Realização: Chan-wook Park
Argumento: Chan-wook Park e Seo-Gyeong Jeong
Chan Wook-Park é um dos mais criativos e originais cineastas asiáticos. Depois de ter atingido a fama com a Trilogia da Vingança, especialmente devido ao filme Oldboy (2003), o realizador sul-coreano revelou-se virtuoso no manuseamento da câmara e mesmo na escrita dos argumentos. O seu estilo por trás das câmaras é único e sempre garante momentos visuais geniais.
Este Thirst não fica aquém dos trabalhos anteriores do cineasta, em termos visuais. Um estilo dinâmico e fluido, uma fotografia clínica, com um misto de cores fortemente saturadas e algumas mais esbatidas, com cenas belíssimas, meticulosamente fotografadas por Chung-hoon Chung (Oldboy). Tudo milimetricamente pensado, cada pormenor, cada plano, cada cena. Encantador na sua simplicidade, incluindo em todos os efeitos visuais. O estilo de Chan Wook-Park é muito próprio e nunca se abstém de utilizar a sua visão. O resultado é uma mistura entre realidade e surrealismo, com cenas fortemente sensoriais e de grande carga psicológica. Uma provocação sensorial que só faz sentido se olharmos para ele como um exercício estilístico de grande liberdade poética e conceptual. Mesmo todas as cenas agressivas e potencialmente chocantes são revestidas de lirismo, o que acaba por provocar sentimentos ambíguos: o espectador facilmente sente-se atraído por algo habitualmente repulsivo.
Thirst - Este é o Meu Sangue... acaba por ser uma revisitação contemporânea do mito do vampiro, longe de tudo o que tem sido actualmente feito e mesmo largamente distante das suas origens. O argumento da autoria do próprio Chan Wook-Park e de Seo-Gyeong Jeong (Lady Vengeance) é bastante original e interessante. Socialmente crítico encontramos um padre e toda a sua transformação física, mas também a nível de personalidade. Uma passagem gradual de asceta à sua queda na tentação da carne... e sangue. Literalmente falando. E nesse sentido é socialmente arrojado, não deixando nunca de lado a sua visão e sentido crítico. É uma história complexa e bastante longa, recheada de pormenores. Desde a reflexão da capacidade humana em ser racional e ter fé ser potencialmente igual à capacidade de sermos viscerais e instintivos, ao embate de homem de fé e animal. Ou ainda o complexo relacionamento entre os protagonistas e de como formações diferentes levam ao desenvolvimento de indivíduos com um carácter completamente diferente entre si, o que se reflecte na forma como cada um vê o seu papel de vampiro.
Nesse sentido, o trabalho dos actores é excelente. Kang-ho Song é o grande actor que já nos habituou, no papel de um padre cheio de motivações humanitárias, mas visto em braços com um problema que lhe dificulta essa mesma intenção. Mas a sua personagem é complementada/confrontada com a de Ok-bin Kim, uma jovem actriz coreana bastante promissora e cuja personagem consegue envolver o espectador e explora bastante bem a forma como permite ao padre vampiro toda a exploração dos seus desejos mais negros e os confrontos entre as recordações passadas e a nova vida.
No seu geral, Thirst - Este é o Meu Sangue é a síntese do amor ultra-violento e do graficamente explícito. Muito difícil de definir, oscila no terror visual e uma comédia burlesca e caricatural - veja-se a perturbadora cena de uma relação sexual onde se intromete o marido de Tae-ju - rodeada de um intenso realismo, mas de uma bizarria enorme, onde o surrealismo é a palavra de ordem. E neste campo, se por si só, já é difícil para o espectador encaixar esta mistura de géneros - raras vezes são dados a híbridos - temos um Chan-wook Park que continua a dar preferência ao visual em detrimento da narrativa. Isto faz com que tenhamos um argumento longo demais, que poderia francamente ter meia hora a menos. A dada altura, a história arrasta-se, perde ritmo, entedia o espectador - mesmo em mãos com algumas cenas geniais - para depois retomar no seu final espectacular e épico.
Thirst é audacioso, arrojado e complexo de digerir. Cenas visualmente fortes, sangrentas e chocantes. Perturbadoras para público mais sensível, não recomendado para púdicos, mas simultaneamente arrebatadoras. Sangue, sexo e violência. Um quadro dificílimo de compor, mas sensual e erótico. A dada altura achamos que o cineasta se perdeu demasiado em devaneios e se dedicou apenas a mais um exercício de estilo, um prolixo. E isso tem como consequência um gosto amargo no espectador. Queríamos gostar ainda mais, mas há uma sensação de vazio. Mas não nos podemos deixar de sentir arrebatados por esta brilhante e genial história, pela composição original e pelo intenso romance de um par em fuga, mas que se sabe, desde já condenado. É um filme que divide, mas que se impõe.
