Realização: Jane Campion
Argumento: Jane Campion
Elenco: Ben Whishaw, Abbie Cornish e Paul Schneider
O problema num novo filme de Jane Campion, depois do sucesso universal de The Piano, não se prende com a competência, mas sim com as expectativas. Expectativas essas que podem arruinar a experiência do visionamento de Bright Star – Estrela Cintilante.
A subtileza do filme conquista-nos de imediato. A poética e o romantismo contribuem para uma belíssima experiência espiritual, com recurso a uma fotografia rica, quase idílica, especialmente nas cenas exteriores. É um belo trabalho fotográfico de Greig Fraser, feito de limpidez e pontuado com o poder das palavras poéticas.
Embora esta seja genericamente uma biopic do poeta John Keats, a realizadora foge do convencional e filma através da óptica da sua amada, Fanny Brawne, o objecto da sua paixão desmesurada. A visão é a dela. Uma protagonista forte, interpretada de uma forma fantástica pela promissora Abbie Cornish, muito à frente do seu tempo, mas ao mesmo tempo tão ingénua e tão doce e acima de tudo, tão apaixonada. É o seu amor que o espectador sente, são os seus suspiros que ouvimos, é a sua angústia e dor que experienciamos.
Embora de tons clássicos, o argumento do filme gira em torno daquilo que, no final de contas, é uma história moderna de amor. Um amor que começa com o confronto entre a moda e a poesia – a objectividade (bem avant garde) e a subjectividade (quase transcendental). Planos fechados, romantizados ao máximo, idealizam esta história de amor. Por outro lado, mesmo os planos abertos vastos, revelam que os corpos são meramente indicativos, enquanto que os seus sentimentos são de uma enorme vastidão. A recriação de época, própria de Jane Campion, é exímia, contribuída pelos cenários de Charlotte Watts (The Portrait of a Lady) e o guarda-roupa de Janet Patterson (The Piano).
Contudo, aquele estilo inicial de conquista do espectador, diluí-se a meio do filme. Uma sucessão de infortúnios, por vezes exagerados, acabam por se tornar também lentos e demorados, cuja montagem de Alexandre de Franceschi (The Painted Veil) intensifica. A forma abrupta com que o filme se sucede, mais que subtileza, transmite a ideia de supressão, perdendo-se parte da carga dramática, o que culmina no aborrecimento do espectador e num overacting descomunal. Overacting esse que não é consistente. Os actores, tal como o filme, começam bem, com o destaque da já referida Abbie Cornish, o carisma e fragilidade de Ben Whishaw ou a ironia de Paul Schneider. Pena que esse desempenho não se mantenha constante, traduzindo-se num exagero tal, por vezes ridículo. E a banda sonora que tão bem nos brinda no início, perde-se a meio do filme e que falta ela faz.
Bright Star – Estrela Cintilante ficou na promessa daquilo que poderia ser e não se tornou. É pena porque, no final, ficamos com a sensação que poderíamos ter gostado e sentido muito mais esta história. Dá vontade de rever de novo, à espera de sentir algo de novo.
Argumento: Jane Campion
Elenco: Ben Whishaw, Abbie Cornish e Paul Schneider
O problema num novo filme de Jane Campion, depois do sucesso universal de The Piano, não se prende com a competência, mas sim com as expectativas. Expectativas essas que podem arruinar a experiência do visionamento de Bright Star – Estrela Cintilante.
A subtileza do filme conquista-nos de imediato. A poética e o romantismo contribuem para uma belíssima experiência espiritual, com recurso a uma fotografia rica, quase idílica, especialmente nas cenas exteriores. É um belo trabalho fotográfico de Greig Fraser, feito de limpidez e pontuado com o poder das palavras poéticas.
Embora esta seja genericamente uma biopic do poeta John Keats, a realizadora foge do convencional e filma através da óptica da sua amada, Fanny Brawne, o objecto da sua paixão desmesurada. A visão é a dela. Uma protagonista forte, interpretada de uma forma fantástica pela promissora Abbie Cornish, muito à frente do seu tempo, mas ao mesmo tempo tão ingénua e tão doce e acima de tudo, tão apaixonada. É o seu amor que o espectador sente, são os seus suspiros que ouvimos, é a sua angústia e dor que experienciamos.
