sexta-feira, 13 de maio de 2011

Cannes 2011: Dia 2 e 3



A grande surpresa do segundo dia do Festival de Cannes veio dos Estados Unidos. Adaptado de um livro homónimo de Lionel Shriver, We Need to Talk About Kevin estarreceu a Riviera Francesa. O drama de uma mãe entorpecida pela dor e pela relação conturbada com o filho que mais tarde cometerá um massacre numa escola. Grande parte da crítica manisfestou-se «massivamente afectada» pelo filme, descrevendo-o como um «pesadelo inquietante», «poderoso» e «desafiante», não se esquecendo de elogiar o trabalho «visualmente esplêndido» da realizadora Lynne Ramsay. Mas também e especialmente é o trabalho dos actores que tem sido elogiado. À parte de uma personagem algo vaga como a de John C. Reilly (fiel ao livro), encontramos a fantástica Tilda Swinton com uma prestação dilacerante «na sua melhor forma» e há quem se arrisque a adiantar um evental «prix d'interprétation feminine». Não esquecer ainda Ezra Miller (Afterschool) num desempenho «convincentemente assustador». (Curiosamente a crítica portuguesa teve a reacção oposta, chegando a designá-lo como «péssimo»).



A abrir a secção Un Certain Regard, Gus Van Sant dividiu as opiniões. Embora Restless tenha sido visto como um «doce romance» que «reentra na órbita do mainstream», o argumento tem sido acusado de ser «muito linear», «superficial» e muito «polido». No entanto, a história integra-se no chamado novo romantismo, com destaque para o trabalho fotográfico de Harris Savides, o talento de Mia Wasikowska e a revelação que é Henry Hopper (filho do falecido Dennis Hopper).



Outro dos filmes exibido em Cannes foi prata da casa. Polisse, da actriz e realizadora Maïwenn Le Besco, não convenceu o suficiente. Embora haja quem considere este thriller sobre a protecção de menores «uma inesperada jóia», «emocionante, chocante e comovente», a maioria não compartilha dessa opinião. Alguns acusam-no de ser «demasiado demagógico», de ser longo demais sem ir a lado nenhum, comparando-o a um episódio piloto de duas horas de uma qualquer série televisiva policial e questionando a sua participação na competição oficial de Cannes.



Ao terceiro dia, Nanni Moretti regressou a Cannes com Habemus Papam. A crítica mostrou-se satisfeita com o mais recente filme do actor e realizador italiano, afirmando que esta é «uma bela reflexão sobre o poder e a solidão», sendo simultaneamente uma «comédia inteligente» numa inesperada combinação «filosofia/comédia». Embora o tom satírico seja elogiado, muitos criticam o facto de ser menos que o esperado e afirmam que este poderia ser mais irreverente, à semelhança de Il caimano (2006). Contudo o sentimento geral é que este é um filme «simpático», não faltando comparações como «a versão italiana de The King's Speech».

Outra surpresa do dia veio da Austrália, desta vez na secção Un Certain Regard. Toomelah segue o olhar de uma criança de 10 anos numa comunidade aborígene naquele que dizem ser um «bom estudo observacional» ou a «resposta aborígene a Winter's Bone», mas com algumas limitações a nível comercial, como a duração excessiva e com falta de força. Já o mexicano Miss Bala é melhor que o esperado, por ser um «drama sobre tráfico de droga pouco convencional» e «uma tensão bem sucedida», mas sofre simultaneamente dos clichés do género. Cannes também teve a oportunidade de receber a longa-metragem brasileira Hard Labor, descrita como «um ambicioso primeiro trabalho», um filme com «elementos de terror revolucionam um conto realista sobre uma família brasileira de classe média que enfrenta dificuldades económicas».



Já o candidato à Palma de Ouro, do sul coreano Kim Ki-Duk, o documentário Arirang foi visto como um «relato pouco convencional sobre a sua crise como realizador», «um auto-retrato depressivo». O documentário fala sobre os últimos três anos de vida do cineasta onde após um grave problema durante a rodagem da sua última longa-metragem, o cineasta acabou por se isolar e viver como um eremita nas montanhas de Arirang. Três anos de «uma terrível introspecção artística» e uma «verdadeira depressão solitária». O cineasta chorou ao assistir ao seu próprio filme.

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