sábado, 30 de janeiro de 2010

Invictus, por Tiago Ramos



Título original: Invictus (2009)
Realização: Clint Eastwood
Argumento: Anthony Peckham e John Carlin
Elenco: Morgan Freeman e Matt Damon

Clint Eastwood filmou o continente africano de uma forma magistral em White Hunter Black Heart (1990). Mas em Invictus não é o coração africano que o cineasta pretende filmar, nem tampouco pretende resumir-se a uma biopic de Nelson Mandela ou à história da ascensão do rugby enquanto desporto. A história de uma sociedade fragmentada pelo fantasma recente do Apartheid e todas as implicações sociais e humanas é aquilo que Invictus carrega às suas costas.



Nelson Mandela é quem tem maior autoridade moral no continente africano. Foi ele que enfrentou um regime opressivo e racista, que lutou e sofreu pelos seu ideais e pela sua visão de criar aquilo que chamou de Nação Arco-Íris. Estamos então no início dos anos 90 e com o assumir da presidência da África do Sul, Mandela pretende destruir barreiras e reunir uma nação destruída pelo preconceito, racismo, xenofobia e rancor, dividida entre os negros sul-africanos e os africânderes, descendentes dos colonos holandeses, franceses e alemães, na sua maioria de raça ariana. Mas mais que uma lição de moral, o que Clint Eastwood trouxe com Invictus - a sua 30.ª obra cinematográfica - foi aquilo que poderemos facilmente apelidar de feel good movie.

O Clint Eastwood que encontramos aqui não é o mesmo que conhecemos nas suas obras anteriores. Não obstante um estilo diferente de realização, de alguma forma muito mais acelerado, encontramos também uma visão muito mais positiva sob a habitual temática da união, da destruição de barreiras, do companheirismo e da amizade. Aquilo que conseguimos ver daqui é um cineasta que se limitou ao argumento que lhe foi dado e que não tentou superá-lo. Limitou-se a ser fiel àquilo que o inglês John Carlin já havia escrito. E conseguiu-o de uma forma consistente, mas ao mesmo tempo sem revelar ao seu traço de génio a que já nos havia habituado. Esta sensação de alguma insatisfação que Invictus deixa ao espectador perante o conhecimento que tem da filmografia do cineasta prende-se com a utilização abusiva de clichés do género em filmes desportivos como a duvidosa opção do slow motion, a inclusão de efeitos sonoros na bola ou a banda sonora que parece uma reposição de seus trabalhos anteriores, com direito a uma balada cliché cantada por uma boys band sul-africana. Situações melosas e clichés que transmitem ao espectador uma sensação estranha não comum em filmes de Clint Eastwood.


Invictus não é um mau filme. Na verdade, é hábil na comoção do espectador e na transmissão de uma mensagem maior de paz e união, conseguindo transmitir ao espectador uma visão positiva da vida e permitindo-lhes encontrar uma sensação de déjà vu assaz interessante e não apenas cansativa. Também a emoção dos jogos de rugby é retratada de uma forma muito realista.

A construção das personagens é ainda outro ponto alto do filme, especialmente na de Nelson Mandela. Encontramos ali uma lição de vida, uma noção maior de abnegação e de interesses superiores aos pessoais. É um estratega político que no fim de contas não se esquece do lado humano, que se preocupa com as pessoas individualmente de uma forma genuína. Morgan Freeman consegue transmitir a mensagem de uma forma perfeita, quer seja pelo aspecto físico, pela pronúncia ou pelas atitudes, trazendo uma maior noção de verosimilhança que o esperado. Um dos seus melhores desempenhos dos últimos que lhe valeu já uma nomeação para o Globo de Ouro de Melhor Actor e provavelmente, pelo menos, também uma nomeação para os Óscares 2010. O actor evita a caricatura, mas não deixa de ser fiel à figura que todos conhecemos.



Matt Damon em toda a secundariedade que a sua personagem transporta mantém um desempenho competente e consistente, revelador da sua versatilidade enquanto actor, especialmente depois de o termos visto totalmente diferente em The Informant! (2009).

Invictus parte do simples e do óbvio para rematar com um tema fundamental e fulcral: a união. Neste caso, utiliza a história real de Nelson Mandela que deu o pontapé de partida para a união dos sul-africanos por meio do rugby, mas no fim de contas extrapola essa mensagem para a vida. De certa forma é uma mensagem cliché, mas que nos faz deixar o filme com um sorriso na cara, especialmente pelo humor delicioso que Clint Eastwood nos traz. Pode não ser o seu melhor filme, mas é agradável e só por isso já é bom.

Classificação:



6 comentários:

  1. Confesso que estava à espera de muito mais. É um filme onde a essência de Clint Eastwood não entra em acção. Só aquela cena do helicóptero a chegar ao treino deles, e juntar a isso aquela música muito 'rafeira', nem parece de Eastwood. Mas sim, não deixa de ser um bom filme. :) 7/10.

    Boa crítica Tiago, continua! :)

    Abraço.

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  2. É isso mesmo. É a música a que me refiro: chama-se Colorblind e é
    interpretada pelos Overtone, uma boys band sul-africana que só destoa no
    meio disto tudo.

    Obrigado Fernando :)


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  3. Confesso que é algo que não me suscita o mínimo de interesse, e agradaram-me imenso os últimos trabalhos realizados por Eastwood. Mas soa-me demasiado académico, melodramático e prevísivel...

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  4. Melodramático e previsível é, mas não é de todo um trabalho académico. Muito
    pelo contrário.



    ======

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  5. Devo dizer-te que estava à espera de um filme pior, vi Gran Torino e pensei que Eastwood não conseguiria melhor ou, pelo menos, parecido - Enganei-me.
    Invictus não supera Gran Torino mas por outro lado revela-se muito mais um feel good movie, um feel good movie que transporta valores tão grandes como em Gran Torino embora de uma maneira mais superficial, ou no mínimo, menos drástica.
    Tinha de ser eu a dar um notão ao filme :)

    Abraço
    http://nekascw.blogspot.com/

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  6. Compreendo perfeitamente a nota que lhe deste. Os valores apresentados por
    Clint Eastwood na forma de um feel good movie são interessantes e positivos,
    trazendo uma noção agradável... mas infelizmente para mim, acabou por se
    tornar em algumas partes um grande "pastelão".

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