segunda-feira, 7 de junho de 2010

John Rabe - O Negociador, por Tiago Ramos



Título original: John Rabe (2009)
Realização: Florian Gallenberger
Argumento:
Florian Gallenberger
Elenco: Ulrich Tukur, Daniel Brühl, Steve Buscemi e Anne Consigny

Calvo, diabético, nazi. John Rabe é o herói improvável numa biopic, co-produção entre a China e a Alemanha e um dos mais premiados filmes do cinema alemão o ano passado. O oscarizado em 2001 pela curta-metragem Quiero ser, Florian Gallenberger, traz-nos um drama histórico, interessante a nível técnico e num formato apelativo para as massas.



John Rabe, director da fábrica da Siemens na China, nas vésperas de regressar ao seu país, assiste à invasão nipónica à cidade de Nanking e faz história ao ajudar 200 mil chineses, criando uma zona de segurança para civis. Mas o interessante nesta personagem é que, mais que um herói, temos aqui um homem ambíguo, incompreendido e algo perdido no meio de uma ideologia nazi. John Rabe, crê efectivamente no regime de Hitler, como algo sobretudo justo. Ao viver 20 anos na China e abominando os ataques nipónicos, não consegue perceber as barbaridades que o seu próprio regime aplica na Europa. Ingenuamente, escreve ao seu líder, Hitler, a fim de denunciar os ataques opressivos do regime japonês. E daí imediatamente percebemos o que John Rabe é. Um homem ingénuo, movido pelo coração e pela solidariedade.

E nessa ambiguidade, Florian Gallenberger ganha, tanto na realização como no argumento. Pena que muito desse retrato improvável e incomum, numa segunda visão de um lado menos conhecido da guerra, se perca no melodrama e no sentimentalismo pastelão. É graças à performance competente de Ulrich Tukur (O Laço Branco) que o filme não se perde mais nessa filosofia barata de vida. Mas se falamos em ambiguidade, a conversa não está completa sem a referência ao Dr. Robert Wilson, americano e céptico, numa genial criação de Steve Buscemi (Ghost World). A sua personagem somos nós, os espectadores, incrédulos perante um nazi que se torna anti-nazi na sua atitude e acções e daí que nos identifiquemos com sua postura irónica, mas ao mesmo tempo benevolente. Destaque ainda para o desempenho de Daniel Brühl (Inglourious Basterds).



Tecnicamente o filme é bastante competente, especialmente quando nos referimos à direcção artística da dupla chinesa Juhua Tu e Xinran Tu (The Painted Veil) e do alemão Marcus Wellendorf ou ainda do guarda-roupa de Lisy Christl (Caché). Destaque ainda para as fulgurantes cenas de guerra pelo imponente exército japonês.

Contudo, se o filme agrada pelos aspectos mais técnicos, a verdade que o ponto interessante do argumento e da história original de John Rabe é demasiadas vezes ofuscado pela falta de rigor histórico, em favor de uma abordagem mais romântica e sentimentalista. É o caso da história da sua esposa Dora, que à data do evento, não se encontrava sequer na China com ele. Pormenores que minam o esforço de Florian Gallenberger em explorar este retrato menos conhecido.


No fim de contas, é agradável conhecer a história de John Rabe – uma espécie de Aristides de Sousa Mendes alemão – mas pena que a história se perca em pormenores que nada de novo trazem à mesma.
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