Embora de tons clássicos, o argumento do filme gira em torno daquilo que, no final de contas, é uma história moderna de amor. Um amor que começa com o confronto entre a moda e a poesia – a objectividade (bem avant garde) e a subjectividade (quase transcendental). Planos fechados, romantizados ao máximo, idealizam esta história de amor. Por outro lado, mesmo os planos abertos vastos, revelam que os corpos são meramente indicativos, enquanto que os seus sentimentos são de uma enorme vastidão. A recriação de época, própria de Jane Campion, é exímia, contribuída pelos cenários de Charlotte Watts (The Portrait of a Lady) e o guarda-roupa de Janet Patterson (The Piano).
Contudo, aquele estilo inicial de conquista do espectador, diluí-se a meio do filme. Uma sucessão de infortúnios, por vezes exagerados, acabam por se tornar também lentos e demorados, cuja montagem de Alexandre de Franceschi (The Painted Veil) intensifica. A forma abrupta com que o filme se sucede, mais que subtileza, transmite a ideia de supressão, perdendo-se parte da carga dramática, o que culmina no aborrecimento do espectador e num overacting descomunal. Overacting esse que não é consistente. Os actores, tal como o filme, começam bem, com o destaque da já referida Abbie Cornish, o carisma e fragilidade de Ben Whishaw ou a ironia de Paul Schneider. Pena que esse desempenho não se mantenha constante, traduzindo-se num exagero tal, por vezes ridículo. E a banda sonora que tão bem nos brinda no início, perde-se a meio do filme e que falta ela faz.
Bright Star – Estrela Cintilante ficou na promessa daquilo que poderia ser e não se tornou. É pena porque, no final, ficamos com a sensação que poderíamos ter gostado e sentido muito mais esta história. Dá vontade de rever de novo, à espera de sentir algo de novo.
Tenho este filme para ver, ainda não o fiz porque ainda não encontrei o ponto emocional ideal. Vamos a ver o que aí vem, apesar de pela tua crítica não o veria !
ResponderEliminarR. Branco,
ResponderEliminarApesar da nota final, a verdade é que não deves deixar de ir ver o filme. Eu próprio referi no final que pretendo ver uma segunda vez, até porque gostei do filme, mas fiquei desiludido pois tinha expectativas muito elevadas. Mas visualmente é belíssimo e poético.
Como já tínhamos comentado :)
ResponderEliminarAgora quando vir este filme vou com as expectativas em baixo a fim de não me desiludir como te aconteceu...
Abraço
http://nekascw.blogspot.com/
Nekas,
ResponderEliminarÉ, conforme disse, a minha experiência pessoal. Na próxima vez que o vir pode ser que a opinião melhore, tanto que a maioria das críticas que já li são bastante positivas.
A minha opinião é ligeiramente diferente, sinceramente acho que "Bright Star" é um filme que está acima da média. As interpretações do elenco principal são excelentes e surpreendentes porque eu não esperava nada de bom de Abbie Cornish ou Bem Wisham mas ambos estão muito bem. Jane Campion voltou ao brilho de outrora, após um péssimo “In The Cut” esta senhora regressa finalmente a um registo mais sério e romântico que é aquele que melhor sabe fazer e melhor lhe assenta. O argumento pode ser demasiado “romântico” às vezes mas o que se podia esperar de um filme sobre um relacionamento que envolve um poeta romântico? A introdução dos poemas ao longo do filme é óptima e a fotografia é adequada ao estilo do filme e da época. Concordo com a análise da banda sonora, realmente perde-se a partir de certo momento. No geral acho que estamos perante um bom filme que foi digno da ovação que recebeu em Cannes.
ResponderEliminarJT,
ResponderEliminarO problema para mim não o romantismo. Aprecio bastante esse tom romântico e clássico no filme. É o melhor que ele tem. Apenas fiquei desiludido com a cadência argumentativa e com a montagem abrupta. E perto do final com o exagero no desempenho dos actores. Mas isto sou eu e não quer dizer que num segundo visionamento não mude de ideia.
Se assim for, é uma pena. Ainda não vi o filme. Amo O PIANO como ninguém, tinha esperanças que Campion voltasse em grande.
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Roberto F. A. Simões,
ResponderEliminarAcho esta frase resume tudo: «O problema num novo filme de Jane Campion, depois do sucesso universal de The Piano, não se prende com a competência, mas sim com as expectativas.». Provavelmente fui eu que estraguei a mim próprio o visionamento do filme.
Roberto F. A. Simões,
ResponderEliminarAcho esta frase resume tudo: «O problema num novo filme de Jane Campion, depois do sucesso universal de The Piano, não se prende com a competência, mas sim com as expectativas.». Provavelmente fui eu que estraguei a mim próprio o visionamento do filme.