Realização: Lee Daniels
Argumento: Geoffrey Fletcher e Sapphire
Elenco: Gabourey Sidibe, Mo'Nique, Paula Patton, Mariah Carey e Lenny Kravitz
Há filmes que têm esta virtude: não têm medo de socar o espectador, dar-lhe murros no estômago e deixá-lo ali, sem ajuda. Precious é um desses filmes, foca-se no hiper-realismo, na verdade, em mostrar o mundo tal como ele o é, não ter medo de falar do tabu. E por nessa forma ser um filme tão singular, genuinamente independente, permitiu-lhe viver um grande hype desde o início de 2009.
Na verdade Precious, apesar de todo o mérito (perfeitamente justificado) não é uma obra-prima, embora também não se esperasse tal de um realizador tão inexperiente quanto Lee Daniels. O filme é um melodrama poderoso, longe dos clichés do género que poderiam ter arrasado o filme, com um argumento forte que faz desfilar todas as disfunções sociais que o espectador poderia esperar e mais algumas que nunca esperaria. Obesidade mórbida, racismo, abuso sexual, violência verbal e física, incesto, gravidez adolescente, deficiência. Mas há mais, muito mais. Lee Daniels não se cansa de nos atirar à cara os problemas de um local pequeno como o Harlem, mas que sabemos que são extensíveis a toda a sociedade, independentemente da faixa social. Não há tréguas para o espectador que não consegue, com certeza, evitar a sensação de enjoo que sofre ao longo de todo o filme. Os murros no estômago tornam-se cada vez mais fortes, são secos, profundos.
Lee Daniels merece respeito por isso. Mesmo dentro deste desfilar de desgraças, não encontramos em Precious um objecto panfletário. O realismo existe, mesmo que a verdade seja real e crua. Contudo, a dada altura, temos cenas de puro mau gosto que, mesmo justificadas, tornam difícil a sua visualização. O mesmo acontece com o estilo pop de realização que, quebrando todas as estéticas e normativas do Cinema, permite-se explorar os devaneios de Precious que destoam do resto do filme. Mais que nos sentirmos próximos da personagem, sentimo-nos deslocados nas alturas em que o realismo evoca um estilo fantástico que não combina nada com o restante.
Não é um realizador perfeito, mas dirige de uma maneira notável um elenco de amadores, que acabam por se revelar actores fantásticos - com performances dignas de um Óscar. Daí destacamos Gabourey Sidibe - descoberta no Harlem - que consegue não se vitimizar dentro dos problemas (e não são poucos) vividos pela sua personagem. É genuína. É real. A sua nomeação para o Óscar de Melhor Actriz é perfeitamente justificável. Mas quem surpreende é Mo'Nique - a sua interpretação é perturbadora, revoltante e angustiante. A energia dispensada na personagem é tão grande que chega a incomodar o espectador: a agressividade, a linguagem, a expressão corporal deixa-nos sem palavras e com constantes nós na garganta. Dentro desta revolta imensa, não deixa de ser surpreendente que, perto do final do filme, consiga dar lugar a uma outra faceta da mesma personagem que consegue emocionar verdadeiramente o espectador. Será a verdadeira vencedora do Óscar para Melhor Actriz Secundária.
Num plano mais secundário, destaque para Paula Patton - num papel simples, mas motivador -, Mariah Carey - irreconhecível, mas talentosa como poucas vezes se viu, e até Lenny Kravitz - surpreendentemente diferente, mas que consegue transmitir simpatia.
Precious não é perfeito (a estética da realização é o que mais incomoda), mas é um objecto único e singular, num universo cinematográfico cada vez mais igual entre si. É um trabalho respeitável, mesmo que incomodativo, que dá espaço à reflexão. Mas primeiro e antes que enquanto espectadores possamos reflectir no que vimos, precisamos recuperar do choque e dos constantes murros no estômago.
Na verdade Precious, apesar de todo o mérito (perfeitamente justificado) não é uma obra-prima, embora também não se esperasse tal de um realizador tão inexperiente quanto Lee Daniels. O filme é um melodrama poderoso, longe dos clichés do género que poderiam ter arrasado o filme, com um argumento forte que faz desfilar todas as disfunções sociais que o espectador poderia esperar e mais algumas que nunca esperaria. Obesidade mórbida, racismo, abuso sexual, violência verbal e física, incesto, gravidez adolescente, deficiência. Mas há mais, muito mais. Lee Daniels não se cansa de nos atirar à cara os problemas de um local pequeno como o Harlem, mas que sabemos que são extensíveis a toda a sociedade, independentemente da faixa social. Não há tréguas para o espectador que não consegue, com certeza, evitar a sensação de enjoo que sofre ao longo de todo o filme. Os murros no estômago tornam-se cada vez mais fortes, são secos, profundos.
Lee Daniels merece respeito por isso. Mesmo dentro deste desfilar de desgraças, não encontramos em Precious um objecto panfletário. O realismo existe, mesmo que a verdade seja real e crua. Contudo, a dada altura, temos cenas de puro mau gosto que, mesmo justificadas, tornam difícil a sua visualização. O mesmo acontece com o estilo pop de realização que, quebrando todas as estéticas e normativas do Cinema, permite-se explorar os devaneios de Precious que destoam do resto do filme. Mais que nos sentirmos próximos da personagem, sentimo-nos deslocados nas alturas em que o realismo evoca um estilo fantástico que não combina nada com o restante.
Não é um realizador perfeito, mas dirige de uma maneira notável um elenco de amadores, que acabam por se revelar actores fantásticos - com performances dignas de um Óscar. Daí destacamos Gabourey Sidibe - descoberta no Harlem - que consegue não se vitimizar dentro dos problemas (e não são poucos) vividos pela sua personagem. É genuína. É real. A sua nomeação para o Óscar de Melhor Actriz é perfeitamente justificável. Mas quem surpreende é Mo'Nique - a sua interpretação é perturbadora, revoltante e angustiante. A energia dispensada na personagem é tão grande que chega a incomodar o espectador: a agressividade, a linguagem, a expressão corporal deixa-nos sem palavras e com constantes nós na garganta. Dentro desta revolta imensa, não deixa de ser surpreendente que, perto do final do filme, consiga dar lugar a uma outra faceta da mesma personagem que consegue emocionar verdadeiramente o espectador. Será a verdadeira vencedora do Óscar para Melhor Actriz Secundária.
Num plano mais secundário, destaque para Paula Patton - num papel simples, mas motivador -, Mariah Carey - irreconhecível, mas talentosa como poucas vezes se viu, e até Lenny Kravitz - surpreendentemente diferente, mas que consegue transmitir simpatia.
Precious não é perfeito (a estética da realização é o que mais incomoda), mas é um objecto único e singular, num universo cinematográfico cada vez mais igual entre si. É um trabalho respeitável, mesmo que incomodativo, que dá espaço à reflexão. Mas primeiro e antes que enquanto espectadores possamos reflectir no que vimos, precisamos recuperar do choque e dos constantes murros no estômago.
Classificação:
Vou vê-lo muito em breve. Espero gostar um pouquinho mais :P
ResponderEliminarAbraço!
Já sabes como eu sou, às vezes, com as notas. :p Mas acredito que vás gostar, é um melodrama poderosíssimo.
ResponderEliminarApenas razoável, a meu ver... 2*
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