quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O Rei da Evasão, por Carlos Antunes


Título original: Le Roi de L'évasion

O Rei da Evasão é, tão somente, um conto sobre identidade sexual.
Mas a sua existência confronta um violento realismo visual com um simbolismo perto da Fantasia.


Sem medo de mostrar a cru as relações que o protagonista mantém, o filme acaba por chocar o olhar mais habituado ao polimento.
O protagonista e os homens velhos por quem ele sente atracção estão à nossa frente, como depois estará o protagonista com uma menor.
A relação sexual é o mais normal e menos coreografada possível, a pregar-nos irremediavelmente à realidade.


Ele é um homossexual convicto e depois, num momento, ele torna-se o herói para uma rapariga prestes a ser violada - ou algo que assim parece.
A sua crise identitária começa aí. Ao contrário dos homens que nunca se assumiram e casaram para serem "normais", ele que sempre foi homossexual concretiza um dos muitos sonhos dos homens heterossexuais: dorme com uma bela rapariga muito mais nova.
Na sua meia idade sonha com família, filhos, um contacto físico que não aconteça numa estrada refundida.


Então foge e o filme foge um pouco com ele.
No percurso em que ele foge dos seus velhos desejos e da censura à sua nova relação, o casal corre pela floresta.
E há uma mitificação do espaço da floresta, por onde eles podem viver sem perturbações do mundo exterior.
A floresta é o espaço encantado para os amantes.


Não dura pois, como todas as crises e todos os espaços encantados, tudo se desfaz perante a verdade dos factos.
O filme nesse interregno "fantástico" perde-se um pouco. A crise, a acontecer em registo puramente realista, seria tão forte como o realismo anterior.
A ideia muito forte que o filme apresenta para a concretização da crise de meia idade e o seu confronto com a realidade social que não se repercute tão bem quando o filme tem dois olhares distintos.


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