segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Os Miúdos Estão Bem, por Carlos Antunes


Título original: The Kids Are All Right
Realização: Lisa Cholodenko

Perante uma família constituída por duas mães, cada uma delas tendo tido um filho por inseminação artificial, esperamos uma família obviamente disfuncional ou exemplarmente harmoniosa.
Por ser uma família nos antípodas da expectativa do "normal", ou os receios são confirmados ou os preconceitos virados contra nós.


Duas mães parecem complementares, cada uma compensa a rigidez ou a despreocupação da outra.
Resta ver até que ponto elas estão preparadas para enfrentar em conjunto o interesse - e depois o gosto - que os seus filhos têm pelo seu pai biológio, aquele que elas viam meramente como o "dador de esperma".
O convívio dos cinco não é idílico mas parece encaminhar-se para uma nova forma de família, cada vez mais peculiar.
Uma família que pode funcionar contra todas as chances.


É inevitável que isso não aconteça, claro, um elemento novo não pode encaixar perfeitamente, tem de haver fricção entre algumas das partes.
Nem que seja porque há uma acentuada resistência de Nic (Annette Bening) que não parece poder quebrar-se.
As barreiras que ela levanta ao estilo de vida de Paul parecem irredutíveis até que o genuíno sentimento humano a vence.
Claro que, nessa altura, já Jules (Julianne Moore) cedeu em demasiada à frescura da presença desse elemento novo.


Quando a possibilidade de felicidade surge, o drama abate-se sobre eles.
Nesse preciso momento o desapontamento abate-se sobre o espectador. Nesse momento revela-se, para lá de qualquer outra hipótese, a convencionalidade do triângulo amoroso.
Que o casal central seja lésbico não faz diferença para um qualquer casal heterossexual com uma relação desgastada.
Que o elemento que completa o triângulo seja o pai biológico dos filhos desse casal é o mesmo que fosse um estranho.


Claro que há uma perspicácia do argumento em manter a perspectiva sobre as personagens, em dá-las a conhecer bem. Sobretudo quando Bening e Moore estão perante a câmara a mostrar todo o seu talento.
Mas o argumento não se diferencia, apenas é mais um caso que se diferencia no ponto de partida para o banalizar.
Não que um casal homossexual deva ser mostrado como uma anomalia, mas pelas características únicas que este, em particular, demonstra, deveria proporcionar um desfecho igualmente singular.
Falta isso para que o filme crie uma impressão duradoura em nós e para que as actuações das suas magníficas actrizes sejam justificadas.


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