sexta-feira, 15 de abril de 2011

Tropa de Elite, por Carlos Antunes


Título original: Tropa de Elite
Realização:
José Padilha
Argumento:
José Padilha e Bráulio Mantovani
Elenco:
Wagner Moura, Irandhir Santos e André Ramiro

Tropa de Elite destacou-se do restante das produções brasileiras que chegaram até nós porque não se apresentava como uma continuação da ideologia da televonela ao cinema, mascarada por mero estilo.
Tropa de Elite conseguia traçar a sua história como uim retrato realista - mesmo se intensificado pelo cinema - a partir de um simples dilema pessoal nascido de um meio único que era, ele próprio, uma descoberta para o público.


O dilema entre o bem familiar e o bem nacional é um tema conhecido mas contado aqui com uma energia que não reconhecíamos a mais nenhuma circunstância.
De dentro da polícia mais bem treinada do mundo - e, pela aparência, uma das mais determinadas e exigentes - nasce um relato que não deixa de conter nuances inesperadas de riso e esperança no seio da sua inapelável violência.
A dramática progressão e regressão dos eventos é contada com uma voz narradora opressiva mas que é incisiva na transmissão da compreensão do peso com o qual vive o Capitão Nascimento.
Ele que, pelo sua personalidade, interfere com a visão primária dos eventos, acrescentando-lhes as nuances referidas.


O trabalho é, no essencial, de Wagner Moura. Ele, fio condutor, um homem curvado pelo peso de cada uma das suas acções, tem tanta necessidade de fugir ao seu trabalho como de permanecer nele até encontrar um sucessor à altura: alguém que seja tão eficaz e tão resistente como ele é.
Ele que não se rende e nem dá descanso a ninguém, que lida com os problemas embrenhando-se no que faz, quer passar o testemunho, sabe que a família o exige, mas não consegue desresponsabilizar-se nem condenar mais alguém à sua condição.
A interpretação de Moura é feita de violência carregada debaixo da pele. Violência que ele não deixa explodir senão num ambiente que domina e em que se sente justificado. Mas se pudesses, ele tomaria todo o mundo como inimigo e nem mesmo assim seria suficiente para apaziguar o que sente.


No essencial, trata-se de um desafio de moralidade e humanidade no interior de um sistema de confronto de exigência altíssima.
A violência é muita, é feroz e focada, é inescapável. Mas não é o essencial do que ocorre na BOPE.
Trata-se de orgulho na pertença a um grupo, trata-se de altivez pela superação da exigência física e moral e trata-se de conhecimento da sua distinção no comportamento diário e na acção bélica ocasional.
As acções desta polícia são contestáveis, mas poucas vezes causam prejuízo a quem não é um alvo.


O que o filme não faz é uma apologia do BOPE, uma defesa estética do seu comportamento violento.
Isto não é uma manipulação fácil dos sentimentos mais evidentes de empatia humana.
Cada um actua como tem de e como julga que deve actuar. Eles aceitam-no por se tornarem na barreira de consciência do povo.
A exigência de "acabar com o tráfego" e a "defesa dos direitos humanos" são incompatíveis mas exigidos, a tempos diferentes, pelas mesmas pessoas.
Tropa de Elite é crítico com todos os lados da equação social por simplesmente não ter medo de retratar a seco a realidade da força do seu grupo policial.


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