domingo, 15 de agosto de 2010

Whisky, por Carlos Antunes


Título original: Whisky
Realização: Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll
Argumento: Gonzalo Delgado, Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll
Elenco: Andrés Pazos, Mirella Pascual e Jorge Bolani

Eis três personagens incapazes de comunicar, mesmo dentro do seu próprio universo.
Olhe-se para os dois irmãos, sem se verem há anos, ambos no negócio das meias, e a sua única ideia é oferecerem um par de meias ao outro. Serão, talvez, as suas melhores meias, talvez o significado seja, também o de enaltecer-se perante o outro, mas o silêncio do acto denota muito mais incompreensão de um mundo que não seja o das meias que fazem.
O que existe para lá disso então?


Existe algo que não conseguem agarrar, as noções do que é perfeitamente evidente para os outros.
Que quando Jacobo pede a Marta que finja ser sua mulher ela pareça subitamente tão feliz por, nem que seja a fingir, ter o papel que desejava à muito, enquanto que a atitude taciturna dele deixe claramente de parte qualquer possibilidade da farsa resultar.
Porque é disso que se trata, uma farsa a três, uma espécie de triângulo amoroso nascido e morto na viagem que iniciam.
O desejo de atenção de Marta, a falta de percepção de Jacobo e o desprendimento de Herman dão uma ideia errada a cada um dos outros dois.


Quando a viagem acaba, tudo acaba, sem mais ilusões, sem mais graça. O abandono é a forma de protecção de uma experiência que
Quando o filme acaba temos a certeza que nunca se reencontrarão a não ser quando um deles morrer.
É um triste alívio saber que estes tristes personagens não voltarão a viver tal embaraço pois também nunca escaparão ao seu destino alienado.
E os personagens lá permanecem enquadrados - encerrados, mesmo - nos seus espaços vulgares, quotidianos, tristes e vazios. Como desde o início, mas agora cada vez mais sozinhos.



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