O quarto episódio da temporada mantém a ordem da primeira, relativamente aos personagens centrais. Geralmente, episódios centrados no Locke são dos mais ricos em mitologia, e este não é excepção. O título parecia ser uma referência ao facto do cadáver de John Locke ter sido levado no Ajira 316 como "um substituto" do Christian – expressão utilizada pela Eloise Hawking quando deu a instrução ao Jack para o transportar. No entanto, o episódio acabou por ser principalmente sobre "candidatos". Afinal, o título referia-se ao novo emprego encontrado por Locke X como professor substituto numa escola.
[Nota: a partir deste post, as versões dos personagens na nova realidade serão acompanhadas de um X junto ao seu nome, para facilitar a distinção. Exceptuam-se os casos em que esteja explícito o contexto da realidade de LA X.]
Mundo Paralelo
Locke e Helen vivem juntos, planeiam casar-se dentro de um mês. Talvez por isso, neste Locke a quem tudo parece correr mal, está sempre presente um certo optimismo que nos surpreende. Parece ter aprendido a lidar com a cadeira de rodas e, mesmo tendo gritado por lhe recusarem a ida numa caminhada, reconhece os motivos pelos quais este direito lhe é negado. É Locke quem não acredita em milagres e Helen quem tem esperança que ele volte a andar.
Se dependesse da Helen, chamavam os pais dela juntamente com o pai do Locke e casavam ainda nesse dia. Quer isto dizer que o pai do Locke não lhe "roubou" um rim nem o atirou do 8º andar de um prédio? Será ele agora uma pessoa diferente? E quererá isso dizer que o passado do James também mudou? Afinal de contas, porque motivo está o Locke numa cadeira de rodas?
Locke perdeu o emprego. Tudo parece correr mal e nem com o estacionamento ele tem sorte: alguém estacionou fora dos limites e Locke não consegue passar. Tenta riscar a viatura, mas nem isso consegue, pois esta pertence ao homem mais sortudo do mundo (Hurley) que, por acaso, é também o seu patrão. Na realidade original, Hurley também comprou a empresa onde Locke trabalhava, mas nunca souberam da coincidência. Hurley arranja-lhe uma oportunidade de emprego e Locke marca uma entrevista.
É recebido por uma agente de Recursos Humanos que, na realidade original, é uma falsa cartomante que garante ao Hurley poder salvá-lo da maldição dos números. Farto de testes psicotécnicos que considera absurdos, pede para chamar a sua superiora – Rose.
A sensatez desta personagem não se alterou minimamente nesta nova realidade. Rose tem cancro, também ela não acredita em milagres, mas aprendeu a aproveitar o tempo que lhe é dado. Os dois únicos personagens que experimentaram um milagre com a sua chegada à Ilha são, nesta realidade, pessoas que aprendem a lidar com a sua condição. A conversa com Rose faz com que Locke desista de ligar ao Jack para uma consulta, resta saber se haverá futuros desenvolvimentos neste arco de história.
Locke consegue o cargo de professor substituto numa escola. Numa das primeiras aulas, aborda o capítulo 4 de Ciências, sobre a reprodução humana: uma ligeira referência aos números e aos problemas de fertilidade existentes na Ilha. Na sala dos professores, conhece o Ben, professor de História Europeia. Ben está a implicar com os seus colegas por causa do filtro do café, num tom digno até do Frogurt, mas muda rapidamente de tom quando Locke diz que só quer um Earl Grey: a bebida de um cavalheiro.
Mundo Original
O episódio começa com uma espectacular viagem do Black Smoke pela Ilha, vista na primeira pessoa: vai até às casas construídas pela Dharma e verifica que James se encontra lá. De seguida, regressa ao local onde deixou Richard (literalmente) pendurado. Aparentemente, tinham uma conversa pendente há já vários anos.
