sábado, 6 de fevereiro de 2010

Tudo Pode Dar Certo, por Tiago Ramos



Título original: Whatever Works (2009)
Realização: Woody Allen
Argumento: Woody Allen
Elenco: Larry David, Patricia Clarkson e Evan Rachel Wood

Há muito na personagem de Boris Yellnikoff, de Whatever Works, com que nos podemos identificar. Isto porque verdadeiros happy-go-lucky raramente existem e todos temos um velho rezingão dentro de nós, de mal com o mundo, com a vida, críticos da sociedade, árbitros de bancada, deputados de trazer por casa. Isto somos nós. Na verdade, neste Boris encontramos interessantes referências e curiosas semelhanças: uma espécie de alter-ego de Woody Allen ou um alter-ego do alter-ego de Woody Allen enquanto actor. Conseguimos ainda encontrar um Walt Kowalski de Gran Torino (estamos sempre à espera de ver o Boris a rosnar) ou um Carl Fredricksen de Up (e quando é que vemos balões atados à casa de Boris?).


Tudo Pode Dar Certo encerra em si um genial argumento - um dos melhores dos últimos anos e o melhor de Woody Allen desde o poderoso Match Point. É de facto, um excelente regresso do cineasta a Nova Iorque, ao mundo das neuroses e da crítica social abrilhantado pelo grande Larry David. Da série Curb Your Enthusiasm facilmente tiramos a ilação que Larry David é bom a fazer dele próprio, mas em Tudo Pode Dar Certo torna-se uma síntese dele próprio e Woody Allen, fazendo da sua personagem uma das melhores dos últimos anos. O argumento não é de agora. Guardado durante anos na gaveta, assim facilmente se explica a existência de um misto de comédia screwball clássica e das piadas vintage que fazem deste filme um revivalismo daquilo que o cineasta foi.

Tudo Pode Dar Certo é uma aproximação aos clássicos que lhe deram nome. Não vai fazer as pessoas que não o conhecem apaixonarem-se por ele, mas consegue fazer os antigos fãs deliciarem-se com o aguardado regresso. É clássico, divertido, ácido e sarcasticamente divertido. Principalmente por causa de Larry David, mas o desempenho de Evan Rachel Wood não deixa de ser a confirmação do consolidar de uma carreira brilhante que a jovem actriz terá pela frente. O seu sotaque sulista e a sua atitude hilariantemente naïve garantem dos melhores momentos do filme. É o par absolutamente improvável e que resulta numa fantástica história de encontros e desencontros, à moda de Woody Allen, que traz a velhinha moral que nada é impossível. O desempenho de Patricia Clarkson é também bastante bom e uma agradável surpresa.



A realização é competente, como sempre, sendo o seu ângulo de câmara capaz de trazer uma sensação bastante realista e genuína. Harris Savides (Milk) traz-nos um trabalho fotográfico muito bom, cheio de jogos de luz e sombra, mas trazendo um agradável colorido para a tela.

Whatever Works é agradavelmente surpreendente. Woody Allen acertou e trouxe uma das melhores surpresas do ano. Tudo deu certo.

Classificação:



Sem comentários:

Enviar um comentário