Há algo em que os ingleses são realmente os verdadeiros profissionais da área: mini-séries históricas. Mas a verdade é que, ao fim de algumas, a noção de repetição é demasiado grande para ser ignorada. E é aqui que entra Downton Abbey para mostrar que os ingleses também sabem quebrar com os estereótipos que eles próprios criaram.
Downton Abbey não cai no típico drama sobre uma família da nobreza britânica cuja grande preocupação é a honra e os títulos. Também não é uma série sobre a classe mais pobre que tenta lutar cada dia para sobreviver. É a história de uma grande família constituída por dois grupos: os nobres e os criados que habitam a abadia de Downton.
É exactamente aí que a série se destaca de todas as outras a nível de argumento. Afinal de contas, a maioria das séries históricas trata os criados como meros figurantes, normalmente encarregues por um elemento da família nobre de determinada função com maior ou menor importância para o desenrolar da trama. Seja a sua função a de espiar um outro elemento, de transportar missivas ou de vigiar a segurança de um qualquer evento, normalmente os serventes não passam de uma contextualização histórica em forma humana (excluindo a série Upstairs, Downstairs).
Em Downton Abbey, é impossível separar as vidas dos dois grupos, já que cada acção por parte de qualquer um tem consequências em todos os outros. É ao seu criado particular que o Conde de Grantham pede opiniões e é este que encara as filhas do conde como se fossem suas também. No fundo, os criados fazem parte da família porque desistiram das suas para poder servir na casa, quer ainda mantenham ambições de vir a sair de lá, quer não.
Contudo, a série não seria aquilo que é se não fosse também pelo elenco inacreditavelmente talentoso, do qual se destacam nomes como Maggie Smith (saga Harry Potter), Hugh Bonneville (Ben Hur), Jim Carter (Red Riding: In the Year of Our Lord 1983), Elizabeth McGovern (Kick-Ass), Michelle Dockery (Red Riding: In the Year of Our Lord 1974), Brendan Coyle (North & South) e Joanne Froggatt (Robin Hood).
A qualidade da banda sonora e da edição de imagem são mais pontos extra numa série ao qual dificilmente se terá algo a apontar, mesmo para quem não costume apreciar séries do género. A exactidão e recriação histórica complementam o argumento, contrariando a tendência actual de ignorar pormenores do género para apenas haver uma focalização no argumento.
Por tudo isto, Downton Abbey é a série histórica dos últimos tempos que mais se aproxima da perfeição e de uma mini-série que nos prende ao ecrã sem necessitar de grandes revelações e segredos. A mini-série já tem uma segunda temporada assegurada que deverá estrear no fim deste ano tendo, com o seu último episódio, assegurado a maior audiência da ITV para uma série estreante desde 2003 (cerca de 1/3 da audiência britânica).
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