domingo, 4 de abril de 2010

Parnassus: O Homem que Queria Enganar o Diabo, por Carlos Antunes


Título original: The Imaginarium of Doctor Parnassus
Realização: Terry Gilliam
Argumento: Terry Gilliam e Charles McKeown
Elenco: Johnny Depp, Jude Law, Heath Ledger, Colin Farrell, Christopher Plummer e Lily Cole

Num filme nomeado como "Imaginário", as expectativas que este não consegue preencher são a sua maior falta.
Por mais que alguns momentos exuberantes sejam dignos das mais apaixonadas exultações, o retrato geral permanece muito esbatido.


Não é uma impressão imediata, pois primeiro temos direito a encontrar um pedaço de brilhantismo ao ver um delicioso e anacrónico teatro ambulante rasgando uma Londres apodrecida com uma réstea de cor e delírio.
Todo ele feito de roldanas e cartão, de antigas formas de contar histórias e de uma magia nascida para os sentidos de um tempo em que as pessoas eram mais inocentes e menos cínicas.
Este teatro ambulante é um portal para a constatação da mente de cada um que o atravessa, potenciada pela extravagância do Dr. Parnassus.
É quando se atravessa esse portal que nasce a sensação de desgosto.


Ainda que seja evidente que os efeitos gerados são propositadamente falsos, com uma plasticidade extravagante e sem concessões, não deixam de se assemelhar a pouco mais do que um exercício de preguiça mental.
Se estamos a cada viagem perante um mundo nascido de uma exponencialização de uma imaginação por outra que há séculos se conta como a maior delas todas, como poderemos crer que o resultado apenas consegue ser aquele?
São mundos cheios de cores e impossibilidades, cheios de retorcidos olhares sobre a realidade, mas nada disso parece capaz de constituir um mundo pleno ou novo. O descabido não passa por sonho com essa facilidade.
Parece que os sujeitos que o percorrem - uma senhora viciada em compras, quatro mafiosos russos, uma rapariga obcecada com um modelo de revista e um sujeito de índole duvidosa - poderão não ser propriamente os mais intrigantes ou capazes para dar oportunidade ao Dr. Parnassus - que neste contexto bem se poderia dizer ser uma representação ficcional de Terry Gilliam - de extravasar todo um mundo a partir das suas mentes.


Num filme como este, o que interessa é atravessar os mundos inventados, pelo que a história é um pouco como um fluxo que corra na mais simples linha recta que permita seguir de percalço em percalço aventuroso.
Mas se esses percalços não têm um fascínio extraordinário, não faz sentido fazer concessões críticas a uma história bastante simples sobre a vitória da imaginação, da inocência e da crença sobre a geral decadência e desinteresse moderno.
Saltando um pouco caoticamente entre fios narrativos ou mudando o ângulo pelo qual conta a história sem critério mas como solução rápida para um imbróglio, assim vai a história.


Ajuda, apesar do que disse antes, a olhar com satisfação para este filme que ele tenha um elenco que é um pequeno luxo trabalhando com dedicação à memória de um actor.
Têm direito a personagens interessantes que permitem, igualmente, um certo conforto, uma certa diversão num filme onde elas são o mais relevante de tudo.
Sem prejuízo para os restantes, acima de tudo é ver Tom Waits a interpretar um Diabo que podia bem ser um dono de um velho cabaret o que de mais divertido temos direito.


The Imaginarium of Doctor Parnassus é assim, um agregado de pequenos grandes momentos, aqueles que se mantêm quando acabamos por fazer a nossa própria edição do filme na memória.
Uma recordação dos Monty Python, um fascinante teatro de marionetas, uma persistente troca de "mimos" entre Parnassus e um anão e um Tom Waits a silenciar monges um por um.
Ficam connosco originando pequenos sorrisos de prazeres que retornam, mas não colam o filme inteiro.




2 comentários:

  1. Eu tenho a ligeira ideia de teres dito que ias dar 3,5* :P Ou digeriste o filme e achaste que não era assim tanto?

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  2. Não posso concordar! O mundo de Gilliam é espantoso e os efeitos especiais não são assim tão maus promovendo um mundo de sonhos e sonhadores!

    Abraço
    Cinema as my World

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