momentos em que tal ocorre - independentemente dos maus diálogos de que depende - são os mais prometedores e seriam, se nada mais, o pano de fundo para radicalizar a experiência e o discurso, mantendo o interesse no filme muito mais acentuado.
Isso ou ficar definitivamente entregue a Neytiri, a mais aguerrida e rica das personagens, primal e emotiva, plena de instintos mas também de uma sabedoria natural.
Não chega a ser uma personagem plena, mas se pudesse ter sido o seu olhar e a sua constituição como guerreira que acompanhássemos, talvez valesse nesse momento simplesmente olhar o mundo de Pandora, pois aí sim estaríamos verdadeiramente engajados por este filme.


Avatar ficará, inegavelmente, como uma recordação importante no que ao Cinema diz respeito.
Mas sem nada daquilo que é verdadeiramente vital ao Cinema desde os seus primórdios, Avatar estará ao nível de The Jazz Singer, lembrado por ter sido o primeiro filme com diálogos, mas cada vez menos interessante à medida que os anos passam (não que alguma vez tenha sido), nem que seja pela banalização do seu efeito-surpresa.
O problema é que os talkies acabaram por atrasar muitas das possibilidades que os filmes mudos vinham escancarando - basta ver Sunrise: A Song of Two Humans para as encarar.
Resta saber o que significará Avatar para o Cinema actual, pois todas as possibilidades que acarreta podem não passar afinal de aparência.




5 comentários:

  1. Teremos visto o mesmo filme?

    Todos nós sabemos que existem os pseudo cinéfilos, os intelectuais de segunda, esta espécie rara, que perante uma revolução cinematográfica é capaz de fazer uma critica atroz e dar duas estrelas a este filme intemporal, que marca sem dúvida uma época no cinema.

    Lamentável.

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  2. Ola a todos....realmente nao entendo como podem dar duas estrelas a um fime como o Avatar! devem de certo rever os criterios pelos quais se regem! É grande filme! 5*

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  3. Ola a todos....realmente nao entendo como podem dar duas estrelas a um fime como o Avatar! devem de certo rever os criterios pelos quais se regem! É grande filme! 5*

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  4. este filme levou tudo para outro nível, porque não é animação, como os outros que refere. são actores de carne e osso que se transformam por um conjunto de tecnologias - que inclui, mas de todo se limita a animação - em seres produto duma imaginação extraordinária. meio leopardos, meio sioux, eles, os animais e aquele mundo são duma beleza artística e criativa incomparável. veja-se a fotografia incluída neste blogue: http://img222.imageshack.us/img222/4041/2009avatar013.jpg. veja-se o pormenor da expressão. não há nada que se aproxime - é REAL.
    a qualidade do argumento/guião é discutível, embora pessoalmente ache que traz mensagens indispensáveis aos dias que vivemos e não me cansou de todo das duas vezes que já fui ver o filme - esta última em IMAX 3D. mas neste filme, não é isso que está em causa. Avatar é uma obra de arte plástica, uma tela em movimento.

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  5. Ó amigo Carlos Antunes!!! Então quando eu vou ao cinema não posso simplesmente ver um espectáculo visual e sonoro? O cinema tem que ser algo de intelectual que me obrigue a fazer considerações filosóficas sobre um planeta que não existe e seres que não existem??? Será que não posso ir ao cinema para "esvaziar a cabeça", em vez de "encher a cabeça" com mensagens e subentendidos e filosofias? Caramba! Até tinha que saber do mito de Pocahontas!!!
    Fui ver o Avatar 3 vezes. Não aprendi nada, graças a Deus. Fui lá e saí bem servido: puro espectáculo!!!

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