quinta-feira, 23 de junho de 2011

A Águia da Nona Legião, por Carlos Antunes


Título original: The Eagle
Elenco: Channing Tatum, Jamie Bell e Donald Sutherland

Não sei se será por embirração minha com Channing Tatum ou porque os filmes que protagoniza (e que eu chego a ver) são vendidos como "acção descerebrada", mas acabo por nutrir por The Eagle o mesmo sentimento que por Fighting, ou seja, o filme do qual esperava vir dizer mal é um filme que sinto que merece a minha defesa.
Trata-se, muito simplesmente, de uma aventura sobre camaradagem e lealdade que tenta disfarçar o destino dos seus dois personagens entre traições e novas reviravoltas.
Não consegue, pois sabemos que o apanágio de Hollywood é terminar este género de filme com uma mensagem positiva (também pelo facto de ser baseado num livro destinado a um público juvenil).
No entanto, pelo caminho, não deixa de ter uma mensagem razoável sobre a elevação do entendimento humano sobre a ténue diferença que existe entre um homem da classe mais elevada e um escravo ou entre um povo conquistador e o considerado selvagem.
O momento preponderante do filme é a inversão de papéis, quando Channing Tatum se torna escravo de Jamie Bell. A delonga desse estado de coisas faz Bell perder o crédito de simpatia que vinha ganhando com o público e coloca a nú algum do sentimento de superioridade de Tatum que a dureza da viagem não apagou.
Como já disse, esse é o momento de transformação e não um momento de verdadeira dúvida, mas acaba por ser um período bastante mais breve do que o percurso tenso que os dois têm de percorrer.
Enquanto não precisa de chegar à moral exemplificativa, o filme consegue mesmo ser convincente e interessante. E ainda volta a sê-lo depois disso.
As duas mais significativas cenas de batalha, a abrir e a fechar o filme, estão bem montadas com boa utilização da diferença de estilos entre os dois tipos exércitos - o romano organizado e o aparente caos eficaz do povo que os enfrenta - pelo que não vejo razão pela qual nao se possa apreciar este filme se se admitir que a história será menos aprofundada do que poderia.
Não tanto pela dinâmica entre os dois protagonistas, mas mais pela interessante caracterização da tribo que captura os heróis que tem uma crueldade - derivada de uma ideia de lealdade oposta à dos protagonistas - superior à funcionalidade que se esperaria dela - por momentos parece ser tal e qual uma tribo índia num western de mentalidade limitada.
Não sendo um filme com personalidade para se afirmar entre o público mais exigente, é pelo menos agradável e consistente.
Só estranho que acabe com uma cena que parece prometer uma sequela ao estilo cómico do herói e sidekick de alguma animação dos anos 1950. Mas o que veio antes lá impede que lhe leve isso a mal.

 

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