Título original: Sherlock Holmes
Realização: Guy Ritchie
Argumento: Michael Robert Johnson e Anthony Peckham
Ao convocar o nome de Sherlock Holmes para este filme, Guy Ritchie está necessariamente a convocar o cânone da personagem ou, pelo menos, as ideias populares que a ela se foram associando.
Está a fazê-lo, sobretudo, porque nos coloca perante uma personagem já maturada, em vez de tentar uma verdadeira migração da mesma para o século XXI, podendo isso passar, facilmente, por um “filme de origem” com uma primeira investigação e a progressiva criação das relações que vemos já existirem no filme.
À conta disto – necessário como chamariz e suposta garantia de sucesso comercial – este Sherlock Holmes sujeitou-se ainda mais a todas as obsessivas e minuciosas comparações.
À conta disto – necessário como chamariz e suposta garantia de sucesso comercial – este Sherlock Holmes sujeitou-se ainda mais a todas as obsessivas e minuciosas comparações.
Levando em consideração que Sherlock Holmes nasceu nos pulps, não é de todo errado dizer que a fisicalidade do personagem faz sentido estar de novo evidenciada no filme.
Não se deverá também esquecer é que Conan Doyle acabou por emergir desse “gueto literário” pela força da sua personagem, aquela que definiu a essência de muitos dos policiais e, acima de tudo, da figura do detective que resiste, embora mutável, até aos nossos dias.
Holmes será sempre, em grande parte, um espírito superior cujo método "baseia-se na observação das coisas insignificantes", mesmo que alguma espectacularidade fosse exigida à trama pelos leitores das publicações onde era editado.
Este é, afinal, o ponto mais incomodativo do filme que aposta sem sequer um momento de dúvida na componente de que menos memória se guarda quando se toca no nome de Sherlock Holmes.
Não se deverá também esquecer é que Conan Doyle acabou por emergir desse “gueto literário” pela força da sua personagem, aquela que definiu a essência de muitos dos policiais e, acima de tudo, da figura do detective que resiste, embora mutável, até aos nossos dias.
Holmes será sempre, em grande parte, um espírito superior cujo método "baseia-se na observação das coisas insignificantes", mesmo que alguma espectacularidade fosse exigida à trama pelos leitores das publicações onde era editado.
Este é, afinal, o ponto mais incomodativo do filme que aposta sem sequer um momento de dúvida na componente de que menos memória se guarda quando se toca no nome de Sherlock Holmes.
O filme de Ritchie carrega na acção ao ponto do exagero, insistindo num crescendo monótono e descaracterizado, pretendendo engrandecer cenas que terminam no ponto do ridículo - do qual a do barco semi-construído afundando-se no Tamisa é o exemplo mais claro também à conta do péssimo trabalho de efeitos aí realizado.
Enquanto isso, a observação vai-se reduzindo a cenas caricatas, perdidas no seio do filme. O melhor da capacidade dedutiva de Holmes é aplicada contra a noiva de Watson em vez de na investigação para a qual Holmes se limita a provar a pedra de um túmulo ou a adivinhar algo pela ausência de água numa banheira.
Enquanto isso, a observação vai-se reduzindo a cenas caricatas, perdidas no seio do filme. O melhor da capacidade dedutiva de Holmes é aplicada contra a noiva de Watson em vez de na investigação para a qual Holmes se limita a provar a pedra de um túmulo ou a adivinhar algo pela ausência de água numa banheira.
Num policial há, no mínimo, que criar em quem o está a seguir uma febre detectivesca, proporcionando um desafio que, mal ou bem, possa ser jogado por quem o segue.
Aqui tal não acontece e, da trama menos misteriosa e eficaz que o esperado, resulta no final uma explanação de factos misteriosamente aparecidos, não se sabe exactamente como.
Aqui tal não acontece e, da trama menos misteriosa e eficaz que o esperado, resulta no final uma explanação de factos misteriosamente aparecidos, não se sabe exactamente como.
O que de melhor aqui acontece é a interpretação de Robert Downey Jr., com a de Jude Law a acompanhar.
O Holmes de Downey Jr. é tão impositivo quanto irritante, excêntrico e um pouco snob. A sua mente está para lá do funcionamento quotidiano e entediada na ausência de um caso., enquanto o seu comportamento social será tudo menos exemplar. Estamos, no fundo, perante um autista funcional.
Watson é aqui menos fiel ou submisso a Holmes, embora esteja ainda fascinado e facilmente se deixe levar pela personalidade larger than life do outro.
A relação dos dois vive tanto da incompatibilidade de feitios como da dependência de capacidades complementares. A relação dos dois está perto do que de melhor se viu nos buddy movies.
São os dois, com a sua química evidente, que compensam a falta de personalidade de Ritchie para o filme que tem em mãos.