Este Thirst não fica aquém dos trabalhos anteriores do cineasta, em termos visuais. Um estilo dinâmico e fluido, uma fotografia clínica, com um misto de cores fortemente saturadas e algumas mais esbatidas, com cenas belíssimas, meticulosamente fotografadas por Chung-hoon Chung (Oldboy). Tudo milimetricamente pensado, cada pormenor, cada plano, cada cena. Encantador na sua simplicidade, incluindo em todos os efeitos visuais. O estilo de Chan Wook-Park é muito próprio e nunca se abstém de utilizar a sua visão. O resultado é uma mistura entre realidade e surrealismo, com cenas fortemente sensoriais e de grande carga psicológica. Uma provocação sensorial que só faz sentido se olharmos para ele como um exercício estilístico de grande liberdade poética e conceptual. Mesmo todas as cenas agressivas e potencialmente chocantes são revestidas de lirismo, o que acaba por provocar sentimentos ambíguos: o espectador facilmente sente-se atraído por algo habitualmente repulsivo.
Thirst - Este é o Meu Sangue... acaba por ser uma revisitação contemporânea do mito do vampiro, longe de tudo o que tem sido actualmente feito e mesmo largamente distante das suas origens. O argumento da autoria do próprio Chan Wook-Park e de Seo-Gyeong Jeong (Lady Vengeance) é bastante original e interessante. Socialmente crítico encontramos um padre e toda a sua transformação física, mas também a nível de personalidade. Uma passagem gradual de asceta à sua queda na tentação da carne... e sangue. Literalmente falando. E nesse sentido é socialmente arrojado, não deixando nunca de lado a sua visão e sentido crítico. É uma história complexa e bastante longa, recheada de pormenores. Desde a reflexão da capacidade humana em ser racional e ter fé ser potencialmente igual à capacidade de sermos viscerais e instintivos, ao embate de homem de fé e animal. Ou ainda o complexo relacionamento entre os protagonistas e de como formações diferentes levam ao desenvolvimento de indivíduos com um carácter completamente diferente entre si, o que se reflecte na forma como cada um vê o seu papel de vampiro.
Nesse sentido, o trabalho dos actores é excelente. Kang-ho Song é o grande actor que já nos habituou, no papel de um padre cheio de motivações humanitárias, mas visto em braços com um problema que lhe dificulta essa mesma intenção. Mas a sua personagem é complementada/confrontada com a de Ok-bin Kim, uma jovem actriz coreana bastante promissora e cuja personagem consegue envolver o espectador e explora bastante bem a forma como permite ao padre vampiro toda a exploração dos seus desejos mais negros e os confrontos entre as recordações passadas e a nova vida.
No seu geral, Thirst - Este é o Meu Sangue é a síntese do amor ultra-violento e do graficamente explícito. Muito difícil de definir, oscila no terror visual e uma comédia burlesca e caricatural - veja-se a perturbadora cena de uma relação sexual onde se intromete o marido de Tae-ju - rodeada de um intenso realismo, mas de uma bizarria enorme, onde o surrealismo é a palavra de ordem. E neste campo, se por si só, já é difícil para o espectador encaixar esta mistura de géneros - raras vezes são dados a híbridos - temos um Chan-wook Park que continua a dar preferência ao visual em detrimento da narrativa. Isto faz com que tenhamos um argumento longo demais, que poderia francamente ter meia hora a menos. A dada altura, a história arrasta-se, perde ritmo, entedia o espectador - mesmo em mãos com algumas cenas geniais - para depois retomar no seu final espectacular e épico.
Thirst é audacioso, arrojado e complexo de digerir. Cenas visualmente fortes, sangrentas e chocantes. Perturbadoras para público mais sensível, não recomendado para púdicos, mas simultaneamente arrebatadoras. Sangue, sexo e violência. Um quadro dificílimo de compor, mas sensual e erótico. A dada altura achamos que o cineasta se perdeu demasiado em devaneios e se dedicou apenas a mais um exercício de estilo, um prolixo. E isso tem como consequência um gosto amargo no espectador. Queríamos gostar ainda mais, mas há uma sensação de vazio. Mas não nos podemos deixar de sentir arrebatados por esta brilhante e genial história, pela composição original e pelo intenso romance de um par em fuga, mas que se sabe, desde já condenado. É um filme que divide, mas que se impõe.
Classificação:
Primeiro que tudo, o filme tem meia hora a mais... Apesar de muito bom, é fisicamente impossível volvidas duas horas uma pessoa estar ali aquele tempo todo sem começar a desejar que o filme acabe.
ResponderEliminarTirando isso (que se resolvia exactamente retirando alguns dos exercícios de estilo), o filme é realmente muito bom (e sádico o suficiente para uma pessoa ter o feeling de filme de vampiros).
Eu conseguia dar-lhe 4* (bem, e na verdade dei, no Fantas)
Eu não consigo dar essa classificação, porque no fim de contas fica-me uma sensação estranha. Embora muito bom, o tom exacerbado de algumas cenas e conceitos, bem como a excessiva duração, fazem-me ficar na dúvida. Recupera lindamente no final e arrebata-me visualmente... além de todo o sadismo ser óptimo. Mas não sei, há qualquer coisa que falha para mim.
ResponderEliminarÉ um filme que, apesar de tudo, quero muito ver.
ResponderEliminarFazes bem, de facto é um realizador genial.
ResponderEliminarNOSSA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ResponderEliminarO que é isso