quarta-feira, 2 de junho de 2010

Amélia, por Carlos Antunes


Título original: Amelia
Realização: Mira Nair
Argumento: Ronald Bass e Anna Hamilton Phelan
Elenco: Hilary Swank, Richard Gere, Ewan McGregor, Christopher Eccleston e Joe Anderson

Seria de estranhar a presença de Mira Nair num projecto como este, mas a verdade é que se trata de um filme dedicado à força de de uma mulher singular, uma mulher disposta a arriscar a sua vida para conquistar um lugar que queriam fazer crer ser apenas dos homens.
A sensibilidade de Mira Nair serve no proveito que retira dos seus dois protagonistas, que reforçam o sentimento geral do filme.
Hilary Swank, naturalmente, dona de um talento que se supera quando tem de representar mulheres obrigadas a serem (tragicamente) forte.
Richard Gere, não mero estereótipo do homem servindo a mulher forte, mas a contraparte que permite a Swank ser eficaz.


A história, muito focada no percurso pessoal de Amelia, tem muitos contornos que são mais fonte de uma vida romanceada do que de uma vida inspiradora.
Não que uma vida deva ser ou ser reduzida à sua componente exemplar, mas convinha não se alongar no acessório, as escolhas sentimentais de uma mulher que conquistou os céus completamente sozinha.


Para se alongar em tais momentos mais próprios à exploração mediática de uma vida era necessário depois demonstrar a sua absoluta inutilidade para descrever uma mulher assim. E isso far-se-ia com uma força dos momentos de aviação.
A aviação não é, no entanto, essencial cinematograficamente. Mira Nair não encontra a forma certa para as fazerem suplantar tudo o resto, com elas arrastando a mulher que vimos descarnada anteriormente.
Podemos considerar sintomático que as cenas mais fortes sejam aquelas em que Amelia atravessa - a pé - os locais pobres mas belos onde aterra.


Amelia foi, sem dúvida, uma mulher capaz de alterar a sua época, mas não o vemos bem assim.
Vemos os enganos e as forças que ela demonstrou quase sempre isoladas num filme que é afinal um romance de sentimentos sem novidade.
Mas se a estranheza de encontrar Mira Nair neste projecto não acontecesse, daria-se o caso deste filme ser o romance sem interesse em que, com mais facilidade do que o desejável, teria caído.
A estranheza de uma escolha pode ser a decisão certa para concretizar um filme - e nada inesperada para quem a toma.




Extras

Cenas cortadas - Um longo e interessante conjunto de cenas cortadas que deixavam antever uma direcção de maior comentário social para o filme e que, infelizmente, não foram escolhidas.
Um útil extra para perceber a sensibilidade da realizadora para tratar a história.
Fica a dúvida se o filme não teria sido, então, melhor.



1 comentário:

  1. Olá Carlos,

    Sou leitor do Split Screen e sou cinéfilo de carteirinha. Eu estou mandando esse email porque estou trabalhando numa empresa que desenvolveu um portal sobre cinema - o Cinema Total (www.cinematotal.com). Um dos atrativos do site é que você cria uma página dentro do site, podendo escrever textos de blog e críticas de filmes. Então, gostaria de sugerir que você também passasse a publicar seus textos no Cinema Total - assim você também atinge o público que acessa o Cinema Total e não conhece o Split Screen.

    Se você gostar do site, também peço que coloque um link para ele no Split Screen, na seção "Cinema".

    Se você quiser, me mande um email quando criar sua conta que eu verifico se está tudo ok.

    Um abraço,

    Marcos
    www.cinematotal.com

    ResponderEliminar