sábado, 16 de abril de 2011

Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro, por Carlos Antunes


Título original: Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro
Realização: José Padilha
Realização:
José Padilha
Elenco:
Wagner Moura, Irandhir Santos e André Ramiro

O que Tropa de Elite tinha a seu favor é o que Tropa de Elite 2 tem contra si.
O primeiro era crítico por ser honesto. Já este é desonesto por ser primeiro crítica e só depois cinema.
O primeiro era uma demonstração da situação global a partir de uma narrativa individual. Este é a expressão novelesca de uma realidade que vai conduzindo as suas personagens a um destino predeterminado.


Não quero com isto dizer que José Padilha esteja a deixar de lado as características que tornaram o primeiro filme num sucesso. Aliás, o sucesso do segundo filme é prova disso mesmo.
Ainda há uma lição em violência incómoda e uma crítica incisiva a extremos opostos da sociedade.
Procurando a percepção directa e não filtrada da dureza partilhada entre polícia e criminosos, bem como a hipocrisia do discurso radical (de formas distintas) tanto da intelectualidade liberal como da política opressora, o filme mantém parte do seu registo dinâmico e da sua secura fílmica.


Mas o que antes era consequência de uma opção cinematográfica e narrativa, aqui torna-se motivação.
A longa montagem de um cenário de demonstração para ataque organizado a uma classe política que, em todos os pontos da sua estratificação, está corrompida é um filme que só em parte precisa da narrativa do BOPE.
José Padilha, só em parte, aproveita a singularidade de um universo com o qual nos tinha familiarizado antes e no qual devíamos agora poder vaguear.
O seu foco nesta situação torna a história do filme, em grande parte, irrelevante para o público estrangeiro, muito porque não aproveita a sua personagem forte para fazer a ligação entre o que é uma realidade apenas brasileira e o que é uma ligação humana universal.


A presença de Wagner Moura continua com a mesma relevância. Ou chega mesmo a acentuar-se.
Ao peso da sua missão acrescentou o peso do tempo e da decadência que o acompanha e que o Capitão Nascimento não pode parar.
Por isso ele não merecia surgir agora como figura secundária na novela que coloca o seu principal adversário social - um defensor dos direitos humanos que o acusa abertamente de ser um assassino - como figura parental substituta na vida do filho dele.
Não merecia isso nem ser usado como fantoche num retrato de um suposto realismo da podridão do sistema política e policial do Brasil.
Não merecia que a personagem que criou fisicamente terminasse por ter a sua coerência comprometida por uma acção moralista oposta à essência da sua personalidade.


Quando chega ao final, um discurso do Capitão Nascimento perante os deputados, vemos a versão possível de Mr. Smith Goes to Washington num país onde se tornaram famosas as performances iradas de Cidinha Campos.
Depois vem uma panorâmica de Brasília, para reafirmar que esta ficção é a realidade mal disfarçada.
A manipulação está no seu ponto máximo mas falha, pois o filme foi embuído de uma missão final que rasga com o que a precedeu.
José Padilha pode ser tremendo na secura das suas cenas mais realistas mas não é um manipulador eficaz que consiga criar o ambiente que nos conduza ao clímax daquela cena de oratória que na sua ilusão contradiz o que veio antes.
Que no último momento queira fazer crer que a honestidade pacífica pode funcionar melhor do que a violência cerrada para despertar a atenção das pessoas é um logro que ninguém aceita.



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