Realização: Wong Kar-Wai
Argumento: Wong Kar-Wai e Louis Cha
Elenco: Brigitte Lin, Leslie Cheung, Maggie Cheung, Tony Leung Chiu Wai, Jacky Cheung e Tony Leung Ka Fai
Dependendo da forma como efectivamente o olhamos, As Cinzas do Tempo pode ser encarado como um projecto atípico na temática de Wong Kar-Wai. Um épico wuxia de artes marciais, pode não ser o esperado do cineasta, mas na verdade ele transcende esse conceito e aplica a sua marca de autor no plano estético.
Na verdade e não obstante os maus resultados alcançados na bilheteira mundial (compensados pelo sucesso de Chungking Express), o cineasta reveste aquele que poderia ser mais um filme de artes marciais num manto de poesia e romance, como só Wong Kar-Wai sabe recriar. O que temos em Ashes of Time é uma história poderosa sobre as artes marciais, o tempo e a memória centrada na temática do guerreiro, que tal como na temática wuxia, supera as suas habilidades de forma quase transcendental. Contudo o que acabou por afastar o público desta obra, foi precisamente por não respeitar o tradicionalismo do género.
Wong Kar-Wai mais que utilizar as cenas de acção como objecto de entretenimento, utiliza-as para exteriorizar os sentimentos das personagens. O resultado? Esteticamente belo, é verdade. Mas dificulta o espectador a compreender a narrativa, porque o recurso a uma câmara que se arrasta velozmente tem como consequência a não percepção das personagens e o que está efectivamente a acontecer. O que o cineasta pretende é a revelação das forças mais profundas e arrasadoras das personagens. É um belo bailado que se nos apresenta, mas torna a obra ainda mais densa e complexa.
Esteticamente, utiliza os seus habituais recursos estilísticos. As luzes, os filtros cromáticos de tons fortes, os enquadramentos atípicos que “empurram” muitas as vezes as personagens para fora do ecrã, mudanças de velocidade repentinas. Esse trabalho é idilicamente construído através da lente de Christopher Doyle, habitual colaborador de Wong Kar-Wai. Nas mãos da imaginação e criatividade do cineasta chinês, o fotógrafo encanta com o seu olhar, tornando-o num dos mais encantadores artistas contemporâneos. O seu trabalho neste As Cinzas do Tempo é dos mais belos de sempre. Aqui temos também uma relação muito próxima entre a realidade e o tempo, onde é feito o uso de de elementos estéticos para tal fim, como também o uso de diferentes espaços diegéticos, auxiliado pelo trabalho de montagem de Kit-Wai Kai, com recurso a flashbacks e descontinuidades. As sensações e memórias são muitas vezes recortadas com esses recursos.
O elenco é de luxo, como já habitual. Grandes artistas do cinema chinês que permitiram que o filme recebesse um orçamento milionário, mas que relegou algumas delas para um nível secundário como o caso de Maggie e Leslie Cheung.
Ashes of Time é competente e belo, até na forma como aborda a forma como fazemos as nossas escolhas e o que isso implica. O que deixamos de fazer, o que fazemos. São estradas bifurcadas, com vários resultados possíveis, onde qualquer decisão afecta o nosso futuro. Tudo muda. O tempo, o ambiente, as pessoas. Mas a consequência das nossas acções permanecem. Uma temática excelente, mas que se perde demasiado nos devaneios artísticos de Wong Kar-Wai e por isso resulta num estranho caso de atracção-repulsa.
Cada um de nós saberá e sentirá As Cinzas do Tempo de uma forma diferente, mais ou menos intensa. Cabe a cada um de nós a sua visualização e apreciação.
Na verdade e não obstante os maus resultados alcançados na bilheteira mundial (compensados pelo sucesso de Chungking Express), o cineasta reveste aquele que poderia ser mais um filme de artes marciais num manto de poesia e romance, como só Wong Kar-Wai sabe recriar. O que temos em Ashes of Time é uma história poderosa sobre as artes marciais, o tempo e a memória centrada na temática do guerreiro, que tal como na temática wuxia, supera as suas habilidades de forma quase transcendental. Contudo o que acabou por afastar o público desta obra, foi precisamente por não respeitar o tradicionalismo do género.
