quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Wall Street, por Carlos Antunes


Título original:Wall Street
Realização: Oliver Stone
Argumento: Oliver Stone e Stanley Weiser
Elenco: Michael Douglas, Charlie Sheen, Hal Holbrook e Martin Sheen
Editora: LNK

Não tenhamos dúvidas de que Wall Street é um filme ideologicamente comprometido e, por vezes, limitado.
Isso não invalida a sua crítica ao capitalismo desenfrado assente unicamente no valor teórico do dinheiro.
Sem produção de valor de espécie alguma, o jogo aqui é demonstrado como a procura perpétua e sem regras de ganhar - apenas ganhar, não é necessário realmente o dinheiro a partir de um certo ponto.


Toda esta retórica seria a condenação de um cineasta fraco, coisa que Oliver Stone não é.
O seu filme ganha vida com um óptimo elenco e uma qualidade de diálogos inegável. O seu filme mostra-se raçudo ao colocar-se no meio das trincheiras monetárias.
Mesmo condicionado pelos três actos de um conto moral de que já se adivinha o resultado, Oliver Stone consegue envolver-nos e disfarçar alguma ingenuidade e alguns momentos titubeantes.


O jovem que persegue ferozmente a ambição escolhe o mentor absoluto do negócio em que se envolveu, Gordon Gekko.
Nota-se que o jovem é diferente do homem que o guia. Mesmo quando consegue boa parte do que deseja, há uma certa inocência que permanece. Inocência entendida como emoção humana concreta e inalienável.
Até porque a seu lado ele ainda tem duas outras figuras conselheiras, o pai, um trabalhador sério e representante da classe que desconfia do mercado do dinheiro, e Lou Mannheim, uma espécie de sábio conformado com a sua profissão mas inconformado com o que nela se passa.
Só que o lado malicioso é mais sedutor...


Mais sedutor ou não fosse Gordon Gekko uma das mais memoráveis figuras do cinema dos anos 1980, uma criação fantástica de Michael Douglas.
A sua frieza, o seu distanciamento humano e a sua amoralidade funcional são os símbolos maiores de um verdadeiro vilão.
E, no entanto, ele vê-se apenas como um homem a satisfazer os desejos que todos têm e que apenas ele é capaz de concretizar, por qualquer via e sem qualquer tipo de escrúpulos.
A ganância ganha corpo, os males humanos ganham forma. E são sedutores como não quereremos admitir.
Esse é o mais extraordinário trabalho de Douglas no filme.

Hal Holbrook e Martin Sheen ficam um pouco encobertos pela grandiosidade do papel de Douglas, mas são secundários de excepção e verdadeiros alicerces emocionais da história.
Eles contrariam o sentimento de sedução do "mal", tornando a história no tal conto moral, mas também dando-lhe um ponto de relação com todos o público que o filme pretendia elucidar.
O seu retrato de um mundo violento e perturbador continua a ser válido, continua a dar aos mais fracos um retrato compreensível das razões - senão mesmo dos métodos - como a economia daquele nicho funciona, mesmo que não possa ser encarado sem algum sentido crítico.
Quando estreou acertou num tempo que precisava de um filme assim, mas ciclicamente tem razão de voltar a ser visto.




EXTRAS

Comentário de Oliver Stone - Aqui cruzam-se as razões emocionais e ideológicas pelas quais Oliver Stone fez este filme.
Um pai que trabalhou a vida toda naquele meio e que era um mentor como a personagem de Hal Holbrook, a par de uma visão bastante severa da mecânica de Wall Street levam àquele resultado final.
Com os ensinamentos do seu pai, ele tem um trabalho a partir "de dentro", ajudando assim o comentário a melhor validade e entender as opções do filme.



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