Richard é muito diferente agora, já não é o homem sereno e sempre com a roupa limpa e arranjada: está ferido, sujo e assustado. Smokey explica-lhe que escolheu a aparência do Locke pois sabia que lhe daria acesso fácil ao Jacob, uma vez que Locke era um candidato. Richard não faz ideia do que seja um candidato, o que abre uma oportunidade para o Smoke repetir o seu argumento preferido: as ordens do Jacob sempre foram seguidas sem ser questionadas. Se Richard tivesse ficado do seu lado, Smoke nunca o deixaria sem saber o que se passa. Mas a sua argumentação é interrompida pela visão de uma estranha criança.
Um miúdo loiro envolvido numa luz dourada, vestido da mesma forma que os Others e com os braços ensanguentados, olha fixamente para o Smoke. Este retribui o olhar, mas com um ar assustado, parecendo reconhecer a criança. Quando Richard o tenta ver, o rapaz desapareceu. A grande revelação aparente é a de que nem todas as visões que ocorrem na Ilha são da autoria do Black Smoke. A criança surge novamente mais tarde, já sem os braços ensanguentados, depois de o Smokey ter convencido o James a acompanhá-lo. Surpreendentemente, James também consegue ver o rapaz. Smoke segue-o pela floresta, mas acaba por cair aos seus pés.
"Tu sabes as regras, não o podes matar." A resposta do Black Smoke evidencia a sua fraqueza, quase como se o espírito de John Locke viesse à superfície: Don't tell me what I can't do!
Será esta criança real, ou uma visão? A quem se refere ele? E quem estabelece estas regras? No contexto da cena, é-nos dado a entender que o Smoke não pode matar o James, porque este é um candidato. É possível que o rapaz se referisse ao Jacob, mas o próprio admitiu ao Hurley que tinha morrido. Quem é este rapaz, vestido como um Other, mas tão parecido com o próprio Jacob? Será ele o Aaron envelhecido, uma visão semelhante à que o Locke teve do Walt? Ou será ele o Jacob em novo, ou até mesmo o filho do Jacob? A sua mensagem, para frustração do Smokey, é que a morte do Jacob não parece ter alterado as regras que lhe são impostas.
Junto à estátua, Ilana tenta recompôr-se da morte do Jacob e perda dos seus companheiros. Ben conta-lhe que foi obra do Black Smoke, e mente ao dizer que foi também o Smoke quem matou o Jacob. Ilana parece estar a par das regras e saber que foi o Ben. É importante notar que ela recolhe algumas cinzas do Jacob – será que só as cinzas dos mortos servem como protecção contra o Black Smoke, ou haverá outra finalidade? Partem em direcção ao Templo mas, por insistência da Sun, fazem um desvio para enterrar o corpo do Locke. É Ben quem faz um sincero elogio fúnebre: "ele foi um homem muito melhor do que eu alguma vez serei, e lamento tê-lo assassinado". É compreensível a reacção do Lapidus, realmente não foi o mais comum dos funerais.
Smoke leva James até uma gruta escondida num penhasco, apenas acessível através de umas escadas de madeira, uma clara referência bíblica [mais informações], ainda que vista da perspectiva inversa: James prepara-se para descer à perspectiva mais "realista" que lhe poderão dar da Ilha. À entrada da gruta, encontra-se uma pequena mesa com uma balança. Nos seus pratos, é mostrado o equilíbrio entre uma pedra preta e uma branca. Aqui está presente a temática recorrente do preto e branco na série, a balança simbolizando que a harmonia não existe sem um destes elementos.
Smoke pega na pedra branca e atira-a ao mar. Diz ser uma inside joke, mas a mensagem é clara: o equilíbrio foi interrompido.
No interior da gruta, James descobre que é um candidato. Nas paredes, estão escritos a giz os nomes de candidatos, cada um associado a um número. Todos os nomes foram entretanto riscados, excepto 6, cuja numeração corresponde aos misteriosos números da série: 4–Locke; 8–Reyes; 15–Ford; 16–Jarrah; 23–Shephard; 42–Kwon. Smoke diz não saber se "Kwon" se refere ao Jin ou à Sun, mas afirma que todas estas pessoas foram tocadas pelo Jacob e que, a partir desse momento, perderam o livre arbítrio. É curiosa a ausência do nome da Kate, visto que também ela foi tocada por Jacob. O Black Smoke parece também não saber o significado dos números, dizendo que o Jacob tinha uma mania com os números.