Wong Kar-Wai mais que utilizar as cenas de acção como objecto de entretenimento, utiliza-as para exteriorizar os sentimentos das personagens. O resultado? Esteticamente belo, é verdade. Mas dificulta o espectador a compreender a narrativa, porque o recurso a uma câmara que se arrasta velozmente tem como consequência a não percepção das personagens e o que está efectivamente a acontecer. O que o cineasta pretende é a revelação das forças mais profundas e arrasadoras das personagens. É um belo bailado que se nos apresenta, mas torna a obra ainda mais densa e complexa.
Esteticamente, utiliza os seus habituais recursos estilísticos. As luzes, os filtros cromáticos de tons fortes, os enquadramentos atípicos que “empurram” muitas as vezes as personagens para fora do ecrã, mudanças de velocidade repentinas. Esse trabalho é idilicamente construído através da lente de Christopher Doyle, habitual colaborador de Wong Kar-Wai. Nas mãos da imaginação e criatividade do cineasta chinês, o fotógrafo encanta com o seu olhar, tornando-o num dos mais encantadores artistas contemporâneos. O seu trabalho neste As Cinzas do Tempo é dos mais belos de sempre. Aqui temos também uma relação muito próxima entre a realidade e o tempo, onde é feito o uso de de elementos estéticos para tal fim, como também o uso de diferentes espaços diegéticos, auxiliado pelo trabalho de montagem de Kit-Wai Kai, com recurso a flashbacks e descontinuidades. As sensações e memórias são muitas vezes recortadas com esses recursos.
O elenco é de luxo, como já habitual. Grandes artistas do cinema chinês que permitiram que o filme recebesse um orçamento milionário, mas que relegou algumas delas para um nível secundário como o caso de Maggie e Leslie Cheung.
Ashes of Time é competente e belo, até na forma como aborda a forma como fazemos as nossas escolhas e o que isso implica. O que deixamos de fazer, o que fazemos. São estradas bifurcadas, com vários resultados possíveis, onde qualquer decisão afecta o nosso futuro. Tudo muda. O tempo, o ambiente, as pessoas. Mas a consequência das nossas acções permanecem. Uma temática excelente, mas que se perde demasiado nos devaneios artísticos de Wong Kar-Wai e por isso resulta num estranho caso de atracção-repulsa.
Cada um de nós saberá e sentirá As Cinzas do Tempo de uma forma diferente, mais ou menos intensa. Cabe a cada um de nós a sua visualização e apreciação.
Classificação:
Gostei da crítica! Tudo muito claro e muito bem encadeadinho... parabéns.
ResponderEliminarO filme é de facto tão extremamente denso quão extremamente belo.
5/5
Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Obrigado. Para mim foi dos filmes mais difíceis de gerir que já vi. Não é dos meus preferidos, confesso, mas reconheço-lhe a sua qualidade.
ResponderEliminarCompreendo perfeitamente. Se bem te lembras, vi-me dificultado a chegar-lhe ao cerne. É complexo como as coisas complexas ;)
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Fogo... só pelas fotografias dá logo vontade de ver. Mas compreendo-te, essa sensação atracção-repulsa. Gostei do texto, muito bem.
ResponderEliminarAbraço
Hum, parece-me ser um filme que vá gostar. A ver se o arranjo para ver um dia destes. Será uma maneira poitiva de começar a conhecer Wong Kar Wai. Certo? :)
ResponderEliminarFazes bem, mas eu pessoalmente para começares em grande com Wong Kar-Wai recomendava-te o In the Mood for Love (http://splitscreen-blog.blogspot.com/2010/03/disponivel-para-amar-por-tiago-ramos.html) ou o Chungking Express (http://splitscreen-blog.blogspot.com/2010/04/chungking-express-por-tiago-ramos.html).
ResponderEliminarWong Kar Wai mostra um filme diferente na sua filmografia, no entanto, até o acho bastante bom. A forma da constante mudança, de que o futuro é algo em constante movimentos e que uma simples jarra o pode alterar mas as consequências podem ser desastrosas...
ResponderEliminarAbraço
Cinema as my World
Eu consigo olhar para ele e ver uma obra de arte fenomenal, mas depois tem que ver com a forma como me toca. Neste caso é o que explica a nota. Mas não recomendo Ashes of Time como o primeiro filme a conhecer de Wong Kar-Wai.
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