Título original: Another Year
Realização: Mike Leigh
Argumento: Mike Leigh
Elenco: Jim Broadbent, Ruth Sheen e Lesley Manville
Mike Leigh é um dos mais revolucionários autores a fazer cinema por estes dias, apenas por filmar o que os outros rejeitam, pessoas felizes.
Era assim em Happy-Go-Lucky e assim é aqui. No filme anterior a sua protagonista era estuporadamente feliz e aqui os seus protagonistas são serenamente felizes.
Seja de que maneira for, há muito que não encontramos personagens assim no cinema, personagens que se afirmam sem ser pela angústia extremada.
Personagens plausíveis e de bem com a vida. Personagens que ninguém diria serem interessantes para sustentar um filme e que, no entanto, são das mais inesquecíveis a que temos acesso.
Tom e Gerri são duas personagens admiráveis, mesmo adoráveis (até por serem as primeiras a fazerem a piada com os seus nomes), e no entanto não são unidimensionais.
A sua aceitação da vida como ela surge, em vez da sua submissão a ela, não os torna ingénuos perante a realidade.
O acolhimento que estendem aos infelizes que orbitam em torno deles não está despojado de sentido crítico.
Eles são capazes de entregar aos outros o exemplo sereno das suas próprias vidas, mas não permitem que se aproveitem dele para os prejudicar.
Para se abraçar a felicidade não há que ser tolo nem humilhado. Não se trata de uma lição do filme, apenas uma forma simples de mostrar aquilo que o nosso sombrio cinismo tende a encobrir.
Era assim em Happy-Go-Lucky e assim é aqui. No filme anterior a sua protagonista era estuporadamente feliz e aqui os seus protagonistas são serenamente felizes.
Seja de que maneira for, há muito que não encontramos personagens assim no cinema, personagens que se afirmam sem ser pela angústia extremada.
Personagens plausíveis e de bem com a vida. Personagens que ninguém diria serem interessantes para sustentar um filme e que, no entanto, são das mais inesquecíveis a que temos acesso.
Tom e Gerri são duas personagens admiráveis, mesmo adoráveis (até por serem as primeiras a fazerem a piada com os seus nomes), e no entanto não são unidimensionais.
A sua aceitação da vida como ela surge, em vez da sua submissão a ela, não os torna ingénuos perante a realidade.
O acolhimento que estendem aos infelizes que orbitam em torno deles não está despojado de sentido crítico.
Eles são capazes de entregar aos outros o exemplo sereno das suas próprias vidas, mas não permitem que se aproveitem dele para os prejudicar.
Para se abraçar a felicidade não há que ser tolo nem humilhado. Não se trata de uma lição do filme, apenas uma forma simples de mostrar aquilo que o nosso sombrio cinismo tende a encobrir.
Esse sentido crítico forma-se porque nas suas vida pesam personagens que não conseguem serenar, que não conseguem encontrar satisfação em nada do que tiveram, deitando tudo a perder uma e outra vez.
A inesquecível Mary, sobretudo, por ser mais recorrente revela-se uma presença que excede o grau de disponibilidade que têm para lhe dar. Que deixa de merecer simpatia para exigir pena.
Para reconhecermos a felicidade precisamos de ver que em torno dela orbita muita tristeza.
Se bem que, por outro lado, há que reconhecer que a tristeza vem das expectativas sempre colocadas no ponto do impossível.
aceitação não é falta de sonhos ou desejos, mas a noção do ponto onde os colocar. Logo, a a felicidade pode parecer iludida, mas é a tristeza que nasce da desilusão.
São os sempre tristes que se destacam por excesso e não as personagens felizes, púdicas na sua interioridade pacificada.
A inesquecível Mary, sobretudo, por ser mais recorrente revela-se uma presença que excede o grau de disponibilidade que têm para lhe dar. Que deixa de merecer simpatia para exigir pena.
Para reconhecermos a felicidade precisamos de ver que em torno dela orbita muita tristeza.
Se bem que, por outro lado, há que reconhecer que a tristeza vem das expectativas sempre colocadas no ponto do impossível.
aceitação não é falta de sonhos ou desejos, mas a noção do ponto onde os colocar. Logo, a a felicidade pode parecer iludida, mas é a tristeza que nasce da desilusão.
São os sempre tristes que se destacam por excesso e não as personagens felizes, púdicas na sua interioridade pacificada.
Na verdade é difícil dizer quem são as personagens principais do filme. Mesmo quem tem menos tempo de ecrã tem uma presença inesquecível.
São todos actores servidos por personagens traçadas de forma cuidada e inteligente. E, por outro lado, são todos actores a servirem as personagens com o melhor da sua arte.
Jim Broadbent e Ruth Sheen são presenças majestosas, mestres que não deixam transparecer como é que definem tão bem as personagens que encarnam mesmo quando parecem não fazer nada.
No sentido oposto, Lesley Manville e Peter Wight têm de viver personagens mais convulsas e, por acréscimo, inoportunas. Mas dão-lhes dignidade e atraem-nos para um reconhecimento de pura empatia humana. A sobriedade externa do frenesi interno é o seu triunfo.
No sentido oposto, Lesley Manville e Peter Wight têm de viver personagens mais convulsas e, por acréscimo, inoportunas. Mas dão-lhes dignidade e atraem-nos para um reconhecimento de pura empatia humana. A sobriedade externa do frenesi interno é o seu triunfo.
Se disse de A Rede Social que é exemplar como escrita para cinema, tenho de dizer de Um Ano Mais que é exemplar como escrita.
Dividido em quatro Estações/actos/capítulos, poderia perfeitamente ser uma peça de teatro ou um livro.
É o filme mais bem escrito de 2010, um texto que seria igualmente eficaz se estivesse nas mãos de um leitor e não na presença destes actores.
Felizmente, tanto pela vida que os actores ainda acrescentam ao texto, como pela dimensão que Mike Leigh lhe como realizador ao material que escreveu, é preferível ver este argumento assim, num ecrã.
Dividido em quatro Estações/actos/capítulos, poderia perfeitamente ser uma peça de teatro ou um livro.
É o filme mais bem escrito de 2010, um texto que seria igualmente eficaz se estivesse nas mãos de um leitor e não na presença destes actores.
Felizmente, tanto pela vida que os actores ainda acrescentam ao texto, como pela dimensão que Mike Leigh lhe como realizador ao material que escreveu, é preferível ver este argumento assim, num ecrã.
Depois de ter recentemente (e finalmente) visto Segredos e Mentiras, apetece-me dizer que Mike Leigh regressa aos filmes que sabe criar melhor. Filmes que se apoiam no realismo para elevar personagens e situações, sempre descritas da forma mais inteligente e contundente. Regressa e sempre de forma melhorada.
Para mim não restam dúvidas, Um Ano Mais é um dos filmes que mais foi ignorado, entre público e crítica, mas um que mais retornará como citação influente do Cinema futuro.
Se havia um filme Britânico que Hollywood devia consagrar como prova daquilo que deseja mas não sabe fazer, era este.
Para mim não restam dúvidas, Um Ano Mais é um dos filmes que mais foi ignorado, entre público e crítica, mas um que mais retornará como citação influente do Cinema futuro.
Se havia um filme Britânico que Hollywood devia consagrar como prova daquilo que deseja mas não sabe fazer, era este.
Um dos meus favoritos do ano.
ResponderEliminarE meus também! :D
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