sábado, 2 de janeiro de 2010

Caminho para Perdição, por Tiago Ramos



Título original: Road to Perdition (2002)
Realização: Sam Mendes
Argumento:
David Self, Richard Piers Rayner e Max Allan Collins
Elenco: Tom Hanks, Tyler Hoechlin, Paul Newman, Liam Aiken, Jude Law, Jennifer Jason Leigh e Daniel Craig

O maior defeito que podemos aplicar a Road to Perdition é o facto de Sam Mendes ter conseguido realizar o filme de forma elegante, como se espera de um filme do género. Mas não conseguiu superar essa elegância padronizada. Reproduz correctamente os filmes de gangsters, mas não vai além disso.



Porém, pelo oposto, na componente estética, Sam Mendes nunca faz as escolhas comuns. Impressiona pela forma apurada com que constrói as imagens, não tem medo de filmar no escuro (a grande maioria das cenas são filmadas em lugares ou ocasiões escuras) ou do grão na imagem. É uma atmosfera muito fidedigna à novela gráfica em que se baseou, indo obviamente buscar inspiração aos desenhos à mão da banda desenhada. É uma moldura virtuosa e impecável que acaba por distrair o espectador do argumento recheado de lugares comuns e citações do género.

De facto, em Road to Perdition temos um início bastante bem conseguido fazendo relembrar The Godfather (1972) ou Once Upon a Time in America (1984). Porém rapidamente nos apercebemos que Sam Mendes não é Francis Ford Copolla ou Sergio Leone. De facto, aqui as personagens perdem o seu lado mais emocional e interessante em termos argumentativos, porque a moldura visual que os rodeia, retira-lhes o protagonismo. Peca pela elegância. É academismo puro e se em outras ocasiões resulta, aqui entra em conflito com o próprio filme e com o espectador.



Sam Mendes
rodeia-se daquela que viria a ser a sua mais habitual equipa: Thomas Newman a cargo da banda sonora dramática e violenta (excelsa, como de costume) e Conrad L. Hall na fotografia soberba. Uma estética de elegância, uma fruição artística do cinema, a distinção na forma como observa o que o rodeia.

Contudo, a composição de Tom Hanks e a sua relação-devoção com o seu chefe (excelente trabalho de Paul Newman), bem como a relação pai-filho, assume contornos demasiado moralistas, por vezes até plásticos. Uma ligação definida, mas muito aquém do desejado. O trabalho do actor não traz nada de novo ao género, repercutindo-se numa prestação demasiado sonolenta. Por seu lado, temos o desempenho de Jude Law como um regalo para os cinéfilos. Um assassino, que no fim é um iconoclasta, amante de uma estética clínica assumida, que fotografa as cenas dos seus crimes, para as vender aos jornais sensacionalistas. Uma personagem bizarra, mas interessante, num dos melhores trabalhos do actor.



No seu todo, nem Sam Mendes nem Road to Perdition desiludem. O filme é um conjunto de belos quadros, sequências estonteantemente frias, mas quando soma com o desequilíbrio narrativo (as lições de moral e o déjà vu argumentativo) não traz um resultado particularmente interessante. Falta-lhe mais calor humano.

Classificação:



3 comentários:

  1. Talvez lhe falta algum calor.
    Mas de resto não concordo que seja academismo puro.

    Muito bom filme. 5/5

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD - A Estrada do Cinema

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  2. Roberto F. A. Simões,
    Aquele virtuosismo técnico revela um trabalho académico, como por exemplo, também Revolutionary Road o é. Mas o segundo tocou-me muito mais e tem interpretações melhores.

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  3. Roberto F. A. Simões,
    Aquele virtuosismo técnico revela um trabalho académico, como por exemplo, também Revolutionary Road o é. Mas o segundo tocou-me muito mais e tem interpretações melhores.

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