O seu estilo de realização é só um e permite sem grandes dificuldades traçar-lhe o percurso sem esforço.
Ritchie impõe-se ao tema, às personagens, ao ambiente. Ele vinca a sua personalidade por cima do próprio filme, o que seria bom se ele tivesse um talento inquestionável, algo que definitivamente não tem.
Se Sherlock Holmes é superior a todos os filmes que Guy Ritchie realizou depois de Lock, Stock and Two Smoking Barrels é graças aos seus actores e nunca a ele próprio.
O Holmes de Downey Jr. é tão impositivo quanto irritante, excêntrico e um pouco snob. A sua mente está para lá do funcionamento quotidiano e entediada na ausência de um caso., enquanto o seu comportamento social será tudo menos exemplar. Estamos, no fundo, perante um autista funcional.
Watson é aqui menos fiel ou submisso a Holmes, embora esteja ainda fascinado e facilmente se deixe levar pela personalidade larger than life do outro.
A relação dos dois vive tanto da incompatibilidade de feitios como da dependência de capacidades complementares. A relação dos dois está perto do que de melhor se viu nos buddy movies.
São os dois, com a sua química evidente, que compensam a falta de personalidade de Ritchie para o filme que tem em mãos.
O seu estilo de realização é só um e permite sem grandes dificuldades traçar-lhe o percurso sem esforço.
Ritchie impõe-se ao tema, às personagens, ao ambiente. Ele vinca a sua personalidade por cima do próprio filme, o que seria bom se ele tivesse um talento inquestionável, algo que definitivamente não tem.
Se Sherlock Holmes é superior a todos os filmes que Guy Ritchie realizou depois de Lock, Stock and Two Smoking Barrels é graças aos seus actores e nunca a ele próprio.
Robert Downey Jr. poderá, então, ter criado o Sherlock Holmes para todas as futuras gerações com a sua construção da personagem nada menos do que perspicaz.
Infelizmente para ele, sobrecarregaram-na com o peso desmedido do acessório - a acção, o romance e o engodo visual que o público(?) exige. Afinal o melhor que Sherlock Holmes fez para concluir a imensa luta de mentes que travou com Moriarty foi trocar alguns toscos empurrões até à morte.
Por isso este Sherlock Holmes não conseguirá substituir nenhuma das anteriores (boas) encarnações nas mentes das gerações que já chegaram aqui bem mais envolvidas com o personagem e as suas aparições no ecrã.
Sem o nome de Sherlock Holmes esparramado no título, este filme podia ter sido o que quisesse sem sobressaltos, mas assim não fez jus à personagem.
Infelizmente para ele, sobrecarregaram-na com o peso desmedido do acessório - a acção, o romance e o engodo visual que o público(?) exige. Afinal o melhor que Sherlock Holmes fez para concluir a imensa luta de mentes que travou com Moriarty foi trocar alguns toscos empurrões até à morte.
Por isso este Sherlock Holmes não conseguirá substituir nenhuma das anteriores (boas) encarnações nas mentes das gerações que já chegaram aqui bem mais envolvidas com o personagem e as suas aparições no ecrã.
Sem o nome de Sherlock Holmes esparramado no título, este filme podia ter sido o que quisesse sem sobressaltos, mas assim não fez jus à personagem.
Sherlock Holmes foi estereotipado como um detective minucioso, com a grande capa bêge e com o famoso cachimbo na boca, no entanto, nos livros de Conan Doyle há sempre referências a Sherlock Holmes como amante das artes marciais entre outras coisas referenciadas no filme.
ResponderEliminarNão tenho dúvida que tenha fugido ao tema, mas Sherlock Holme trouxe um novo, ou melhor, reformulado detective, é pena é para as pessoas que nunca viram Sherlock Holmes e ficarão com esta imagem dele na cabeça, não é, de todo, mau mas devemos conhecer "os dois" Sherlock Holmes.
Abraço
http://nekascw.blogspot.com/
Nekas, o Holmes não foi estereotipado assim. Essa era boa parte da sua essência, mesmo a mais importante - não falo da roupagem, entenda-se.
ResponderEliminarE eu não nego na minha crítica que Holmes tivesse uma componente física, mas afirmo que se inverteram os papéis e a preponderância das duas componentes.
Mas melhor do que eu, disse-o o Lauro António: http://lauroantonioapresenta.blogspot.com/2010/01/dossier-sherlock-holmes-2.html
Confesso que a crítica me desanimou. Mas ainda assim vou vê-lo no Domingo esperando ao menos bom divertimento.
ResponderEliminarCiNe, os filmes vêem-se sempre.
ResponderEliminarO essencial é sempre a experiência enriquecedora do Cinema!
E obrigado por ler!
CiNe, os filmes vêem-se sempre.
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