segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Nas Nuvens, por Carlos Antunes

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Título original:
Up in the Air
Realização: Jason Reitman
Argumento:
Jason Reitman e Sheldon Turner
Elenco: George Clooney, Vera Farmiga e Anna Kendrick

Num mundo onde tantas relações a nível mundial se mantêm apenas através de um interface virtual, a história de um homem que opta por não manter relações senão as que se materializam como formatada hospitalidade quando ele se posiciona perante balcões de aeroporto não poderia nunca parecer uma censura.
Soa antes a uma apologia da escolha de tais relações por oposição à cobardia de as impôr a todos, como Ryan Bingham faz no seu trabalho - despedindo pessoas de uma forma tão falsamente pessoal como quando o acolhem no aeroporto - e como, liminarmente, a sociedade vem fazendo ao indivíduo, sobretudo em tempos como os actuais.

http://photogallery.filmofilia.com/data/media/100/up_in_the_air_movie_photo_08.jpg

A falta de investimento deste homem nas relações, a sua opção pela solidão são parte de uma filosofia que ele vende como ninguém.
Ele é um comunicador, por antagónico que tal possa parecer, dando a perfeitos estranhos uma compreensão das próprias vidas quando reflectidas na dele.
Ele gosta da sua vida tal como é e sente que a sociedade ainda não consegue apreciar o libertário valor do desapego.
Ainda que ele próprio vá ver o porquê de tantos ainda se apegarem ao que ele deixou para trás - as relações humanas não controladas - quando encontra a sua versão feminina.
No entanto ele não vai parar em lugar nenhum, mas antes vai continuar em trânsito para todos os sítios.
Ele não está preparado para revolucionar a sua vida. Ele é aquilo que escolheu ser, vai continuar a viver satisfeito com a sua vida itinerante, mas terá mais consciência das alternativas e dos riscos que se lhe apresentam.
Porque ele é perfeitamente honesto com a sua atitude perante a vida, enquanto à sua volta outros vivem fingindo que têm a capacidade dele, esondendo a sua verdadeira bagagem.
Afinal os riscos são sempre os mesmos quer as relações sejam reais ou idealizadas, nunca terá a certeza de quem verdadeiramente é o outro, enquanto a relação controlada com as empregadas que lêem o nome dele num computador é um espaço de maior segurança.

http://geekonfilm.files.wordpress.com/2009/10/up-in-the-air.jpg

Por momentos ele perdeu-se no caminho, deixou-se iludir por algo distinto e novo, algo que parecia mais do que poderia ser. Mas apenas por momentos.
Afinal, não estamos perante uma comédia trágica como a vida, com pretensões a demonstrar a inevitável necessidade que uma personagem tem de tomar decisões que alterem por completo a sua vida.
Aqui a personagem central dá apenas um pequeno passo em direcção a uma outra forma de enfrentar a vida, estabelece de facto, uma relação sem se render às exigências que estas acarretam.
O seu passo para se aproximar da irmã é apenas um telefonema... para a linha da companhia aérea.

http://collegejournalist.files.wordpress.com/2010/01/up_in_the_air_movie_photo_09.jpg

O que Jason Reitman faz em torno desta personagem é filmar com uma certa eficácia seca, como se com a imagem nos estivesse a sugerir as sensações que se vivem no interior da película.
É de uma extraordinária inteligência este gesto de um realizador que tendo um argumento sem espaço para exuberância, trabalha a imagem como uma extensão da essência narrativa e ideológica do argumento.
Sendo que sem as interpretações "no ponto" de Clooney e Farmiga, talvez isso servisse de muito pouco. Mas aqui eles captaram a essência dos perosnagens e são-nos verdadeiramente em vez de parecerem sê-los.
O olhar de inexpressiva aceitação das ciscunstâncias de Clooney é toda uma lição em interpretação muda.
A concretização que todos estes elementos juntos conseguem é a de um retrato social consciente da sua actualidade, do seu risco de adensar a realidade à medida que ela acontece.
Up in the Air marca pontos por chegar aos temas e não os suavizar com um final feliz que seria a palmadinha nas costas que tudo consola a quem veio ver o filme. Esta comédia não se rende.



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2 comentários:

  1. Já tinha bastante interesse neste filme, mas acho que esta crítica serviu para me convencer a ir vê-lo :)

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  2. Concordo com a crítica, muito bem escrita, aliás. Embora de certa forma sobrevalorizado, se avaliado perante todo o hype, mas uma obra inteligentíssima.

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