Segundo o Smoke, todos estes nomes foram escritos pelo Jacob. Não parece a organização da mesma pessoa que faz uma tapeçaria como a que vemos Jacob a tecer em "The Incident" (5.16+5.17). Os candidatos são potenciais sucessores ao cargo de protector da Ilha mas, para o Smoke, não há nada para proteger – todas aquelas pessoas foram "desperdiçadas" em nome de algo que não existe, afinal a Ilha é apenas uma ilha. O que é bastante irónico, dito por alguém que tem a habilidade de se transformar numa coluna de fumo, assumir a identidade de outras pessoas e já era vivo no tempo do Black Rock.
James, como qualquer outro candidato, tem a possibilidade de ficar para ver o que acontece e eventualmente ser riscado da parede. Smoke ilustra esta situação, riscando o nome do Locke. Entre os nomes riscados, encontramos uma série de apelidos desconhecidos e apelidos conhecidos de personagens já mortos, tais como (Charlie) Pace, (Daniel) Faraday, (Charlotte) Lewis e (Horace / Ethan) Goodspeed, entre outros. à primeira vista, parece evidente que todos os nomes riscados são de candidatos mortos mas, entre eles, podemos encontrar o nome (Miles) Straume. Mais curioso ainda, o nome (Claire) Littleton está também riscado. Deixou de ser uma candidata porque está infectada? Se assim for, o nome Jarrah será o próximo a ser riscado? O mais curioso da lista é a ausência da Kate, que vimos ser tocada por Jacob na sua infância. Será ela um caso especial?
As restantes opções dadas ao candidato são a de aceitar o cargo e proteger a Ilha, ou simplesmente abandoná-la. Smoke acusa Jacob de explorar um momento de fraqueza na vida das pessoas para as aprisionar ao destino, mas também ele se aproveita do maior momento de fraqueza do James para o manipular. Quando lhe diz que têm de sair da Ilha juntos, refere-se aos dois, ou a todos os candidatos? Neste momento, ficamos com duas perspectivas gerais possíveis para o Black Smoke. Ou ele é o derradeiro "man of science", que encontra uma explicação científica para tudo o que acontece na Ilha e por isso não acha que esta seja mais do que uma ilha vulgar, ou então aquilo que o Jacob protege é tão precioso para o Smoke, que este o deseja a todo o custo, nem que isso implique eliminar todos os possíveis candidatos.
Muito boa análise! Tu tens olho para estas coisas. Adorei!
ResponderEliminarEste episódio está mesmo espectacular! Quando ao miúdo loiro... não me parece Aaron pois só passaram 3 ou 4 anos desde que chegaram à ilha e isso seria um crescimento um bocado rápido de mais. Parece-me é que tem algum tipo de relação com Jacob, não sei é qual.
ResponderEliminarDepois... quanto aos números e aos "candidatos", só os nomes com número é que são candidatos? Então porque é que os outros todos foram para a ilha também? Quando ele fala em sairem da ilha, penso que se refere a ele (Smokey) e a James.
Isto dava pano para mangas, mas são só as minhas opiniões.
O pormenores da Jacob's Ladder é altamente! :)
ResponderEliminarTambém penso que o mais provável é o miúdo ser relacionado com o Jacob, mas cada vez mais me parece que há uma força superior à do Jacob e Smokey... estou ansioso por saber afinal quem é o miúdo...
ResponderEliminarQuanto aos candidatos, não sei se todos têm esse destino. A Kate foi tocada pelo Jacob na sua infância, mas não se viu o nome dela na parede. O Ben foi tocado pelo Jacob depois de o esfaquear, mas também não vimos lá o nome dele. Também não sabemos quem escolhe os candidatos. O Smokey diz que foi o Jacob, mas tenho a impressão que aqueles nomes vieram de algum lado, como se fossem escolhidos pela Ilha...
Excelente review ao episódio.
ResponderEliminarÉ adorável a combinação que faz com as imagens, que parecem muitas mas que fazem bastante jeito.
Obrigado! Gosto de intercalar as imagens, penso que facilita a leitura do texto :)
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