terça-feira, 1 de março de 2011

Blue Valentine - Só Tu e Eu, por Carlos Antunes


Título original: Blue Valentine
Realização: Derek Cianfrance
Argumento:
Derek Cianfrance, Cami Delavigne e Joey Curtis
Elenco: Ryan Gosling e Michelle Williams

Há algo de elucidativo na forma como Blue Valentine filma em simultâneo o nascimento e a morte de um amor.
Algo de conclusivo que evita explorar as variações do período intermédio em que o amor estagna e se esgota - todas únicas mas, afinal, todas iguais - mas se foca nos períodos balizadores dessas histórias.
Estes são os períodos que são inevitáveis, comuns a (quase) todos os casais e aqueles com os quais temos de aprender a viver apesar de saber que ocorrem. Sem nos deixarmos iludir por um que acabará nem nos deixarmos atormentar por outro que chegará.


A sua existência simultânea no ecrã, intercalada no tempo, não nos deixa render a uma única noção.
Conseguimos seguir a magia do surgimento do amor sem que nos percamos numa alegria incontrolada. E conseguimos seguir a dureza do seu apagamento sem que nos sintamos emocionalmente devastados.
Sentimos sem nos apegarmos a qualquer das circunstâncias porque a cada momento forte temos o contraponto do momento oposto da relação.
Em vez de se negarem, essas oposições criam ressonâncias do que poderá ter ficado por dizer, por definir, já que tanto o "início" como o "fim" correm depressa demais.


Estes são os momentos de indefinição, os momentos em que se aceitam ou se recusam mais pedaços da própria relação para tentar que ela perdure.
Muito do que fica por discutir quando se começa por encontrar a alegria volta para assombrar com silêncios o seu desaparecimento.
As omissões parecem aqui menos graves mas têm os efeitos mais prolongados. As bases da vida conjunta e da vida de costas voltadas assentam em esperanças e não na revelação absoluta de cada um.
Tal como o próprio casal não tem a certeza nem da sua felicidade nem da sua miséria, também o espectador pode acrescentar algo ao que vê.


Isto seria uma montanha russa emocional, mais devastadora do que qualquer uma das situações a solo, não fosse a delicadeza de Derek Cianfrance.
Trata-se de um realizador delicadamente procurando a razão que justifique um olhar atento mas não invasivo.
Como um caçador de borboletas que quer reter o milagre das cores à distância dos olhos apenas por um momento antes de libertar de novo a vida ao seu domínio.


As suas borboletas são, claro, os dois magníficos actores que criam as personagens e a sua relação ao mesmo tempo que descobrem como se deixar filmar.
O grau de improvisação de ambos sente-se, a interacção real como a vida, os resultados imprevisíveis.
Michelle Williams tem um papel um pouco mais ingrato pois ela está ora desalentada ora desconfiada. E é de Ryan Gosling a determinação aplicada à procura do encontro e do equilíbrio entre os dois.
Mas eles são um corpo único de actores, pulsante e reactivo, em vias de desmoronar. Um caso claro em que a soma das partes é um ensemble a merecer reconhecimento.



2 comentários:

  1. Depois de ler toda a crítica (fabulosa como sempre) esperava uma nota mais elevada. Para mim este é já um dos melhores filmes do ano e a prova de que o cinema independente norte-americano é um dos melhores da actualidade.

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