À medida que os dias se vão sucedendo estamos cada vez mais próximos de encontrar o vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza (ou será que já o encontramos?). O quinto dia foi profícuo nos canais do Lido.
Tsui Hark, uma presença já habitual em Veneza, apresentou o seu D-Project. O D do título refere-se a Dee, um detective que investiga misteriosos casos de combustão espontânea a mando da imperatriz chinesa Wu Zetian. O filme apresentou-se como um épico de kung fu, emocionante e arrebatador a nível visual, confirmando a consolidação do cinema chinês neste campo, tal como também comprovado pela atribuição de um prémio carreira ao cineasta John Woo, no dia anterior. Quentin Tarantino, director do festival, é um fã confesso do cinema de Tsui Hark, pelo que é provável que o filme não passe indiferente no certame.
Da China para o Chile, encontramos Pablo Larraín, depois de este ano ter estreado em Portugal (com dois anos de atraso) o seu Tony Manero (2008). O realizador apresentou Post Mortem e voltamos mais uma vez ao universo chileno na período de Pinochet como presidente. O filme estuda o lado mais negro do ser humano com um requinte de terror e de uma forma bastante fria. Alfredo Castro volta a surpreender no protagonismo, enquanto que a crítica ficou também bastante rendida ao cinema rigoroso, chocante e brutal que encontrou.
Mas a grande surpresa do quinto dia terá sido um dos filmes que já havia referido aqui no blogue como uma das grandes promessas do certame. A realizadora Kelly Reichardt levou a Veneza Meek's Cutoff, já apelidado como um western contemporâneo, longe daquilo que o cinema nos mostrou na época áurea do género. A surpresa perante a crítica surgiu precisamente pela forma inovador com que um género foi desmontado, de uma forma difusa e atmosférica. É tido por muitos como um dos melhores filmes do certame até ao momento, o que só confirma o elevado nível de qualidade da realizadora que já nos trouxe obras como Old Joy (2006) e Wendy and Lucy (2008). Michelle Williams é apontada como a estrela maior do filme.
Mas o sexto dia em Veneza ficou marcado por uma proposta no mínimo bizarra e que terá deixado os cinéfilos e meio mundo de cabelos em pé no último ano. I'm Still Here é o documentário de Casey Affleck sobre Joaquin Phoenix - um dos actores mais promissores da sua geração - e a fase que o actor abandonou a carreira para se dedicar ao mundo musical enquanto rapper. O seu estilo lunático, bizarro fez correr muita tinta, gastou muitos teclados de computador pelo mundo inteiro, gerou conteúdo para programas de televisão e rádio. A questão que se levantou em Veneza foi a mesma que se gerou por todo o mundo: será este documentário verdadeiro? Ou será na verdade um mockumentary propositado, um dos maiores embustes de sempre? Por enquanto não sabemos a verdade - mesmo que na conferência de imprensa todos se tenham questionado e Casey Affleck tenha negado (Joaquin Phoenix nem se deu ao trabalho de aparecer, embora estivesse em Veneza) - mas o projecto foi visto como fascinante.
De notar também o candidato-surpresa deste Festival de Veneza (todos anos há um): a produção luso-chinesa The Ditch. O filme do realizador Wang Bing foi considerado um verdadeiro murro no estômago, de uma forma absolutamente visceral. Homens, vida forçadas, condenadas a trabalhos forçados e dada altura a plateia achava quase insuportável - no bom sentido - a forma brutal com que tudo era visto. O filme é um híbrido entre ficção e documentário e é uma das maiores esperanças do festival deste ano.
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