sábado, 16 de abril de 2011

O Código Base, por Carlos Antunes


Título original: Source Code

Duncan Jones, depois do magnífico Moon, voltou a filmar a exploração do ser humano como matéria-prima à qual foi extraída qualquer valor adicional dado pela sua condição de ser pensante e emocional.
A crítica continua a percorrer a mesma temática, construindo cenários de ficção científica onde se materializa uma evidência corrente, da desumanização da máquina laboral.
Ao mesmo tempo que explora a componente crítica do género, adiciona-lhe outros temas que aproveitam o sentido de diferenciação da realidade do Universo criado. Uma diferenciação que gera a reflexão cognitiva perante um esforço de criação que seja, também, uma forma de abstração do realismo quotidiano.
Neste caso estão em campo os paradoxos temporais e os universos alternativos, mas também o funcionamento do cérebro como memória funcional em combinação com um computador.
Olhando para estes temas - e para a forma como são manipulados, como veremos depois - ficamos com material para nos interrogarmos sobre as possibilidades e constrições destas hipóteses imaginadas.


Tornando o material num thriller enérgico, a tempos mesmo frenético, que estica a linha de credibilidade das hipóteses que servem de base ao que se passa.
Isso gera o entretenimento esperado mas promove igualmente o sentido crítico perante as grandes questões do filme.
Dito isto, é também verdade que o filme não abusa de efeitos especiais ou acção desmedida.
O controlo do suspense é a grande arma emocional que o filme tem para usar com o público.


A dimensão pessoal continua a ser essencial para Duncan Jones e, por isso, acresce à história central uma angústia humana importante. Algo que também já vinha do seu primeiro filme, mesmo que aqui tenha deixado de ser o cerne do filme para se tornar num importante acessório que adensa o significado do argumento.
Angústia bem interpretada por um Jake Gyllenhaal cada vez mais versátil, aqui como um homem ainda comprometido com uma missão apesar de lhe terem retirado uma realidade cognitiva reconhecível e o livre-arbítrio.
Duas questões que parecem desnecessárias a quem o tornou num recurso e lhe deixou apenas a ilusão de humanidade.


Na soma destes atributos, o filme não chega a ser tão ousado nem tão sólido como Moon. Mas, para um filme obrigado a ter um final feliz para satisfazer a máquina da Indústria, é desafiador e inteligente como poucos.
Vale a pena encher as salas para ver um filme assim,que, acima de tudo, aproveita um grande talento sem o comprometer.


2 comentários:

  1. Vou vê-lo hoje, estou com uma curiosidade descabida! Excelente texto ;)

    Sarah
    http://depoisdocinema.blogspot.com

    ResponderEliminar
  2. De facto, acho que o grande trunfo de Duncan Jones é parecer trazer novos ares a uma categoria tão empoeirada por acção explosiva e dilema bem-mal como a ficção científica. O filme deixa um sabor meio que áspero na boca, mas activa sentidos que este género me levou nos últimos tempos a deixar adormecer. Moon e este já me fizeram acreditar que o futuro será certamente promissor. Espero que a moda pegue e a sci-fi deixa de ser uma clockwork pop

    ResponderEliminar