segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Tetro, por Carlos Antunes

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Título original:
Tetro
Realização: Francis Ford Coppola
Argumento: Francis Ford Coppola
Elenco: Vincent Gallo, Maribel Verdú e Carmen Maura

Tetro é a história de uma ruína familiar, de um reencontro de irmãos que apenas pode confirmar a tragédia familiar.
Ajustadamente, Tetro traça-se como uma verdadeira peça de teatro, uma peça onde as personagens são uma criação, ficcionalizando-se a si mesmas - Tetro, um alter-ego em que o atormentado génio sem rumo se sente confortável e reinventado - ou tentando descobrir aquilo que as constitui - o irmão fixado pela aura de Tetro e que procura descobrir o passado que não viveu mas que lhe é comum.

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Claro que nenhum deles pode viver muito tempo neste estado, pois no encontro destes dois a ficção de ambos vai ruindo e a dolorosa realidade retorna para os assombrar.
A peça que eles vivem, naquele belo preto e branco perfeitamente trabalho, vai então sendo interrompido pela cor viva das memórias. A arte fotográfica do presente interrompida pela simplicidade de uns "filmes caseiros" do passado.
A verdadeira tragédia só poderá explodir, incomportável que se torna tentar esconder as fendas que atravessam as personagens que se criaram.

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A ideia teatral está no interior do próprio filme, tal como está na sua composição.
O teatro, o palco, é o ponto de união e de ruptura da família a que estes personagens pertencem.
A sensibilidade de Coppola torna tudo isto mais palpávell ao espectador, ensaiando o verdadeiro teatro de permeio com as personagens, tal como ensaia os acontecimentos das personagens no mais velho palco de todos, aquele que nasce na própria rua.
Nesse palco da rua os focos que tanto iluminam como ofuscam os personagens são as luzes de candeeiros e de faróis que os ameçam porque nunca lhes dão abrigo.

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É nesta ideia de teatro - e como Tetro está tão perto de Teatro! - que este filme evoca um apego ao cinema clássico - The Red Shoes e The Tale of Hoffmann são as referências citadas directamente - que formou Coppola ao mesmo tempo que ele parece um jovem em busca de soluções, de alternativas, de afirmação de uma linguagem que já domina.
O cinema de Coppola continua, depois de Uma Segunda Juventude, a procurar a modernidade pessoal de um cineasta que não tem mais nada a provar.
Felizmente que assim é.



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