terça-feira, 13 de julho de 2010

Meu Filho, Olha o Que Fizeste!, por Carlos Antunes




Título original: My Son, My Son, What Have Ye Done
Realização: Werner Herzog
Argumento:
Werner Herzog e Herbert Golder

My Son, My Son, What Have Ye Done é um filme com uma estranheza verdadeira mas parece que será errado classificá-la à luz da obra do seu produtor David Lynch.
My Son, My Son, What Have Ye Done não é feito da mesma abstracção, até um grande ponto metalinguística, dos filmes mais extravagantes de Lynch.
O que não quer dizer que My Son, My Son, What Have Ye Done não seja um filme a espaços auto-consciente do olhar externo que lhe é lançado.
Há uma teatralidade - ou não houvesse também uma tragédia grega a decorrer filme dentro - que encara o espectador, exigindo que este faça a sua quota-parte no engendrar deste filme.


Mas o filme é um relato - e não uma explicação, firme-se a diferença - de um homem a caminho da transformação e da loucura que o leva a matar a mãe com uma espada da Guerra Civil e a fechar-se em casa e enfrentar a polícia.
A estranheza não vem da forma como a narrativa é montada nem de uma escolha de episódios por vezes quase antagónicos. Isso são consequências da personalidade e das acções da personagem central.
A estranheza nasce da interpretação dessa personagem por Michael Shannon, abstraído da realidade, como se interpretar não fosse senão abdicar de si mesmo.
A sua interpretação não é, no entanto, absoluta - como, em certa medida, era a de Nicolas Cage em Polícia Sem Lei - mas tem o suporte de um conjunto de actores de culto que com muito pouco fazem tanto (inclusivé ou sobretudo pela personagem central)!


E, ainda assim, a My Son, My Son, What Have Ye Done, que tem pequenas histórias interessantíssimas, que tem planos de câmara inteligentes e arrojados e que não se rende à conformidade narrativa, falta-lhe ainda algo.
Falta-lhe uma centelha mais forte, um arrojo súbito que não seja apenas o da estranha fixação por flamingos e galinhas.
Há uma certa indulgência pelo efeito que o filme vai criando em torno de si mesmo que não o permite ser o que mais se esperaria que fosse.
O espectador está no filme sem ser conduzido nem sujeito a expectativas banalizadas pela indústria cinematográfica, mas desta vez também não se galvaniza.



1 comentário:

  1. desperta-me o interesse por ver nele duas actrizes que admiro da série Big Love. E claro, pelo David Lynch também que apadrinhou tudo isto. Um dia o verei concerteza.

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